Capítulo Dezessete

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Capítulo Dezessete

Um em um milhão.

Eu conseguia ouvir o barulho da água, o splash feito quando seu corpo atingiu o rio, mas meu corpo estava pesado, então eu percebi algo curioso: era eu quem estava afundando. Meu corpo parecia estar sendo puxado para baixo com força e eu não conseguia enxergar a superfície, ao invés disso, conseguia ouvir sua voz no fundo:

— Aprendeu a voar, Kook?

. . .

— Acorda, bela adormecida. — Jimin me chutou do colchão ás cinco e meia da manhã, o que me fazia achar que às vezes sua pontualidade era um tanto irritante. Me perguntava se o ruivo não dormia nunca, porque ele estava sempre acordado antes da cidade inteira.

— Você não dorme? — resmunguei, escondendo o rosto no travesseiro. Havia um tipo de luz me cegando, mas eu sabia que não era a do sol porque o sol ainda nem havia nascido, então reparei que o ruivo segurava a lanterna do celular em minha direção enquanto falava sem parar.

— Dormir é perda de tempo. Temos que viver aventuras, Deus ajuda quem cedo madruga.

— Você não acredita em Deus. — chutei ele, o ouvindo rir.

— É, tanto faz. Levanta daí, temos muito o que fazer hoje. — o ruivo puxou meu lençol, me fazendo choramingar baixinho pelo vento frio que atingiu minha pele. — Sunmi ofereceu o banheiro pra gente tomar banho e escovar os dentes, então se apresse. Partimos em meia hora.

— E para quê a pressa?

Jimin parou, girou os calcanhares e me deu um sorriso parecido com o que minha mãe costumava me dar quando eu era pequeno e lhe fazia uma pergunta idiota como "por que laranja se chama laranja e limão não se chama verde?".

— Porque o tempo é algo precioso, escudeiro, e eu não quero desperdiçá-lo fazendo algo tão inútil quanto dormir. Agora anda logo, vou colocar as coisas na picape.

Cocei os olhos e fui, como ele havia me dito para fazer. Tomei banho e escovei os dentes ao mesmo tempo, com medo de achar que estava sendo um incômodo para todas as pessoas que estavam na fila para fazerem o mesmo. Nos despedimos de Sunmi, agradecemos a hospedagem e prometemos voltar um dia para que ela soubesse se havíamos encontrado nosso propósito, ainda que eu acreditasse que isso não fosse acontecer.

Tomamos café da manhã no carro, depois de passar numa lanchonete 24h e pegar o suficiente para nos manter por algumas horas antes da próxima parada, metendo o pé na estrada logo em seguida.

— Li na internet que em algum lugar depois do viaduto fica o lugar onde o imperador Gojong, da dinastia Joseon, se afogou. — Jimin disse, o que me deixou meio com o pé atrás porque eu era um grande fã da história coreana e não me lembrava disso ter acontecido. Talvez eu tivesse dormido nessa aula.

— Sério? E vamos até lá?

— Obviamente — ele sorriu, o cigarro pendendo apagado nos seus lábios de forma que mesmo depois dele ter parado de fumar, o hábito ainda lhe fosse frequente e curiosamente comum. — O que será que ele pensou quando se afogou?

Quis responder "talvez o mesmo que você quando tentou também", mas isso poderia magoá-lo, então dei de ombros.

— A gente nunca sabe o que uma pessoa com tendências suicidas pensam. Ele devia estar com problemas em seu governo.

— Bom, eu sei. Pessoas com tendências suicidas pensam no futuro iminente que um dia todos irão ter: a morte. — o ruivo começou, com a voz melodiosa tentando não fazer daquela declaração um texto fúnebre. — Só que elas preferem acreditar que isso precisa acontecer antes que a dor se intensifique, certo? Acredito que seu irmão pensou nisso também. Ele não queria arrastar você nem outras pessoas para o buraco no qual ele se encontrava.

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