Capítulo Dezoito

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Capítulo Dezoito

Términos e recomeços.

Nunca entendi muito bem como términos funcionavam.

Sempre pensei que para se terminar algo tinha que se dar uma explicação, dizer um "acabou" ou até mandar uma simples mensagem de texto, mas descobri que as coisas poderiam acabar tão rápido como começavam, sem qualquer aviso prévio.

Já faziam meses, apesar de parecerem anos. Nesse meio tempo, acabei me acostumando com a ausência dele, por mais que não quisesse ter que acostumar com isso. Me acostumei a andar pelos corredores da faculdade sem ver a bicicleta azul-piscina encostada no muro da entrada, me acostumei a ir aos bares com os garotos e não ver a cabeleira laranja no meio de todos aqueles corpos na pista de dança, me acostumei as noites da rapaziada com apenas seis de nós, quando na verdade eram para ser sete, me acostumei a não sentir o gosto do cigarro e da cerveja misturados, e me acostumei também a dormir sozinho à noite, com o celular na mão, esperando que ele ligasse e me chamasse para outra aventura no meio da madrugada.

O problema era que a dor era inevitável. Eu estaria mentindo se dissesse que não chorei todos esses dias, sentindo falta daquele frio na barriga que Jimin provocava em mim quando nos tocávamos, ainda que fosse por um breve momento. A gente sabe que términos são dolorosos, que se separar de alguém que a gente ama nunca é fácil, mas eu estava lidando com aquilo melhor do que eu esperava, porque eu entendia os motivos dele. Eu entendia que a depressão não facilitava as coisas para Jimin e eu só torcia pela melhora dele, às vezes eu até pensava em ligar e perguntar se ele já havia achado um propósito, se viu muitas paisagens legais durante a viagem que ele decidiu seguir sem mim, se havia conhecido alguém, mas a ideia me revirava o estômago.

Por isso eu não ligava, e por isso eu decidi seguir em frente.

— Às vezes a gente tem que arrancar o band-aid de uma vez — Yoongi disse, tirando os olhos da TV. — Sua mãe ligou?

— Aham... disse que ia vir passar uns dias comigo, mas eu falei que não precisava. Não quero atrapalhar ela e o Choi, eles estão na segunda lua de mel — respondi, apertando os botões do controle para dar um golpe especial no Mortal Kombat.

— Ah, desgraçado! — o outro resmungou, tentando defender o ataque. — Bem, eu acho que um tempo com ela iria te fazer bem e... como faz pra dar esse golpe?

— LT e RT ao mesmo tempo. E ah, sei lá, talvez eu só precise de um bom porre e mais videogame. Você sempre disse que cachaça e jogos de luta eram a cura para um coração partido.

— Não exatamente, parceiro. Coração partido se cola com porra — Yoongi riu, finalizando seu ataque e ganhando de mim no terceiro round. — Posso te apresentar uns colegas.

Fiz uma careta, largando o controle.

— Eu passo.

— Não sabe o que está perdendo — ele tirou um cigarro do bolso e acendeu, sequer se importando com o meu repúdio pelo cheiro. Eu odiava cigarros quando não era Jimin quem os estava fumando.

Suspirei, jogando a cabeça pra trás e encarando o teto.

— Prefiro não preencher meu vazio com futilidades.

— Você não falou isso quando estava enterrando o pau no J-

— Yoongi! — o repreendi, ouvindo-o rir alto e soprar a fumaça para cima.

O loiro bateu as cinzas no cinzeiro e virou-se para mim, apoiando a cabeça na mão.

— Foi mal, eu paro. Mas aí, vai fazer algo hoje a noite? Que não seja chorar, por favor. — perguntou.

366 Universos | jikookOnde histórias criam vida. Descubra agora