20 - Decepção

2K 137 483
                                    

Acordo cedo. Como minha mãe estava na minha cola ontem de noite, acabei dormindo cedo e esse foi o infeliz resultado. Pelo menos agora eu posso passar a manhã inteira jogando.

E é isso que faço. Começo a jogar antes mesmo do café chegar e, quando termino o almoço, vou pego o aparelho novamente para continuar mas minha mãe me pergunta:

- Você não enjoa disso?

- Enjoo, mas não tem um só, tenho vário para prevenir - falo sorrindo para ela e recebo um olhar de deboche em resposta.

- Por que não faz outra coisa? - pergunta.

- Tipo? - não tem nada para fazer aqui.

- Sair? - fala como se fosse óbvio, mas passear pelo hospital não é meu passatempo favorito.

- Estou bem aqui dentro - mesmo ficando várias vezes entediado sair é tão trabalhoso.

- Pintar está fora de cogitação, não é? - pergunta com um pouco de esperança.

- Por enquanto sim.

- Um avanço - fala satisfeita. - Alguém pra conversar? Que horas SOL vem?

- Ela não vem hoje - falo.

- Não? Mas hoje é segunda.

- Ela vai fazer o suneung na quinta - explico. - Só vem na sexta ou sábado.

- Ah... e acredito que não tenha feito nenhum amigo com esse celular.

- Não mesmo.

- Você devia usar o celular para isso.

- Eu não confio em pessoas da internet - falo e ela revira os olhos.

- Certo, medroso. Vamos conversar então.

- Conversar? - pergunto.

- Sim, coisas que as pessoas fazem para socializar.

Ótimo, vou socializar com minha mãe.

- Conversar sobre o quê? - pergunto sem muito interesse.

- Já vi que não quer - fala.

- Não é isso, é só que... nós passamos quase vinte e quatro horas por dia juntos e... você já sabe de tudo.

Já faz três anos que ela sabe mais da minha vida que eu.

- É, está certo. Eu te conheço há vinte anos. Mas você só me conhece há vinte anos. Talvez eu possa falar ao invés de você. O que você quer saber?

- Vai me contar segredos do seu passado? - pergunto brincando.

- Se você não quiser tudo bem. Pode voltar a jogar - fala abrindo um livro qualquer que está lendo há alguns dias.

- Não. Eu... Eu gostaria de ouvir - falo e ela me encara surpresa.

- Sério? - afirmo. - Não faz mal se não quiser.

- Não, é sério, quero mesmo.

- O.K. - fala animada se virando para mim. - Gostaria de ouvir sobre o quê?

- Como você conheceu meu pai? - pergunto ainda pensando na conversa esquisita de ontem à noite.

- Bom... foi na formatura, depois da cerimônia na escola eu e alguns amigos fomos num restaurante para comemorar. Combinamos que cada um poderia levar um acompanhante. Meu melhor amigo levou seu pai.

- Mesmo?

- Sim.

- E aí?

- Ele flertou e DoYon lhe deu um soco - fala rindo.

Forever - JJKOnde histórias criam vida. Descubra agora