Capítulo 15 - A Dança das Bonecas

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A fumaça densa e cinza escorria por entre as narinas da caveira de alce no topo do altar sem nenhuma pressa em se juntar com a leve névoa que tomava conta do recinto. As varinhas a serem montadas eram dispostas de maneira bagunçada na mesinha em cima do armarinho que abrigava as peças essenciais para a manufatura das mesmas. Sabrina se perguntava o porquê de sua mãe não ordenar a construção de uma cabana maior e mais confortável. Ela ajoelhava-se frente a frente com sua matriarca que balançava devagarinho em sua cadeira de balanço no centro do cômodo.

_ A criança é a pior das coisas até agora. É um garoto, mas não respeita as mulheres, interrompe quando estamos conversando, não entende que ele tem que fazer as tarefas e insiste em não obedecer a meninas. Olha, mãe, posso dar um jeito nisso, se a senhora permitir. – Sabrina ostentava uma vermelhidão de raiva que ia do pescoço ao rosto contrastando fortemente com seus olhos verdes.

_ E a mulher? – Perguntou Julieta com a expressão ossuda olhando para o nada.

_ Fora o fato de que ela não sabe o lugar das mulheres na sociedade, digo, o real lugar das mulheres na sociedade? Ela chorou muito na primeira semana, insistia em ver o garoto, mas dizíamos que ela o havia educado errado, que agora nós que iriamos educá-lo, mas da maneira correta.

_ Ela sabe, mas escolheu o caminho mais fácil. – Julieta ainda fitava o vazio, sua vassoura pairava para lá e para cá na pequena choupana dentro da terra. A vassoura nunca encostava no chão.

_ O que? Ela é... Uma de nós? – Perguntou Sabrina, surpresa.

_ Não. Ela era uma de nós. Escolheu fugir, casar-se com um só homem, ser submissa, ter filhos. Ela escolheu virar as costas para suas irmãs e mãe, graças a isso a magia revidou dando uma primogênita sem dons mágicos. Mas sabiamente a magia tocou seus demais filhos, sabendo que precisaríamos delas. O segundo: Olver é um inútil, mas o rei bobo cometeu o erro de matar o pai dele, esperemos que haja uma vingança e torne nossa vida um pouco mais fácil. A terceira é a mais interessante, a magia lhe concedeu habilidades mágicas inigualáveis, mas ainda tem que crescer e amadurecer para que possa entender o caminho das mães. O último, o quarto filho, este que você está a educar é promissor, mas sinto um perigo nele, o garoto é poderoso e se não for completamente quebrado e dobrado perante nós, pode se tornar um problema e talvez uma ameaça. – A velha olhou para Sabrina. – Não falhe.

_ Não irei mãe. Mas apenas me dói vendo uma mulher criando seu filho de maneira tão errada, quero dizer, uma mulher submissa a um homem? Chega a ser nojento.

_ Uma pena nossa desertora não ter tido uma quinta criança. – Julieta voltou a falar com a voz arrastada.

_ Por que? – Perguntou Sabrina.

_ A magia adora excentricidades. Cinco filhos de cinco em cinco anos. Isso seria excêntrico. E considerando que as duas crianças mais jovens são tão... Talentosas. Você pode não gostar de Frederico, mas um deles me encantou bastante. – Julieta começara a se levantar devagarinho.

_ Ele é um arcanista. Ainda bem que o patriarcado não inventou uma capa estupida para os arcanistas usarem, se esse moleque chegasse aqui usando uma dessas, dessas... – Sabrina abanava a cabeça em desaprovação.

_ Aurora estava vestindo alguma capa? – Perguntou Julieta, já em pé, encarando a parede de madeira polida.

_ Não, e ela disse que nunca fez questão de correr atrás de uma, embora seu marido tivesse insistido que ela usasse roxo.

_ Bom, bom. Aurora quando nova era uma tormenta em forma de menina: Batia nas irmãs, fomentava intrigas por entre os covens, usava suas habilidades ilusórias para confundir e machucar as outras crianças. Um sonho de filha, considerando que eu estava precisando de uma selvagem para os afazeres de espiã muros afora. Mas, quando solta para sua primeira missão ela desandou, conheceu rapazes e deixou-se levar pelo papinho de Joris. – Julieta olhava pela segunda janela da choupana enterrada, observava a orla ser limpa pelos pajens após os rituais da noite que se passara.

O Capa Vermelha - Livro 1: As Crônicas de IvalinOnde histórias criam vida. Descubra agora