Capítulo XVI

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Não sei há quanto tempo estou sentada no chão frio, na mesma posição, desde que Lauren saiu de seu aposento sem olhar para trás. Olho ao meu redor e consigo perceber um pouco dela em cada detalhe deste quarto. É incrível como mesmo se tratando de um cômodo da corte, ela conseguiu trazer um pouco da sua essência para estes aposentos tão padronizados do castelo.

Após me levantar, começo a caminhar pelo quarto enquanto visualizo algumas de suas pinturas penduradas pelas paredes gélidas de pedra. Sua arte é tão bonita que me entristece não ser difundida por todo o reino. São paisagens tão bem retratadas, flores tão vívidas, é como se você estivesse dentro da tela observando cada elemento. Reparo nas técnicas delicadas que ela aplica em cada centímetro da tela, da junção de cores tão bem selecionadas que formam imagens nítidas e realistas.

Por um momento lembro do retrato que ela me presenteou, meu rosto tão bem desenhado em um semblante que somente uma pessoa que me observasse muito bem poderia capturar.

Me concentro por alguns segundos para tentar afastar as lágrimas que insistem em surgir em meus olhos. É dolorido pensar que entre tantos beijos e carícias naquela tarde no ateliê de Lauren, estamos nessa situação agora. Apesar de entender parcialmente seus motivos, ainda não consigo assimilar suas palavras e acreditar que estamos mesmo separadas.

Não consigo identificar o misto de emoções que estão dentro de mim neste momento, tão pouco consigo organizar meus pensamentos. Estar com Lauren era uma das coisas mais perigosas que fiz em toda a minha vida. Arrisquei meu trono, minha reputação, e mesmo assim, estar com ela valia todo o risco que corríamos. Valia cada segundo.

Ao mesmo tempo que afasto os pensamentos sobre a Condessa, ouço murmúrios e passos ligeiros pelo corredor em direção ao grande salão. Sigo para a penteadeira de Lauren para que eu possa visualizar meu estado deplorável de perto, sei que provavelmente já estou tempo demais neste quarto, e preciso voltar às festividades do castelo, mesmo que o que eu mais precisasse neste momento fosse ficar sozinha.

Me sento na cadeira em frente ao espelho e encaro meu próprio reflexo. Dois olhos vazios e vermelhos me encaram de volta. Não faço ideia de como disfarçar isso.

Esfrego minhas mãos nas bochechas para tentar devolvê-las alguma cor, mas sem efeito. Alcanço uma das escovas de Lauren que está sobre o móvel e arrumo os fios desajeitados de meu cabelo.

Não estou da mesma forma que eu estava anteriormente, mas é o máximo que consigo fazer.

Abro uma das gavetas de Lauren procurando alguma essência para me perfumar, sei que não deveria estar mexendo em suas coisas, mas voltar até meu quarto agora seria impensável, visto que o almoço provavelmente já está sendo servido.

Fecho a primeira gaveta após não encontrar nada e abro a outra em seguida, me deparando com inúmeros frascos de diversas essências. Tiro alguns rapidamente da gaveta e coloco-os em minha frente, reparando nas pequenas etiquetas que identificam cada aroma. Rosas, lírios, violetas e damasco são algumas que peguei ao acaso. 

Escolho a de lírios sem muitos critérios e passo um pouco pelo meu pescoço, sentindo o odor refrescante exalando pelo ambiente. Fecho o pequeno recipiente e junto com os outros, tento colocá-los dentro da gaveta na ordem em que os encontrei.

Me levanto rapidamente e caminho até a porta, e antes que eu pudesse abri-la, percebo que algo passou por debaixo da fresta.

Olho para baixo e encontro um envelope, sem selo e sem identificação.

───

Quando atravesso as portas majestosas do salão, a comida já havia sido servida. Todos os nobres estavam sentados nas grandes mesas dispostas pelo recinto, enquanto a mesa real estava a minha espera. Sinto os olhos de minha mãe queimando sobre minha pele, mas tento ignorá-la enquanto sento ao lado de Francisco, o único lugar que estava sobrando.

Castle Walls - CamrenOnde histórias criam vida. Descubra agora