– Mas como ele conseguiu entrar?
– Eu não sei, Vossa Majestade.
– Onde estavam os guardas, alguma notícia deles?
– Não, Vossa Majestade.
– E os servos que estavam pelo corredor? Ninguém viu nada?
– Interrogamos todos, ninguém parece saber de nada.
– Quantas pessoas chegaram a vê-lo, na verdade?
– Somente Vossa Alteza, e... bom, você sabe.
– Maldito!
O silêncio desconfortável que se instalou pela sala após a última fala do rei só foi quebrado após uma das cadeiras em minha frente, opostas à mesa de reuniões, ser ocupada por ele. Levantei minha cabeça para encarar todas as perguntas que ele gostaria, obviamente, que eu fosse capaz de responder.
– Camila. – Ele disse esfregando os olhos lentamente com a ponta de seus dedos, provavelmente na intenção de afastar o cansaço que visivelmente estava instalado em seu rosto. – Eu sei que você passou por muita coisa desde que anunciamos o noivado.
Antony, que até então estava em pé, resolveu se sentar na cadeira ao lado do rei, fazendo com que os dois ficassem frente a mim.
– Precisamos saber de tudo que você lembra. – Disse o primeiro ministro. – Para que possamos achá-lo.
Eu me lembrava de tudo desde que o espelho caiu de minha mão e o vidro quebrado se espalhou pelo chão. Na verdade eu lembrava de tantos detalhes, coisas tão insignificantes que não haveria a menor necessidade de falar.
Eu lembrava dos fios de ouro que reluziam entre os enfeites do colete azul que ele usava. Lembrava de como o banheiro estava mal iluminado, com diversas velas apagadas.
Lembrava principalmente do pano que ele colocou dentro da boca dela, que impedia que ela conseguisse soltar qualquer som.
– Camila. – Disse meu pai. – Por favor.
– Ele a matou sem a menor necessidade. – Falei ríspida.
Os dois homens me olhavam firmemente, cansados, exaustos.
– Ela era tão jovem. – Falei olhando para cima na intenção de segurar as lágrimas. – Ele saiu pela porta da frente. – Olhei para eles. – Lentamente. Como quem tinha certeza que não iria ser pego.
– Algo mais? – Falou Antony, enquanto aproximava sua cadeira da mesa.
– Eu não sei. – Falei colocando as mãos sobre meu rosto, enquanto respirava fundo, sentindo o ar enchendo meus pulmões e depois saindo de meu corpo. – Eu não faço ideia pra onde ele foi, eu não sei o que vocês esperam que eu diga! – Falei colocando as mãos em cima da mesa.
– Minha filha. – Disse o rei. – Qualquer coisa que possa nos ajudar. Queremos resolver isso tanto quanto você.
– Ele possui contatos dentro e fora da corte, e isso é a única coisa que eu tenho certeza. – Falei desviando meu olhar para Antony. – Ele mesmo me disse que não iriamos pegá-lo, justamente por isso.
O rei assentiu com a cabeça e me olhou por alguns segundos antes de continuar.
– Soldados passaram a noite inteira procurando pelas redondezas do castelo, entraram até na floresta, porém não houve sinal dele. – Falou calmamente. – Mas, pela manhã, camponeses relataram um homem com as características dele no condado de Devon.
– Já foram averiguar? – Falei.
– Estão a caminho, logo irão retornar com notícias, e se tudo der certo, Beauffort voltará amarrado, pronto para ser executado.
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Castle Walls - Camren
RomanceA dinastia Estrabão está governando a Inglaterra em meados do Século XVI. Com problemas no tesouro real, a Princesa Camila é prometida para um Príncipe Francês, um dos países rivais da Inglaterra, visando a paz e o reestabelecimento das verbas reais...