Capítulo XIV

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Depois da recepção, todos os nobres seguiram para o salão principal para que fosse servido o banquete e se iniciasse a festa de boas-vindas. Como uma forma de transparecer poder e riquezas, o rei ordenou que fossem servidas diversas especiarias trazidas das índias, bem como uma abundância de vinho e frutas exóticas.

Passei boa parte do tempo com Francisco, comemos lado a lado e interagimos cordialmente para que todos os nobres pudessem presenciar nossa felicidade mútua, como bem deixamos transparecer. Passei horas ouvindo Francis falar sobre sua corte, sobre a história de sua família, suas riquezas e aspirações. Em nenhum momento deixou-me falar, pelo contrário, todo o tempo que estivemos juntos não passei de uma simples ouvinte.

Felizmente, meu futuro marido se entreteve com alguns nobres que o chamaram para falar sobre algumas negociações. Já eu, aproveitei a brecha e me retirei respeitosamente, me dirigindo para o jardim, onde estou agora.

Sentada em um dos bancos, respiro algumas vezes de forma calma e controlada, esperando que a cada expiração toda a carga negativa que se encontre sobre mim se esvaia, esperando que ao menos, este ar puro possa fazer com que a angústia dentro de mim se retire aos poucos.

Olho ao redor para ter certeza que estou realmente sozinha, e ao confirmar isso, coloco minhas mãos sobre meu rosto, massageando minhas têmporas por alguns segundos. Tento tirar esse dia de minha mente, afastar os pensamentos sobre Francisco, mas simplesmente não consigo. Passar o dia com ele foi exaustivo de uma forma que jamais presenciei.

Lembro de todos os momentos em que tive que fingir estar confortável com seus toques indesejados pelo meu corpo, suas carícias em meus braços e sua proximidade quase que forçada ao meu rosto sempre que ele se sentia à vontade para fazer isso. Sorri quase que em todos os momentos, mesmo que não quisesse, como uma boa mulher deve fazer. Neste momento me pergunto o quanto de mim deixei de lado no dia de hoje.

Observo o jardim silencioso em minha frente, e me permito fechar os olhos por alguns segundos. Sei que não posso ficar aqui o resto da noite, mas tenho esperança que no último segundo Lauren possa aparecer e me envolver com seus braços, me despertando desse pesadelo. Sua presença fez tanta falta no dia de hoje, que faz meu coração arder de saudade dos seus beijos e carícias.

Eu sabia em meu interior que as chances da Condessa aparecer hoje eram mínimas, mas mesmo assim, durante todo o dia, a esperança de cruzar com seus olhos verdes no salão era meu mais profundo desejo. Gostaria que ela estivesse lá, que me visse usando seu presente. De todos os elogios que recebi, trocaria todos por um simples olhar dela, aquele olhar repleto de ternura e luxúria que tanto me encanta.

Tomo coragem para me levantar antes que minhas damas sintam falta de minha presença e venham me procurar, ou até mesmo, que tenha que lidar com Francisco vindo ao meu encontro. Fico de pé e caminho em direção ao banquete novamente, ouvindo a música aumentar seu volume conforme me aproximo do grande salão.

Entro pelas majestosas portas sendo inundada pela festividade exacerbada do local. Passo meus olhos rapidamente pelos nobres que ainda se encontram na festa, enquanto caminho em direção ao trono. Ao me aproximar de Vossa Majestade, sinto uma mão apertar meu braço, fazendo com que eu pare bruscamente e me vire, encarando Francisco visivelmente alterado.

— Minha princesa, por onde andou? Senti falta de sua presença. — Ele disse enquanto olhava firmemente em meus olhos.

Olho assustada para sua mão apertando meu braço, esperando com que ele diminuísse a força com que estava fazendo isso. 

— Fui tomar um ar, estava muito quente aqui dentro. — Digo.

— Talvez possamos dançar, o que acha? Poderias me conceder uma dança? — Ele disse ainda olhando em meus olhos, com suas mãos firmes em minha pele.

Castle Walls - CamrenOnde histórias criam vida. Descubra agora