Capítulo VIII

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– Mas como ele conseguiu entrar?

– Eu não sei, Vossa Majestade.

– Onde estavam os guardas, alguma notícia deles?

– Não, Vossa Majestade.

– E os servos que estavam pelo corredor? Ninguém viu nada?

– Interrogamos todos, ninguém parece saber de nada.

– Quantas pessoas chegaram a vê-lo, na verdade?

– Somente Vossa Alteza, e... bom, você sabe.

– Maldito!

O silêncio desconfortável que se instalou pela sala após a última fala do rei só foi quebrado após uma das cadeiras em minha frente, opostas à mesa de reuniões, ser ocupada por ele. Levantei minha cabeça para encarar todas as perguntas que ele gostaria, obviamente, que eu fosse capaz de responder.

– Camila. – Ele disse esfregando os olhos lentamente com a ponta de seus dedos, provavelmente na intenção de afastar o cansaço que visivelmente estava instalado em seu rosto. – Eu sei que você passou por muita coisa desde que anunciamos o noivado.

Antony, que até então estava em pé, resolveu se sentar na cadeira ao lado do rei, fazendo com que os dois ficassem frente a mim.

– Precisamos saber de tudo que você lembra. – Disse o primeiro ministro. – Para que possamos achá-lo.

Eu me lembrava de tudo desde que o espelho caiu de minha mão e o vidro quebrado se espalhou pelo chão. Na verdade eu lembrava de tantos detalhes, coisas tão insignificantes que não haveria a menor necessidade de falar.

Eu lembrava dos fios de ouro que reluziam entre os enfeites do colete azul que ele usava. Lembrava de como o banheiro estava mal iluminado, com diversas velas apagadas.

Lembrava principalmente do pano que ele colocou dentro da boca dela, que impedia que ela conseguisse soltar qualquer som.

– Camila. – Disse meu pai. – Por favor.

– Ele a matou sem a menor necessidade. – Falei ríspida.

Os dois homens me olhavam firmemente, cansados, exaustos.

– Ela era tão jovem. – Falei olhando para cima na intenção de segurar as lágrimas. – Ele saiu pela porta da frente. – Olhei para eles. – Lentamente. Como quem tinha certeza que não iria ser pego.

– Algo mais? – Falou Antony, enquanto aproximava sua cadeira da mesa.

– Eu não sei. – Falei colocando as mãos sobre meu rosto, enquanto respirava fundo, sentindo o ar enchendo meus pulmões e depois saindo de meu corpo. – Eu não faço ideia pra onde ele foi, eu não sei o que vocês esperam que eu diga! – Falei colocando as mãos em cima da mesa.

– Minha filha. – Disse o rei. – Qualquer coisa que possa nos ajudar. Queremos resolver isso tanto quanto você.

– Ele possui contatos dentro e fora da corte, e isso é a única coisa que eu tenho certeza. – Falei desviando meu olhar para Antony. – Ele mesmo me disse que não iriamos pegá-lo, justamente por isso.

O rei assentiu com a cabeça e me olhou por alguns segundos antes de continuar.

– Soldados passaram a noite inteira procurando pelas redondezas do castelo, entraram até na floresta, porém não houve sinal dele. – Falou calmamente. – Mas, pela manhã, camponeses relataram um homem com as características dele no condado de Devon.

– Já foram averiguar? ­– Falei.

– Estão a caminho, logo irão retornar com notícias, e se tudo der certo, Beauffort voltará amarrado, pronto para ser executado.

Castle Walls - CamrenOnde histórias criam vida. Descubra agora