Capítulo 13 - Ratos na Janela

70 14 111
                                    

_ Gnósis! Finalmente gnóssis! – Berrava o rei.

Os gritos assustaram os guardas que estavam de vigília durante a madrugada. Quando arrombaram a porta para ver se o rei estava bem, este corria em direção à porta.

_ Chamem Lucas, ele precisa saber que finalmente descobri. Gnóssis!

Embora o rei ostentasse um sorriso louco em seu rosto os guardas acharam melhor não contrariá-lo.

Roberto sentou-se em sua poltrona que arrastara até sua escrivaninha marcando o chão com fissuras profundas na madeira nobre do piso e debruçou-se sobre seus instrumentos que ali haviam.

A porta de seu aposento abriu-se e um homem baixinho, careca se não fosse por seus cabelos grisalhos e arrepiados nas laterais da cabeça adentrou deixando o ar gélido lá de fora entrar e resfriar o grande, porém pouco espaçoso quarto.

_ Lucas, venha ver isso. – Roberto apontava ao velho um tubo metálico, com vidros nas extremidades que alinhava-se a um estranho mecanismo espelhado que era iluminado, por baixo, por uma pequena lamparina mágica.

Lucas arrastou-se até a escrivaninha ainda sonolento, pesadamente retirou seus pequenos óculos de leitura do bolso do jaleco e olhou para a extremidade superior da máquina inventada por Roberto e disse com a voz cansada e ainda um pouco rouca:

_ São três e quarenta e três da madrugada, majestade.

Roberto percebeu que Lucas não compartilhava do mesmo ânimo que enchia o peito do rei.

_ Não vê homem? A descoberta do milênio está bem diante de seus olhos e não vê?

_ Não, está tudo preto. Tudo o que vejo é uma máquina que custou uma fortuna em ouro e tempo de trabalho de diversos engenheiros reais que poderiam estar fabricando espadas e escudos para defender seu reino.

_ Espere, deixe-me ajustar o equipamento. – Roberto saltou em Lucas que percebeu pelo cheiro que o rei não havia tomado banho, pelo que julgou ser, no ultimo século.

O senhor, já de idade, afastou-se da escrivaninha onde Roberto mexia em seus tubos valiosíssimos e esfregou os olhos e limpou-os das areias de sono que lhes cobriam os cantos e começou a observar o quarto do rei.

O quarto era grande e extremamente luxuoso, em outros tempos aquele quarto hospedara reis que o decoravam mais e mais através das gerações. Mas o atual rei, que ordenou que levassem as mesas de carvalho e trouxessem mesas metálicas por "serem mais fáceis de limpar", trocar os quadros com pinturas mágicas magnificas de família por painéis com insetos alfinetados neles. Céus, até o trono o rei quis tirar do salão para ter mais espaço para seus armário com coleções e mais coleções de pedras, se não fosse por Lucas insistir que o trono deveria ficar na sala do trono o rei com certeza teria transformado a sala real pelo que é agora o quarto dele.

_ Majestade, desculpe-me minha ignorância. Mas poderia me explicar o que eu deveria ter visto como a maior descoberta do milênio?

_ Miniseres!

_ Miniseres?

_ Sim, chamo-os assim, pois não são possíveis de se enxergar a olho nu, são muito pequenos e precisam ser analisados com instrumentos especiais que ampliam a visão.

_ E existe algum motivo em particular para que o senhor os observe a essas horas? – Perguntou o velho.

_ Pois agora sei que são eles quem causam as doenças. – Respondeu o jovem.

_ Senhor, se esses tais miniseres causam doenças, por que mantê-los perto de si? Não seria melhor chamarmos um capa branca para acabarmos com elas? Digo, as doenças.

O Capa Vermelha - Livro 1: As Crônicas de IvalinOnde histórias criam vida. Descubra agora