Capítulo Dois

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Este lado do hemisfério parece incrivelmente vazio no outono.

"Oi Hyung, tudo bem? Acredito que sim. O céu está tão bonito hoje que por um segundo cogitei a ideia de você ter dado mais cor e brilho a ele, como você costumava fazer com meus desenhos. Faz um tempo que não escrevo para você, me desculpe, eu estava tão triste esse tempo todo que mal consegui tocar em um lápis, assim como não tenho conseguido tirar mais fotos.

Eu sinto sua falta...

Eu fui atrás do Yoongi, lembra dele, né? Ele me perdoou por ter sumido, acredito que está tudo bem entre nós agora.

E tem esse garoto, Park Jimin... ele me parece muito diferente dos outros garotos, sua aparência é tão diversificada que eu fico com vontade de conversar com ele, mas eu não acho que ele queira ser amigo do 'esquisitão que anda com uma câmera'.

Para falar a verdade, acho que ninguém quer ser."

Encarei o bloquinho, deixando o lápis de lado por um segundo. Por que eu continuava fazendo isso?

Parecia ridículo escrever cartas para pessoas mortas, mas de alguma forma, eu me sentia bem com isso. Haviam coisas que eu simplesmente não podia contar para ninguém, nem mesmo para Yoongi.

Coisas que apenas eu e Wonwoo sabíamos, e que eu preferi enterrar junto com ele.

Folheei o bloquinho, vendo todas as coisas que já havia desabafado ali para alguém que sequer podia ler, quis chorar, mas me contive. Não ali, não em público.

— Jungkook? — A voz da minha mãe me fez erguer a cabeça, guardei o bloco no bolso do paletó e sorri fraco para ela.

Estava de preto, como todos no local.

Iria fazer três anos. Três anos desde que ele desistiu de mim e de si mesmo, e como sempre eu era obrigado a vir ao cemitério junto da minha mãe e seu marido, segundo ela para "fazer uma visita ao meu irmão".

Acontece que eu sabia que não era apenas isso. Eu tinha certeza que todas as vezes que ela me trazia aqui era justamente para me vigiar, ficar de olho nas emoções que eu expressava todas as vezes que olhava para a lápide, porque ela desconfiava de mim. Mamãe nunca confiou no que eu contava a ela sobre o pequeno acidente, e eu não tinha coragem de dizer a verdade.

Mas, céus, eu não queria me culpar todos os dias por ele ter se jogado daquele maldito prédio, mas não podia negar ter uma parcela de culpa, em todo caso.

Ela sentou do meu lado, acariciando minhas costas, e levantou os óculos escuros, revelando sua íris cansada e os vestígios de lágrimas que rediziam no canto dos olhos. Abracei-a devagar, descansando a cabeça na curva de seu pescoço, enquanto sentia o carinho na altura dos ombros.

Eu sabia o quanto ela estava cansada, todos estávamos, na verdade.

A partida do filho mais velho da família Jeon nunca foi realmente superada, sequer estávamos a caminho disso.

— Você ainda escreve cartas para ele? — Ela perguntou, afastando-me de leve para poder olhar em meu rosto.

Assenti.

— Eu... posso vê-las?

Engoli em seco. Por mais que eu ache ridículo, não tinha coragem de deixar alguém ler aquilo, era pessoal demais.

— Desculpe.

— Não, tudo bem. — Ela sorriu — Foi burrice minha ter pedido por isso.

Suspirei, fechando os olhos ao ganhar um beijo na testa.

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