Prólogo.

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Teoria do caos, multiversos e pensamentos malucos de Jeon Jungkook.

As pessoas costumam dizer que tudo o que acontece em nossas vidas é obra de algo chamado "acaso". Eu, particularmente, prefiro acreditar que tudo acontece em prol do nosso destino.  Assim, acredito também na possibilidade de modifica-lo a partir de escolhas que possam influenciar em nosso futuro, sejam essas grandes ou pequenas, como a rota escolhida na volta do caminho de casa.

Quando eu tinha treze anos, li uma revista geek onde falava sobre uma ideia conhecida como Teoria do Caos, eu sempre fui muito curioso sobre o universo e seus mistérios, então me interessei de imediato. Li e reli aquela matéria durante todos esses anos, e no começo não fazia tanto sentido, até que comecei a reparar em algumas coisas que aconteciam, e em como elas podiam interferir no presente.

Por exemplo, no dia da minha viagem, esbarrei com uma criança e derramei milk-shake na minha camiseta nova, foi um horror, e eu não podia entrar no ônibus daquela maneira, então corri para o banheiro masculino e tentei limpar a mancha pelo menos um pouco antes de embarcar, funcionou, mas atrasei três minutos e não consegui comprar meu café da manhã. Eu passei mal por não ter comido e quase desmaiei, foi uma sensação péssima. Depois, quando cheguei a Seul, não consegui ficar em pé direito e perdi a chance de participar da introdução do meu curso de fotografia.

O que quero dizer é que, por causa de um garotinho, o meu destino mudou completamente e eu perdi uma aula. Ok, sei que coisas assim acontecem o tempo todo, mas isso só me mostrou que aquela teoria fazia sim sentido, e que cedo ou tarde eu iria provar dela de uma maneira bem mais impactante. E que, bem, tudo começaria a se encaixar.

Em muitos sistemas, uma diferença tão pequena nas condições iniciais pode provocar grandes consequências posteriormente. Cada novo dia depende do dia anterior e compõem novas interações em cima disso. No meu caso, quem sabe, se eu tivesse prestado atenção no meu caminho em direção ao portão e desviado daquela criança, tudo poderia ter sido diferente. Talvez eu nem tivesse percebido o quanto o universo é complexo, e estivesse dissertando sobre isso em um momento crucial para descobrir qual era o segredo de tudo. Ou quase.

O meu erro foi pensar que, através da lente da minha câmera e da minha curiosidade sobre os mistérios do universo e das pessoas, eu conseguiria desvendar segredos. Parece que não é bem assim que as coisas funcionam, e bastou apenas um garoto com cabelos tingidos de um laranja gritante – e um sorriso capaz de fazer qualquer um se apaixonar, diga-se de passagem – para provar que eu era muito ingênuo se achava que conseguiria as respostas para todas minhas questões a respeito da vida sem nenhum esforço.

Em minha mente, ele era uma chave.

Aquele garoto era a chave do universo. Ele não sabia disso, e nem eu também, até tudo acontecer, parecendo que o mundo havia parado de girar quando o vi pela primeira vez.

Mas, voltaremos um pouco no tempo para que eu possa contar essa história de uma forma melhor e um pouco menos complexa.

. . .

— Você é tão desastrado... — a voz de Namjoon me tirou dos meus devaneios — Veja só, sua camiseta ainda está toda manchada de milk-shake de morango.

— Ah, até que fez um desenho bonito, hyung — sorri encarando a camiseta branca — Parece um cervo. A criança em que eu esbarrei fez de mim um artista.

Ele revirou os olhos e riu, colocando mais café no meu copo.

Quem me visse daquela forma nunca imaginaria tudo o que tinha acontecido durante os anos que passei longe.

— Claro, Picasso. E isso fez você perder aquela tal introdução importante.

Suspirei, limpando a boca com o guardanapo.

— Não se pode ter tudo na vida... — murmurei. A conversa havia encerrado ali.

Namjoon bagunçou meus cabelos.

— Está tudo bem?

Dei de ombros e olhei para a janela. Não estava tudo bem, ele sabia disso, e eu não queria falar sobre, então me calei. Talvez estivesse tudo bem se meu irmão não tivesse pulado, e talvez tudo teria sido diferente. Quem sabe ele até estaria sentado ali comigo, tomando café e comendo rosquinhas.

Ele amava rosquinhas.

Vi um garoto pedalando em direção a cafeteria, sorrindo como se tudo fosse assim tão bonito.

Seus cabelos laranjas esvoaçantes se organizaram assim que ele parou a bicicleta perto de um poste e entrou ajeitando o uniforme na cafeteria, mas ele os bagunçou novamente.

Era um funcionário.

E quando ele passou pela mesa a minha frente, por uma fração de segundo, nossos olhos se encontraram. Aqueles olhos, o nariz e a boca, tudo me parecia estranhamente familiar, mesmo sabendo que eu nunca havia o visto antes em todos os meus dezenove anos de vida.

Aquela havia sido a primeira vez que eu o vi. E eu não podia negar que ele era lindo.

Dei uma breve olhada no crachá que o garoto tinha preso ao uniforme, com o nome "Park Jimin" escrito em rabiscos.

— O que está olhando? — Tentou seguir meu olhar, mas logo o desviei e sorri em sua direção.

— Nada.

O mesmo não parecia convencido da minha resposta, mas deu de ombros e foi atender outro cliente. Namjoon sabia que eu sempre fazia isso, olhar para um ponto fixo como se ele fosse tão fascinante quanto uma obra de arte, mas dessa vez eu tinha razão em olhar, porque era sim fascinante.

Observei o ambiente ao redor através da lente da minha câmera – apenas como desculpa para encarar Jimin pelo visor sem parecer um stalker – e bati uma foto ou outra da rua não tão movimentada.

Eu amava isso, amava capturar os momentos antes que eles tivessem um fim.

Apesar de tudo, não era como se eu tivesse uma vida realmente interessante ou vivenciasse acontecimentos esplêndidos todos os dias, ou mesmo participasse de reais aventuras envolvendo bebida, sexo e festas lotadas, como maioria dos adultos. Eu era só eu, Jeon Jungkook, um garoto insignificante em um mundo próprio, esse que era composto limitadamente por mim e minha vontade de fotografar, e talvez um dia, eu pudesse dividi-lo com alguém especial, mesmo que eu não tivesse tanta fé que isso viesse a acontecer.

Com o tempo, eu adquiri uma mania estranha de prestar atenção em cada mero detalhe das coisas que aconteciam na atmosfera em minha volta – desde que li aquela revista, que eu guardo até hoje, e desde que ganhei uma câmera fotográfica da minha mãe – em busca de algo realmente impactante.

Mas esse algo nunca tinha vindo a acontecer até então.

Mais tarde, quando estava em casa, limpando a lente da minha câmera, parei para pensar no que poderia ter acontecido se eu não tivesse ido a cafeteria naquela tarde. Eu seria capaz de vê-lo em algum outro momento mais relevante? Ele fazia mesmo alguma diferença na minha vida ou era apenas mais um garoto que gostava de chamar atenção com cores de cabelo exuberantes?

Sem falar que, recentemente, um cosmólogo da Caltech anunciou ter encontrado evidências de universos paralelos. Caso seja real, isso significa que o nosso universo é apenas um entre muitos outros, que coexistem um ao lado do outro. Isso me fazia pensar que, talvez, eu e aquele garoto tínhamos uma conexão, ou então nos conhecíamos de alguma outra dimensão, isso poderia explicar a familiaridade.

É claro que isso também poderia ser uma completa besteira, apenas mais uma das minhas maluquices, mas não deixava de ser uma possibilidade.

Eu ainda não tinha as respostas que tanto almejava, mas sentia que logo as teria, e em algum momento desta história, eu poderia, de fato, me dar o prazer de fotografar algo além da superficialidade das ruas de Seul.

Talvez eu tivesse a oportunidade de desvendar Park Jimin através de uma lente.

366 Universos | jikookOnde histórias criam vida. Descubra agora