Prólogo

859 63 13
                                    


Espanha, outubro de 1535

Tudo parecia perfeito enquanto os guardas faziam a ronda pelo palácio. Mas o que eles não sabiam é que uma verdadeira serpente venenosa entraria no palácio a qualquer momento. Frederico ficou exilado durante sete anos apenas esperando o momento para seguir com seu plano. Ele não tinha digerido muito bem a humilhação que recebeu na frente de todos quando finalmente ia ser coroado o rei da Espanha. As coisas estavam seguindo da forma como ele planejara, o rei e rainha haviam sido mortos sob o comando dele, e como Elena estava longe na Escócia, ele conseguiu persuadir os conselheiros de que ele seria uma pessoa melhor para o cargo, já que ela não estava naquele momento, e o pior era apenas uma mulher e jamais conseguira comandar a Espanha. Eles caíram na conversa dele facilmente, e nem ao menos desconfiariam que ele tinha coordenado o plano de matar o rei e a rainha. Todos achavam que aquela emboscada era culpa de rebeldes, e Frederico se sentia no topo do mundo, como um verdadeiro Deus, só que sua felicidade durou pouco tempo. Antes que a coroa fosse colocada em sua cabeça Elena retornou e o impediu de prosseguir com a coroação, ele ficou a ver navios novamente, e sem nada do que sempre sonhou.

Sua raiva foi tanta que ele poderia matar quem quer que surgisse em seu caminho, mas ele procurou se manter calmo, e se manteve longe da Espanha por um tempo para acalmar os ânimos. Demorou dois anos para que ele tentasse um novo contato com Elena, a Espanha estava em festa naquele dia, a primeira filha dela e de Philip tinha nascido a poucos dias e Frederico resolveu pedir desculpas a Elena para que conseguisse se manter perto da família novamente. Ela não o perdoou pelo que ele fez, mas deixou que ele voltasse a frequentar o palácio e aquilo era tudo que ele precisava. Ele então planejou um novo plano, só que este demorou cinco anos para que ele pudesse pôr em prática. A menina Maria agora tinha quase cinco anos, e Elena precisava viajar até a Escócia junto de Philip, e Maria ficou no palácio sendo cuidada pela governanta de confiança.

Frederico aproveitou aquele momento frágil para finalmente conseguir o que tanto almejava. Ele esperou que a noite chegasse e ele e seu capanga seguiram até o palácio. Frederico pediu que ele parasse a carruagem quando eles se aproximaram do palácio, o homem soltou as rédeas dos cavalos e desceu da carruagem para conversar com ele.

Você entendeu tudo? Quer que eu lhe explique novamente? - Frederico perguntou ao capanga.

O homem assentiu.

— Você já me explicou tudo diversas vezes Frederico. Entramos no palácio, eu bato na cabeça da governanta com o ferro e você pega a menina. Saímos por uma das passagens secretas para que ninguém nos veja e bem... depois saímos rápido daqui.

— É isso, e pode ter certeza que você será muito bem recompensado. Mas... acho que precisamos de um álibi melhor para quando eu chegar no palácio.

— Não sei se entendi o que quer dizer. - Disse o homem com cenho franzido.

— Me dê um soco no rosto. Quando chegarmos no palácio você diz que viu um bando de rebeldes tentando me matar, os guardas vão permitir nossa entrada na hora.

— Você tem certeza disso?

— Claro que sim. Vá logo com isso.

O homem assentiu ainda desconcertado, mas fez o que Frederico ordenou e lhe deu um soco na cara com força. Frederico fez uma careta de dor, mas se fez de forte e não reclamou, na verdade ele sorriu feliz ao ver o pingo de sangue em sua camisa, aquilo significava que o plano ia dar certo.

— Quando todos estiverem ocupados tentando entender o que aconteceu comigo você segue por onde combinamos e entra no quarto da princesa sem ser visto. Bata na cabeça da governanta e a pegue, eu darei um jeito de sair de lá para encontra-lo aqui novamente.

O homem apenas assentiu e eles seguiram até o palácio, quando viram um guarda se aproximando deles a encenação se iniciou.

Precisamos de ajuda, por favor! O senhor Frederico sofreu um atentado a poucos metros daqui. - Gritou o homem.

O guarda se aproximou deles, e olhou Frederico com preocupação.

— Eles bateram feio em você, mas o que foi que aconteceu exatamente? - Perguntou o guarda.

— Eu o encontrei machucado, e vi os rebeldes fugindo. Pelo que parece os rebeldes tentavam se aproximar do palácio se aproveitando da ausência do rei e da rainha.

— Vamos ficar atentos, mas entrem, o senhor Frederico precisa de cuidados.

Frederico assentiu, mas sorria por dentro.

Eles andaram em direção ao palácio e enquanto o guarda foi em busca de alguém para ajudar, o capanga de Frederico foi para o andar de cima. Ele seguiu tudo que Frederico tinha lhe ensinado e encontrou logo o quarto da princesa. Ele se escondeu quando guardas se aproximaram e esperou que eles passassem pelo corredor para continuar, quando finalmente teve a chance seguiu pelo corredor e abriu a porta do quarto da princesa. A governanta dormia em uma cadeira ao lado da cama da menina, e Maria dormia também como um pequeno anjo. A marretada na cabeça da governanta foi certeira, e ela caiu no chão completamente desacordada. O barulho acordou Maria que olhou para o homem completamente assustada.

O que faz aqui? Quem é você? - Perguntou a menina.

O homem colocou o dedo indicador na boca e se aproximou de Maria, ela tentou fugir, mas foi em vão. O homem então colou em seu nariz um lenço com uma substancia que a fez desmaiar rapidamente. Ele a enrolou em um lençol e seguiu pelo corredor em busca da passagem secreta que Frederico havia dito. Após andar por algum tempo ele encontrou a estante de livros de madeira que tapava a tal passagem. Afastou-a e correu pelo corredor estreito até encontrar a saída. Quando finalmente saiu do palácio ele andou pela mata por um certo tempo até encontrar a carruagem, e ao lado dela avistou Frederico.

Finalmente você apareceu, achei que havia sido pego. - Reclamou Frederico.

— Não foi fácil sair de lá sem ser visto.

O homem colocou Maria dentro da carruagem deitada no banco e fechou a porta, Frederico o olhou em expectativa, sem saber se o homem seguiria com o que ele pretendia propor.

— Existe uma outra parte do plano que não lhe contei.

Que outra parte?

— Você só receberá o dinheiro combinado se matar a menina.

O homem o olhou com horror. Uma coisa era sequestrar, outra completamente diferente era matar, e ele nunca tinha feito isso.

— Você me contratou para sequestrar a menina, nunca mencionou que eu teria de matá-la.

— Vai se fingir de bom moço agora? Suma daqui e a mate bem longe, depois dela será a vez de Elena e eu serei o rei da Espanha.

Ele não queria matar Maria de forma alguma, mas sabia bem que se deixasse a criança com Frederico ele sim faria o pior, então o homem decidiu fingir que concordava com aquela coisa sórdida.

— Vou fazer o que pediu.

Frederico assentiu, e o homem subiu na carruagem para conduzi-la. Frederico sorriu contente ao ver que distante de onde estava, a carruagem perdia o controle e caía no barranco. Ele antecipou que seu capanga não ia querer matar a menina então sabotou uma das rodas da carruagem.

O homem se desesperou ao ser arremessado ladeira a baixo, ele caiu em cima de algumas pedras e bateu a cabeça ao chegar ao chão. Morreu na mesma hora. Já Maria bateu a cabeça na madeira maciça da carruagem e aquele pequeno detalhe ainda a manteria viva, mas a deixaria sem as memórias de sua vida. A carruagem se quebrou em algumas partes, mas os cavalos fizeram com que a maior parte dela permanecesse intacta. Um casal que morava próximo do local ouviu todo o barulho do acidente e correram para ver se alguém tinha sobrevivido. Ao abrir a porta da carruagem eles viram apenas a menina, a tiraram de lá levando-a para a casa deles. Eles cuidaram da menina como se fosse filha deles, deram tudo que podiam, inclusive amor, e resolveram cria-la já que ela não se recordava de quem eram seus pais. Os anos se passaram e Maria agora se chamava Clara, uma linda mulher que era cobiçada por muitos, mas que somente queria um futuro melhor, e principalmente, ela queria descobrir quem ela realmente era, o que ela não espera é que na verdade era a princesa perdida que o rei e a rainha tanto buscavam. 

A Princesa Perdida (Livro 3)Onde histórias criam vida. Descubra agora