- Nós precisamos conversar – disse ela e nesse exato momento senti um frio percorrer minha espinha.
- Alguma coisa aconteceu? – Perguntei preocupada.
- Acho melhor deixar vocês duas sozinhas, amanhã venho aqui – O médico disse saindo rapidamente pelo quarto e nos deixando em silêncio.
- Eu trouxe o nosso álbum de família.
- Todo esse mistério por um álbum? – Questionei fazendo sinal com as mãos para que ela me entregasse e em seguida o coloquei no meu colo.
- A grande parte das coisas que você quer saber, estão aí – Falou ainda com a voz tensa – Vou tentar te esclarecer ao máximo, mas saiba que eu só não te contei nada ainda, por ordens médicas.
- Você está me deixando aflita, o que há de tão ruim que eu não soube ainda?
- Seu acidente – respondeu curta.
Era impossível para mim ter alguma reação naquele minuto, tinham muitos sentimentos dentro de mim. Alegria, por finalmente ter a oportunidade de saber, o temor, por não fazer ideia do que poderia acontecer depois de descobrir a verdade, e frustração, por não me sentir capaz de folear aquele simples álbum. A credito que fiquei no mínimo uns 10 minutos encarando a capa do álbum, analisando cada detalhe que tinha ali, e à medida que o tempo passava o medo crescia. No momento em que finalmente tomei coragem e coloquei a mão na capa para folear o álbum, uma garota que aparentava ter minha idade e uma mulher adulta entraram rindo no quarto, me tirando todo o foco do que iria fazer.
Eu e minha vó nos entreolhamos sem saber o que fazer naquela hora, mas antes que tomássemos alguma atitude elas foram logo se apresentando, a garota se chamava Amanda e a mulher, que mais tarde descobri ser a mãe dela, se chamava Rose. A Amanda era quem estava internada, porém seu caso não era grave, pelo que elas nos disseram, minha vó e a Rose se deram muito bem.
- Não é de falar muito? – Amanda disse da cama dela, enquanto se virava para minha direção.
- Na verdade não – Disse tirando o foco da conversa das duas e me virando para Amanda – E você?
- Até que sou – Falou e eu assenti, deixando um silêncio entre nós – Por que você está aqui?
- Eu não sei ainda direito, mas pelo que dizem foi algum acidente bem feio.
- Realmente, você tem muitas cicatrizes no braço.
- Nossa, obrigada – Ironizei e nós rimos.
- Fala alguma coisa sobre você, até agora só sei seu nome.
- Bem, não tem muita coisa, me chamo Amélia, tenho 18 anos – e parei ficando pensativa, enquanto buscava alguma coisa menos genérica na memória – Acho que é só isso.
- Qual é, você tem 18 anos, deve ter vivido muita coisa - Ela falou um pouco frustrada, acho que por eu não ter contado nada, mas a questão é que realmente não lembrava de nada sobre a minha personalidade – Quero saber alguma coisa sobre a caladona.
- Qual é, não tinha um apelido melhor? – Perguntei rindo.
No momento em que terminei de falar, uma memória invadiu minha mente. Eu em uma mesa com várias outras pessoas da minha família. Estávamos todos entretidos com uma história minha de pequena que meu pai sempre contava e sempre nos trazia boas risadas, quando todos pararam de rir minha prima e eu começamos a conversar com muita empolgação sobre um parque que iriamos ir no dia seguinte, até que soltei uma piada e todos na mesa ouviram, como acharam engraçado, nos acompanharam nas risadas e meu tio aproveitou a situação para inventar um apelido para mim, ainda rindo eu o questionei se não havia um melhor para me dar.
Quando voltei a minha consciência, estava um pouco pálida e com um semblante sério olhando para um ponto fixo na parede. Todas as três presentes no quarto me encaravam preocupadas, mas fiz um sinal com a mão para que não se preocupassem, mesmo assim minha vó insistiu e veio do meu lado me perguntar o que havia acontecido.
- Eu acho que me lembrei de alguma coisa – Falei e ela olhou curiosa – Eu sei agora que nossa família razoavelmente pequena, tenho dois tios e duas tias, lembro agora com clareza do rosto dos meus pais e sei que tenho 3 primos, mas só sou próxima de uma.
- Olha que coisa boa! – Ela disse e me abraçou - Eu te falei que você iria se lembrar de tudo, isso é só o começo, logo sua memória estará tão boa que não vai mais precisar estar aqui.
- Sim – Disse forçando um sorriso – Eu acho que vou dormir agora, amanhã vai ser um dia puxado, tenho fisioterapia.
- Tudo bem, mas quando estiver sozinha, quero que você veja esse álbum – Falou.
- Vó, para de fazer mistério com esse álbum.
- Amélia, eu falo sério, tem coisas que não sei se estou pronta para te contar, quero que você lembre.
- Eu não vou mais aguentar nenhum minuto com todo mundo me escondendo as coisas, do que eu preciso tanto saber? Por que eu estou aqui? O que aconteceu comigo?!
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Comprando estrelas
RomanceQuando Amélia acorda em um quarto de hospital, sozinha e com apenas uma lembrança clara de um pesadelo que a rodeou durante todo período descordada, ela precisa reunir toda sua coragem para procurar as respostar e preencher as lacunas, mas será que...