_ Boa noite papai. – Disse Rosa, bocejando.
_ Boa noite filha. – Disse Joris.
Joris deu um beijo de boa noite em Rosa e levantou-se. Virou-se e caminhou em direção ao filho mais jovem, Fred, e lhe deu um também. Sorriu para o filho com o rosto iluminado apenas pelas luzes das velas de chamas coloridas, exibindo a famosa cicatriz na sobrancelha esquerda que já lhe rendera diversas histórias de suas aventuras passadas. E se virou para Olver, o segundo mais velho, que fitava o pai e se perguntava se algum dia teria o mesmo corpanzil imenso, já engordado por causa dos anos de tranquilidade nas montanhas e ausência das inúmeras batalhas que o pai costumava lutar, mas que ainda assim, causava intimidação de qualquer um que o visse.
Olver observou o pai, com a idade já estampada ao rosto. Ele servira no exército por muitos anos, lutando contra outros bruxos, feiticeiros, criaturas mágicas, elementistas, não mágico e muitos outros. Todos da cidade diziam que ele era o bruxo mais poderoso e respeitável conhecido, mas isso era antes de conhecer sua esposa, de se aposentar e comprar uma casinha tranquila nas montanhas. Agora a única aventura que Joris, O Grande, se dispunha a fazer era cuidar de seus três filhos menores e de vez em quando ir de carroça até o vilarejo mais próximo comprar suprimentos para a fazenda.
_ Conte-nos uma história papai. – Disse Rosa olhando-o por entre as cobertas. Rosalya era a segunda filha mais jovem de Joris e Aurora, tinha dez anos, mas sua astúcia era de uma menina de catorze, segundo ela própria.
Joris pára de repente, ainda olhando para seu segundo filho mais velho, Olver. Dá uma piscadela para ele, que ri, e teatralmente se curva para fitar a pequenina figura, que se encolhe para dentro das cobertas. As chamas das velas balançam fantasmagoricamente, seguindo o comando de seu mestre bruxo. Rosa, vagarosamente retira o cobertor dos olhos e encontra o pai a centímetros de seu rosto. Rosa solta um gritinho.
_ E qual história eu contaria para uma pequenina sapinha como você? – Joris diz, tentando parecer sério, mas seu meio sorriso e voz desafinada segurando o riso não enganam nem Fred de cinco anos, nem Olver de quinze, que se limita a rolar os olhos, já conhecendo o pai.
_ A do gênio... – Sussurra Rosa com a voz se perdendo entre as cobertas de plumas de ganso.
_ Tem certeza? Não gostaria de saber como eu consegui essa cicatriz? – Joris diz sorridente apontando para a testa.
Rosa dá um pulo em sua cama com o rosto vermelho e bufando de raiva, Joris apenas ri da reação extrema da filha.
_ Você já contou esta história mais de um milhão de vezes – Grita Rosa inconformada.
_ Ok, ok. Deite-se. Papai vai lhe contar da vez em que me encontrei com um Jinn, ou Gênio. – Joris parecia pensativo por um instante, como se esforçasse para se recordar dos mais mínimos detalhes do fundo de sua memória já desgastada. Rosa acomodou-se melhor na cama, sentada em posição de lótus com as cobertas cobrindo as pernas e as costas. Fred também se sentou, pois essa era a história favorita dele, que na verdade era fascinado pelos Thri-Kreen. Olver limitou-se a olhar para o teto, admirando as estrelas que sua mãe pusera utilizando-se de feitiços dos quais ela era mestra em fazer, sua mãe era ilusionista-mágica, os ilusionistas faziam artes que eram estonteantemente maravilhosos, como o quadro no teto do quarto das crianças que refletiam as constelações que brilhavam afora. Sua mãe adorava fazer quadros, dizia que eles ecoariam a eternidade e que isso a fazia se sentir realizada.
"Eu estava perto da cidade" nômade de Qiaah, berço da civilização dos Thri-Kreen (Joris adorava dizer o nome deste povo imitando um grilo, dizia ele que era a maneira correta de se pronunciar o nome segundo os próprios Thri-Kreen, mas sempre assoviava em tom de deboche), seres insectóides, semelhantes a louva-deus, mas que poderiam atingir até dois metros de altura e eram hábeis lutadores, bastante inteligentes, extremamente adaptados a viverem em regiões desérticas, adoravam viver de comércio, pois era uma raça nômade, suas cidades eram tendas que poderiam ir a qualquer lugar que quisessem no momento que quisessem levando consigo especiarias exóticas de diversas partes do mundo, adoravam acima de tudo a liberdade. Louvavam deuses estranhos e, por causa justamente disso eu estava procurando o templo esquecido. Se as lendas estivessem corretas, o templo do deus Drik-Thik, deus do comércio e dos viajantes, estava abarrotada de ouro e artefatos mágicos coletados ao redor do mundo todo pelos Thri-Kreen, que adoravam o luxo e os ofereciam ao seu deus.
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O Capa Vermelha - Livro 1: As Crônicas de Ivalin
FantasyIvalin é um mundo mágico e problemático. Diversas raças coexistem em uma simbiose caótica onde guerras são travadas com magia e ferro. Quando novos rumos são tomados em um dos reinos dos humanos que parece ser prejudicial a todos, uma guerra eclode...