Capítulo Um

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Estou lutando para permanecer neste mundo caótico de merda.

Um, dois, três...

Estou respirando fundo.

Olhei para baixo algumas vezes, com um certo medo do jeito com que o meu corpo inteiro se arrepiava cada vez que eu mexia um músculo. Medo. Era o que eu mais vinha sentindo ultimamente.

Naquele momento, estava sentado no terraço do meu condomínio, ele não tem grades de proteção nas extremidades do prédio, o que facilita para que eu me sente ali todos os dias e grite, respire fundo, olhe para baixo, grite novamente e então espere para que o sol dê lugar a lua e as estrelas que brilham tanto no céu azul escuro. Também não é tão alto, o prédio tem apenas cinco andares, ainda posso ver algumas pessoas andando lá embaixo sem que elas pareçam formiguinhas, e bem, eu não deveria estar aqui. Tanto porque eu arrombei a fechadura da porta que dá acesso ao terraço, quanto porque na mesma tem uma placa escrito à mão pelo síndico a seguinte frase: "Acesso restrito para funcionários. E caso consiga acesso, por favor, não cometa suicídio". Eu gosto de obedecer ao síndico, ele sempre me dá bom dia e balas de hortelã quando nos encontramos, e, apesar de tudo, não tenho vontade de me matar. Sequer tenho coragem, na verdade.

Gosto de pensar em mim como alguém vaidoso, e não seria nada bonito ter meu corpo totalmente desfigurado no meio da calçada. Talvez fosse poético, mas não bonito. Seria desagradável, e não dariam boas fotografias para os jornalistas, eles não poderiam colocar aquilo no jornal.

E lá estava eu divagando outra vez, pendurado a cinco andares de altura, um pouco de impulso e eu voaria em direção ao chão.

Fechei os olhos, imaginando que estava em um lugar diferente. Viajando com minha própria mente para lugares incríveis. Bati a mão algumas vezes sobre o murinho, apertando os dedos ali e cravando as unhas curtas, o vento soprava forte no meu rosto algumas vezes, como se quisesse dizer: "Acorde, Jungkook, esse não é o seu lugar".

E eu sei que não é, mas eu quero saber qual é a sensação, qual foi a sensação que ele teve. Quero saber se houveram chances dele parar para pensar antes de pular, e chego a conclusão que houveram, sim, mas eu não posso saber no que exatamente ele pensou. Ou em quem.

Gritei seu nome algumas vezes, sentindo que ele podia me ouvir onde quer que ele estivesse.

Minha mãe costumava dizer que as almas de pessoas que cometem suicídio não vão para o céu, então por que eu estou ali tentando estar perto dele?

— SEU FILHO DA PUTA EGOÍSTA! — Gritei, sentindo a cabeça latejar — VOCÊ PODERIA TER ME ESPERADO!

Eu não sou de falar palavrões o tempo todo, mas foda-se, eu estava revoltado. As coisas desandaram completamente depois que ele se foi, e mesmo que tenham se passado anos, não consigo evitar a vontade de vir aqui todos os dias para tentar descobrir o que foi que ele pensou quando decidiu pular.

Percebi uma movimentação não muito longe de mim, e então olhei para o lado. Um garoto. Estava sentado a mais ou menos seis metros de distância, eu não tinha reparado nele ali quando cheguei, apesar da cor do cabelo dele fazer com que o mesmo fique extremamente visível. Um laranja bem chamativo.

As pontas de seus dedos estavam brancas demais, denunciando a força com que o mesmo se segurava no murinho, ele parecia com medo como eu, não parecia querer fazer aquilo.

— Oi. Quem é você? — Me arrastei com cuidado para o seu lado.

O ruivo olhou para mim meio assustado, e então meu coração deu um pulo no peito.

Rapidamente minha mente me levou a cafeteria, onde aqueles mesmos fios coloridos brilhavam a luz do sol e se bagunçavam com o vento. Eu conhecia ele.

366 Universos | jikookOnde histórias criam vida. Descubra agora