7 - Eu ainda

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Terça é um dia bem chato, mas normalmente a Emy vem aqui de manhã cedo. Eu gosto da companhia dela, apesar de ela só ter sete anos. Ela é engraçada e fofa, faz meus dias menos ruins.

Não que a companhia da minha mãe seja ruim, mas é diferente.

O fisioterapeuta chega, me coloca na cadeira de rodas e me guia pelo hospital para a parte de fisioterapia.

Já faz quase um mês que eu venho sentindo fraqueza e um pouco de dificuldade motora. Então comecei a fazer fisioterapia para conseguir me movimentar sozinho.

- Kookie - ouço e me viro na direção da voz.

Emy está agachada do lado da cadeira.

- O que você está fazendo, Emy? - pergunto rindo e o fisioterapeuta para de empurrar a cadeira para que possamos conversar.

- Eu estou em uma missão supersecreta - ela diz e o fisioterapeuta ri.

- A é? E você pode me contar que missão é essa? - pergunto.

- Não - ela diz. - É secreto para você também.

- Por quê? - pergunto cruzando os braços.

- Porque sim - ela diz me imitando e cruzando os braços também.

- Então tá - falo um pouco magoado porque ela não costuma esconder as coisas de mim. - E cadê seus amigos? Eles não vêm dia de hoje?

- Eles estão por aí, mas eu queria falar com você - ela diz.

- Você não precisava vir - falo fazendo carinho na sua cabeça. - Eu estou aqui todo dia, seus amigos não.

- Mas eu vi eles ontem, você eu não vi - ela reclama. - Eu estava com saudade.

Sorrio. Ela é um amor.

- E por que não foi lá no meu quarto hoje mais cedo como sempre faz?

- E-eu... não deu.

- Por quê? - pergunto.

- Porque eu... fiquei ocupada - ela diz.

- O que a senhora está escondendo? - pergunto fazendo cosquinha.

- Nada, nada - ela fala rindo.

- Sei... - digo parando para que a garota volte a respirar normalmente. - Não estava procurando confusão por aí de novo, não é?

- Não, não, eu juro - ela diz. - E... amanhã eu acho que vai dar para eu ir lá.

- O.K. coisinha linda - aperto sua bochecha e ela reclama. - Agora me dê um abraço e vá brincar com seus amigos que eu tenho aula.

- Aula? - ela pergunta me abraçando. - Que aula?

- Aula para voltar a andar direito - digo. - Aí nós vamos poder brincar juntos por aí.

- Então tá. Tchau, Kookie. Boa aula - ela acena e sai correndo, me deixando rindo como um bobo.

...

- E então, como você está se sentindo? - Ele pergunta ao me colocar na maca.

- Não estou sentindo muita coisa - falo.

- Sério? Pelo seu novo exame você melhorou.

- Como assim melhorei? - pergunto com deboche.

- Melhorou. Seus movimentos. Você fez progresso.

- Eu não acredito em você - falo. - Eu continuo sem me mexer direito.

- Claro - ele ri. - Você achou o que? Que você acordaria e sairia correndo?

- Eu queria - falo.

- Eu também, garoto. Mas você realmente melhorou, está reagindo melhor desde que começou a fisioterapia. Além disso, hoje você estava muito bem, se seguir no mesmo ritmo de hoje vai voltar a andar logo. Quem sabe mais umas duas ou três seções.

- Sério? - pergunto sentando.

- Sério, mas andar é andar, não é para sair com Emily correndo por aí.

Rio.

- Certo.

- E você vai ter que fazer tudo direito, principalmente nas sextas.

Suspiro.

- O.K. o.k., mas não garanto que vou estar animado quando acordar na sexta.

- Eu sei que você tem um problema com esse dia - ele diz. - Mas tenho certeza que você vai conseguir. A propósito, está se sentindo fraco hoje?

Nego com a cabeça.

- Ótimo, porque eu trouxe algo para você - ele ergue duas muletas.

- Sério? - pergunto animado.

- Sério, vai ser como você faz aqui com as barras e eu vou com você. E você ainda não está permitido para sair andando por aí sem acompanhamento médico. Então se quiser passear por aí chame um enfermeiro, nada de sair sozinho ou com parentes, entendeu? - afirmo.

Ele coloca as muletas perto da cama.

- Certo, agora você vai colocar as pernas para fora da cama e tente não usar as mãos.

Demoro um bom tempo,mas faço mexendo apenas as pernas. Sorrio satisfeito ele me entrega as muletas para que saia da maca.

Nós vamos andando pelos corredores até passar pela seção infantil quando ouço a voz da Emily novamente:

- Kookie - ela fala surpresa e vem até mim. - Nossa - ela me encara. - Você deve ser um aluno muito bom.

- Ele é sim - o enfermeiro fala.

- A gente daqui a pouco vai poder brincar - ela diz saltitando e rio dela.

- Emily, quem é seu amigo bonito? - outra garotinha pergunta e sinto minhas bochechas queimarem.

Por que estou com vergonha de uma garotinha?

- Sai, Soo, ele é meu amigo.

- Emily - a enfermeira, que está com elas, repreende.

- Eu não tenho que dividir meus amigos - ela diz.

- Claro que tem, pessoas não são objetos, ele pode ser amigo das duas.

Soo dá língua para Emily antes de sair correndo e a enfermeira se afasta depois de respirar fundo.

- Kookie, você não quer ser amigo de Soo, não é?

- Olha, pequena, ela está certa, você não pode escolher quem são meus amigos - ela cruza os braços e encara o chão irritada. - Mas eu vou te contar um segredo. Mesmo que eu faça outras amigas, você ainda será a minha preferida, o.k.?

- O.K. - ela diz sorrindo e me abraça.

- Vá brincar com sua amiga - digo.

- Ela não é minha amiga - diz irritada.

- O.K., desculpa - falo rindo e ela sai correndo.

- Vamos? - o fisioterapeuta pergunta e afirmo seguindo-o pelo hospital.

...

- Olha quem está andando - minha mãe fala quando entra no quarto.

- Quase - digo.

- O fisioterapeuta falou comigo, disse que você está bem melhor.

- Apenas melhor - digo.

- Bom, melhor então. Por que não liga para o seu pai e lhe dá a notícia.

- Eu... mais tarde - falo.

- Certo - ela diz. - Eu vou ter que falar com um pessoal do hospital agora, mas daqui a pouco eu volto.

- Certo.

Ela beija minha cabeça e sai.

Ligar para meu pai para falar sobre isso? Acho que não.

Forever - JJKOnde histórias criam vida. Descubra agora