O Recomeço | SASUSAKU

37° Capítulo

Por Sasuke

     A textura grossa e mau cerrada da madeira cor marrom prendera minha atenção por minutos que jurava que poderiam serem horas. O silêncio daquele lugar me fazia lembrar os outros dias que havia passado a noite aqui, os dias em que ainda era um vingador. - O ferrugem nas dobradiças fizeram um barulho irritante anunciando que alguém entrava, mas já havia reconhecido o seu chácra assim que a mesma adentrava no corredor.

- Fiquei preocupada, está tudo bem? - Suspirei, acenando sutilmente com a esperança de que esse esforço para respondê-la fosse convincente, mas é claro que não seria. - Sei que esse lugar te trás lembranças, não queria que ficasse sozinho.

Sentou-se ao meu lado, na cama improvisada com um colchão de não sei quantos anos. O lençol fedia à mofo, o que já tinha me feito tossir algumas vezes. Porém, não estava ali para dormir, apenas para pensar, me isolar, e era tão bom nisso que não lembro da época em que exatamente a Sakura começara a atrapalhar este feito.

- Vamos ter que conversar em algum momento sobre o que aconteceu. - Voltou a falar.

- Já conversamos.

- Mas não resolvemos as questões. - Fechei os olhos, lembrando de como ela poderia ser persistente. - Karin está no laboratório, Sarada dorme tranquilamente. Então, por favor, Sasuke-kun... - Ouvi seu suspiro pesado e assim abri os olhos, encontrando as grandes orbes verdes esmeraldas me fitando em súplica. - Não torne isso mais difícil do que já é!

Ela tinha razão. Na verdade, sempre teve.

Sakura poderia ser mais sentimental que qualquer um, sua compaixão e ética pareciam estar à frente de tudo, até de suas escolhas mais severas. Contudo, ela sabia mais do que ninguém separar obrigações e deveres morais. Sempre sabe o que é melhor para cada situação, nunca faz suas escolhas com base no que gostaria, sempre releva o mais importante, muitas vezes deixando suas próprias vontades de lado.

Então nesse quesito, ela sempre será mais forte do que eu. Por mais difícil que algo seja, ela sabe que tem de ser feito, então toma coragem de algum forma, ou do seu jeito, para ir a luta e resolver como pode. Enquanto à mim, sempre dou um jeito de ganhar tempo, ou de nem precisar fazer algo sobre.

E isso diz muito, sobre como resolvemos nossas diferenças. Só o fato de ela sair do lado de nossa filha, dar seus passos receosos até esse quarto, e me pedir com toda paciência possível para conversamos o que tem nos deixado indiferentes, mostra o quanto isso tem afetado o que tentamos construir.

- Se não é a hora certa pra você, se não se sente preparado, eu sinto muito... Mas uma vez você tinha dito que estava tudo bem por você não usarmos... - Interrompi o que seria embaraçoso para nós dois, já que não se tratava disso.

- Sakura, não é isso.

- Então diz, me diz o que é, por favor... - Vi as lágrimas brilharem em sua linha d'água. - Eu não aguento mais olhar pra você e ver infelicidade quando está perto e de mim e da nossa filha...

Um aperto forte no peito fez com o que a quantidade de oxigênio que respirava antes fosse insuficiente. Seus olhos se apertaram enquanto seu olhar decia para minha clavícula, como se realmente não conseguisse manter o contato visual.

- Sakura...

- Eu não sei o que pensar, e não falar comigo não vai fazer as coisas se resolverem sozinhas...