Encarando a verdade

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"Acho que nunca quis que as coisas ficassem desse jeito. Nem chegassem ao ponto que chegaram, mas lá estava eu sentada naquele sofá bebendo o restante de vinho branco que havia na taça, degustando de cada momento naquele ambiente pois tudo estava prestes a desmoronar. Queria me forçar a levar comigo ao menos uma boa lembrança, então eu pedi para que saíssemos juntos. Era estranho porque no começo, eu o queria de joelhos diante de mim, mas no final, eu estaria ao seu lado, de braços dados indo em direção ao nosso ultimo jantar."

Marinette desligou a TV quando ouviu Luka caminhar sobre o piso do apartamento. Ele apareceu diante dos seus olhos, lindo como sempre e ela se levantou com um meio sorrio.

- Vamos? – disse estendendo a mão e os dois entrelaçaram seus dedos.

- Vamos.

Seguiram para o elevador. Enquanto isso, Luka comentava sobre seu trabalho e sobre as coisas que havia feito durante o dia, era o seu habito quando chegava em casa e jantavam juntos.Pena que ele se esquecia de contar apenas um detalhe do qual deveria ser o mais importante.

Suas saídas com Lila.

Marinette o olhava com a expressão suave, como se estivesse realmente ouvindo e gostando do que ele lhe contava. Sempre gostou de ouvir a voz de Luka, sempre gostou de estar em sua presença até tudo isso ser arrancado do seu peito repentinamente. E teve que reunir as ultima lembranças boas do casamento, para estar de pé, se mantendo firme, ao lado daquele homem.

Foram para o carro. Enquanto ele dirigia, pensava em Adrien. Como estariam as coisas na sua casa?

De repente, a sensação do beijo que trocaram mais cedo percorreu pelo seu corpo e aquilo a fez relaxar no banco. Sentiu Luka segurando sua mão e ele sorria. Provavelmente achava que estava se sentindo feliz assim por que estavam juntos naquele momento. Mas não chegava perto disso.

Desde o momento que se apaixonou por Adrien, era nele que ela pensava, enquanto beijava seus lábios, tocava sua pele, faziam amor... era o rosto dele que via em sua mente e era isso que a dava forças, aguentando cada minuto daquele casamento arruinado.

Chegaram ao restaurante. Em uma das mesas, Marinette se sentou de frente a Luka e os dois trocaram uma conversa.

- Não vai me dizer logo o que aconteceu de tão importante pra gente vir comemorar?

- Você já vai saber... – ela sorriu fechado. –...mas antes, eu queria apenas passar esse tempo junto... sei que anda muito ocupado e deve estar cansado, as vezes é bom sair não é?

- Não me importo de ficar em casa com você depois do trabalho, eu até prefiro. – Ele falava tranquilamente e Marinette abaixou o olhar, consentindo com a cabeça.

Era uma mentira. Mais uma mentira que contava.

- Fico feliz por se sentir assim.

Horrível. Não havia sinceridade ali, só aparência, uma fachada de um belo casal jantando como vários outros. Passando o olhar em volta e vendo as luzes tão lindas naquele salão, sentiu vontade de chorar.

Porque não poderia ter seu casamento feliz? Porque Luka tinha feito aquela besteira?

Respirou fundo, dando um sorriso a ele. – Sabe, eu estava hoje mais cedo limpando o nosso quarto... e acabei parando pra ver umas fotos dentro de uma das gavetas.

- Ah é? Que fotos?

- Do nosso casamento. Algumas eram no meu aniversário lá na casa da sua mãe, da festa surpresa que a Juleka fez pra mim, lembra?

- Claro, foi engraçado porque eu queria te contar mas ela disse que ia me matar de eu fizesse isso. – Luka deu uma risada lembrando-se da cena. – Mas ainda bem que eu não contei, porque sua cara de surpresa foi impagável... você não imaginava né Mari?

- Não. – Ela respondeu seca. – Eu não imaginava muita coisa.

- Eu também não... mas a vida é assim, cheia de surpresas. – Ele disse distraído enquanto bebia um pouco da água.

- É verdade Luka. Nisso, eu concordo com você. – Ela também bebeu um pouco de água. – Eu lembro também que fiquei também muito surpresa quando você me pediu em casamento naquele bar.

A feição de Luka mudou. A lembrança daquele dia veio a sua mente e ele se demonstrou um pouco incomodado, ajeitando-se na cadeira e tentando disfarçar. – Ah sim... foi um dia bom né?

- Foi... foi o dia mais feliz da minha vida até então...

- Até então...?

- Porque depois veio o dia do nosso casamento. – Marinette tinha um sorriso abatido olhando nos olhos de Luka. Era como se implorasse a ele para enxergar em seu intimo e perceber o quanto a sua traição havia estragado. Quantos sonhos, aquele amor puro que sentia, tudo.

No mesmo momento, Luka umedeceu a boca , sentiu a garganta secar. Ele deu um sorriso fechado bebendo um pouco mais de água. Marinette ficou a observa-lo com o rosto entristecido.

Pensamentos se passavam pela sua cabeça relembrando de cada coisa ruim que pensou em fazer com aquele homem, das coisas que conseguiu fazer e a vingança que estava planejando.

Nada disso mudaria o fato que tinha perdido o seu amor para sempre e não chegaria a nenhum lugar quando tivesse terminado.

Era melhor ser sincera, abrir o jogo e expor a sua tristeza, mas fazê-lo entender também, que de uma maneira ou de outra, ela seguiria em frente com a cabeça erguida e com dignidade.

Então aproveitou de cada momento, cada sabor da refeição, cada palavra. Se despedia em silêncio .Depois daquela noite, se encontraria com Luka apenas para assinar os papéis do divórcio e só isso.

Quando terminaram, voltaram para o carro onde permaneceu em quieta escutando uma musica baixinha que tocava no rádio. Ela olhou pela janela, Paris estava toda iluminada, a lua brilhava gigantesca no céu.

Voltou o olhar para Luka que se mantinha concentrado na direção. Nada daquilo o afetava, as luzes, a beleza da noite. Ele não pertencia mais ao seu coração, não tinha cor porque estavam em mundos completamente distantes.

Assim, subiram juntos no elevador e quando finalmente chegaram ao apartamento, ela entrou primeiro caminhando para o interior da sala ao mesmo tempo em que Luka fechou a porta e antes que se virasse, ele deixou um suspiro pesado sair do corpo.

Sem olhar para ela, murmurou - Fala logo que você sabe de tudo. Para de torturar a gente assim.

Atrás de si, ela o observava fixamente com os olhos cerrados – Então olhe pra mim... olhe no meu rosto.

Relutando um pouco, ele se virou devagar com uma expressão séria.

- Sente-se aqui. – Marinette indicou o sofá. Com os passos lentos, caminhou em sua direção se sentando a sua frente. – Desde quando sabe?

- Não importa. E agora, quem vai falar sou eu. – O tom da sua voz era frio. Ela não faria rodeios e falaria tudo o que estava guardado no seu coração nesse tempo todo, finalmente.  

Loveless RevengeOnde histórias criam vida. Descubra agora