"Querido diário.
Não fui aceita na escola de magia e bruxaria de Veteris Amicitiae. Não fui sequer avaliada, mandaram as cartas para o orfanato dispensando a todos nós, dizendo que os reis estão mais preocupados com a guerra e que todos marcham para o Sul.
Lembro-me que eu era a única criança do orfanato a me dedicar a ser uma capa preta. A maioria escolhia a capa verde com o sonho de mergulhar em piscinas de lascas assim que sair da casa. Outros escolhiam a capa vermelha, dizendo que nunca iriam ficar sem trabalhos. Conheci uma que sonhava em vestir azul, para estudar a magia e, quem sabe, leciona-la aos alunos das grandes escolas. Havia ainda, algumas que desejavam obter a capa amarela e trabalhar nas cozinhas dos palácios reais preparando porções e mais porções de comidas mágicas, ou pintando quadros para enfeitar os salões dos nobres.
Nossas tias eram capas brancas que juraram cuidar das crianças sem pais de diversas casas de cuidados a crianças abandonadas. Elas contavam histórias sobre o mundo, mas havia uma capa branca em especial que conquistara meu coração assim que a conheci, seu nome era Adriel.
Adriel era uma elfa alta, robusta, encantadoramente simpática e linda. Vestia-se com as roupas mais elegantes que um sonho pudesse imaginar. Tinha quase setecentos anos de idade, incrivelmente com aparência de vinte, e nessa longa vida já havia aprendido de tudo sobre o mundo da magia. Ela contava as melhores histórias.
Quando Adriel foi capa vermelha, ela lutou contra os mapinguaris. Jovem, inconsequente e destemida, era requisitada em todos os reinos. Caçava criaturas mágicas que assolavam plantações e vilarejos. Perseguia bandidos que atacavam as estradas reais. Dominava os feitiços de ataque e ensinava-os as mulheres das cidades grandes.
Depois de se cansar da agitada vida de uma capa vermelha decidiu por estudar as linhas labirínticas do destino. Conseguiu sua capa roxa após cinco anos de estudos, a maioria conseguia com dez. Atendia nobres e plebeus, lia suas mãos, vivia seus sonhos e varria suas maldições. Chegou a ser alvo de canções indecisas dos bardos do mundo todo, que não sabiam se homenageavam sua beleza ou se exaltavam sua astúcia.
Um dia chuvoso e triste, recebeu um chamado mágico. Através de um sonho a magia a guiou até um vilarejo, onde já na entrada sentiu que algo ali não agia da maneira certa. Quando chegou no tal vilarejo, começou a perguntar para os moradores se algo de estranho estava acontecendo por ali.
Sua vida mudou ali, naquele vilarejo.
Todos no vilarejo disseram para ela procurar por Jeremias, segundo relatos alguma criatura mágica havia o atacado, deixando-o em estado catatônico e extremamente doente, isso era realmente coisa muito difícil de acontecer pois o rapaz, segundo essas mesmas fontes, era um capa vermelha.
"Sabia lutar tanto com os punhos quanto com martelos e varinha. Pra derrubar aquele homem, devia ser algo perigoso" Diziam os homens da vila.
"Grande, alto, forte e macho." Diziam as moças.
O rapaz vivia sozinho desde a morte de suas irmãs, dos quais dividiam a casa. Quando a elfa chegou lá, a pequena casinha estava apinhada de capas brancas que revezavam-se em tentar diagnosticar o tipo de criatura que o atacou, como o atacou e usando o quê.
Explicou aos capas brancas que ela podia ser útil e que tinha um artefato que permitia revisitar memórias de pessoas, ela mentiu, claro, pois até aquele momento não tinha intenções de usar o chapéu no garoto, pois este artefato era de uso único e não gastaria com qualquer coisa.
O rapaz era neto de pescador, filho de pescador e pescador por tabela, mas que devido a sua grande aptidão com magia conseguiu se formar capa vermelha ainda com pouca idade. Era grande e forte, típico garoto rural. Vê-lo no estado que ela o viu me deu até pena: Estava inchado devido a mordidas de mosquitos e outros insetos, manchas esbranquiçadas e amareladas assolavam boa parte de seu torso e tinham simetria com padrões estranhos, sua pele descascava devido ao frio noturno e também estava desidratado. Também não conseguia dizer nada, dormia há dias debaixo de todo aquele esparadrapo e ataduras dos capas brancas.
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O Capa Vermelha - Livro 1: As Crônicas de Ivalin
ФэнтезиIvalin é um mundo mágico e problemático. Diversas raças coexistem em uma simbiose caótica onde guerras são travadas com magia e ferro. Quando novos rumos são tomados em um dos reinos dos humanos que parece ser prejudicial a todos, uma guerra eclode...