Era um poema em forma de confeitaria. O prédio era todo rosa, sinuoso e cheio de floreias das mais variadas cores nas janelas. Os detalhes em gesso ostentavam formas desde gatinhos dorminhocos a dragõezinhos sorridentes e, como se não bastasse a ousadia, uma bicicleta rosa com o cesto a explodir em flores brancas e azuis descansava na calçada somada ao grande letreiro com letras em forma de borboletas e corações onde se lia: "Doceria Petreca", desafiavam todo e qualquer mau-humor que ousasse cogitar a possibilidade de se apresentar à porta.
O ambiente acolhedor da loja de doces trazia um sentimento estranhamente familiar ao mago, ele se sentia em casa com todas aquelas tortas, bolos, balas e chicletes dos mais variados sabores. A sessão de doces mágicos era a sua favorita, pois ao comê-las além de sentir os efeitos dos feitiços em suas bochechas, ouvia a magia a murmurar no fundo de seus ouvidos a deliciosa receita de desejos ali misturados.
_ E você nunca abriu a caixa? Sabe, nem pra saber como eles são? – Perguntou o mago debruçado sob a mesa, com o rosto mergulhado nas mãos. Ele encarava o pequeno barril, um pouco maior que sua barriga.
Mago e bruxa dividiam o ambiente apenas com ursinhos de pelúcia que olhavam desconfiados para a jovem de capa verde e o mago, que aproveitava o ar gelado que entrava pelas janelas do fundo da loja e viajava sem pressa para as janelas e portas da frente da loja. Renata adorava abrir todas as janelas do ambiente em que ela estava para arejar e sentir a magia no ar, portando o fim do inverno era a melhor época do ano para visitar a bruxa doceira e aproveitar os doces recém prontos da loja.
_ Não, não. Confesso que tenho certa curiosidade, tipo, minha avó aprimorou a receita durante décadas. E quando ela acreditava que estava perfeita, ela fez uma porção, isolou dentro deste pequeno barril e o selou magicamente para que se mantivessem frescos até que seja aberta. – Respondeu a garota com a capa verde brilhante. Ela admirava a beleza de Bernalk que babava em cima da herança de sua avó, implorando para abri-la com seus olhos verdes pedintes.
A moça saltitou até a cozinha, abriu o forno e retirou a bandeja ainda quente de lá. Viu as bolhas coloridas crescerem, endurecerem e cristalizarem com pequeninas borbulhas de ar no interior. Enquanto voltava ao balcão da loja, ela girava a varinha no ar pedindo, em silencio, à magia que aquele que os comesse se apaixonasse por ela. Era um pedido um tanto bobo, todos sabiam que a magia não atendia esse tipo de trapaça, mas não custava nada tentar.
O Mago admirou as bolinhas semitransparentes e multicoloridas disposta à sua frente.
_ Bernalk, aqui estão. – Disse a moça com luvas grande demais para suas mãozinhas.
_ Obrigado, Renata. – Bernalk sorria de orelha a orelha.
_ E essas roupas? Tá chique hein, Berninho. – Disse a capa verde sentindo o rosto corar.
_ Pois é, estava no Leste e passei por uma feira Thri. Acabei comprando, a moça me disse ser da moda da estação. Mas acabei comprando por ter me caído bem. – O mago falava com a boca cheia de macios porings recém-tirados do forno. Bernalk encarou a moça baixinha que servira os doces, era bonita, jovem e esperta. O mago adorava doces e ela era doceira, "quais eram as chances?" o perguntou-se rapidamente.
_ E como estão os porings? Gostou? Posso fazer mais, se quiser.
_ Curti o lance da cor do poring representar o sabor da fruta. Gostei bastante do verdinho, mas meu favorito ainda é o rosa.
_ Morango. Bern, o que faz no Sul? Em sua última carta, você disse ter partido para o Leste por causa da "revolução" do Lobo. – A capa verde perguntou curiosa.
_ Não devo participar de nenhuma guerra, mas assim que começasse uma eu devo ir de encontro com a minha ministra. Bom, assim me dirigiu a magia. – Bernalk rolava os olhos para cima ao dizer isso, como se lembrando de palavras decoradas.
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O Capa Vermelha - Livro 1: As Crônicas de Ivalin
FantasyIvalin é um mundo mágico e problemático. Diversas raças coexistem em uma simbiose caótica onde guerras são travadas com magia e ferro. Quando novos rumos são tomados em um dos reinos dos humanos que parece ser prejudicial a todos, uma guerra eclode...