Capítulo 1 - Oportunidade do destino.

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Espanha, outubro de 1550

Maria Clara de Bourbon-Stuart

Eu sorri enquanto observava os meninos arremessando as pedras pequeninas no rio, eles apostavam um com o outro quem arremessava mais longe e se empolgavam mais a todo momento. Olhando aquela cena me recordei do que tinha acontecido a tanto tempo atrás. Eu ficava pensando sempre como teria sido a minha vida se não tivesse sido encontrada por meus pais adotivos, eu era tão pequena, tão indefesa. Tinha apenas cinco anos e já me deparei com a morte bem de perto, se eles não tivessem me ajudado sabe Deus o que poderia ter acontecido. Eu agradecia a eles quase todos os dias por me amarem como filha deles, mas ao mesmo tempo eu tinha um vazio eterno tanto em minha mente quanto em meu coração. Eu não me lembrava de nada sobre o meu passado, quem eram meus verdadeiros pais, e o que aconteceu para que eu estivesse naquela carruagem que acabou caindo no barranco e causando o acidente. As perguntas que eu tinha pelo que parecia jamais teriam respostas e eu já tinha me conformado com isso, ou ao menos me fazia acreditar nisso.

Eu adorava a minha vida, e não me importava por viver de forma humilde, mas a verdade é que eu queria dar uma vida melhor para os maus pais, meu pai trabalhava no palácio como basicamente um faz tudo, ajudava no que podia, e eu pretendia conseguir um emprego lá para ajudar em casa, eu lavava roupas de alguns comerciantes de nossa região, mas o que eu ganhava fazendo isso não era suficiente, eu ia trabalhar duro, mas ia conseguir tudo por meu próprio esforço, não me passava pela cabeça fazer um casamento somente para ficar nas sombras de meu marido para que ele trabalhe e cuide de tudo, eu sabia bem que boa parte das mulheres ficavam horrorizadas quando eu falava o que pensava, mas era a mais pura verdade. E não me faltavam propostas, na verdade isso era constante, mas eu sabia bem que um casamento me colocava em uma posição em que só ia me tornar alguém inútil que só serve para procriar e o pior, me deixaria longe dos meus pais.

Clara, você veio cedo hoje lavar as roupas nem a vi sair de casa. - Ouvi minha mãe dizer.

Olho para ela, seus cabelos longos eram uma mistura de fios pretos e grisalhos, os olhos dela eram tão azuis quanto as águas do mar e eu a amava mais do que tudo nesta vida.

— Eu não quis acordar a senhora e o papai, ele voltou tarde do palácio ontem. E eu tinha algumas encomendas que precisam ser entregues logo. Ainda bem que hoje está fazendo sol e as roupas de dona Amélia logo vão secar.

Ela sorriu.

— Você é como um anjo em nossas vidas, mas não é preciso que se esforce tanto. Há um mundo lá fora a sua espera, você precisa viver sua vida.

— Nós já conversamos antes sobre isso, pretendo trabalhar no palácio, a senhora sabe que no fim do ano abre vagas para arrumadeiras, e eu vou trabalhar nisso e mandar o dinheiro para a senhora e o papai. Não quero que ele fique trabalhando tanto, e muito menos a senhora. Eu posso fazer isso.

Ela sacudiu a cabeça.

— Você é nossa filha, e trabalhamos tanto porque queremos dar o melhor para você.

Eu deixei as roupas de lado e me levantei, beijei suas mãos e sorri para ela.

— Eu sei disso, mas acontece que agora chegou a minha vez de retribuir tudo que fizeram por mim, vocês salvaram a minha vida, nada do que eu fizer é o bastante para pagar tudo que vocês vem fazendo por mim, e é por vocês que me esforço tanto, eu vou fazer de tudo para conseguir dar uma vida tão boa quanto a que a rainha Elena tem.

Foi a vez dela de sorrir.

— Eu tenho certeza que você irá conseguir tudo que deseja, mas não esqueça de pensar um pouco em você também. - Ela tocou meu rosto com carinho. — Venha, vamos estender estas roupas.

A Princesa Perdida (Livro 3)Onde histórias criam vida. Descubra agora