15 - Receber o que deseja

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Acordo me sentindo descansado. Pego o celular e olho a hora: 14:38.

- O quê? - Quase grito.

- Por que gritou, garoto? - a garota fala me assustando e a encaro surpreso.

- Ainda está aqui? - pergunto.

- Bom, você está me vendo, não está? - diz.

- Aish, não precisa falar desse jeito - reclamo. - Eu acabei de acordar.

Ela ri.

- Desculpa, eu não quis ser rude, mas você estava dormindo e do nada grita. Eu me assustei. Sim, ainda estou aqui. Na verdade, fui em casa e voltei.

- Por quê? - pergunto e ela ri.

- Minha irmã está lá em casa e, apesar dela e minha mãe se amarem muito, toda vez elas brigam. Minha mãe quer que ela volte lá para casa e ela quer independência para morar sozinha. Então, depois de um café da manhã repleto de indiretas e olhos revirados, eu resolvi voltar, que eu ganhava mais.

"Pelo menos você dorme em silêncio e eu consegui estudar um pouco, por que elas logo começariam a gritar e..." Ela deixa a frase morrer.

- Sua irmã não mora com vocês... - falo esperando que ela entenda como uma pergunta.

Apesar de estar curioso, não quero que ela pense que estou me metendo na sua vida.

- Não, ela saiu de casa quando fez vinte. Ela queria trabalhar com arte e minha mãe não gostava da ideia, e fora de casa ela pode fazer o que quiser. Mas, quando meu pai morreu minha mãe queria que ela voltasse de qualquer jeito, aí elas brigaram feio, mas agora já estão de boa.

- Como... - penso em como falar isso de um jeito que não pareça forçado, mas não sei se tem como - Como você sente com relação a esse lance do seu pai? - pergunto.

- Com o fato de ele ter morrido? - afirmo com a cabeça e ela encara o nada por alguns segundos. - Bom, no começo foi muito ruim. Ele era um bom pai, sabe? E eu achava injusto o fato de ele ter ficado doente, sendo que tem tantas pessoas ruins saudáveis por aí. Eu quase entrei em depressão, mas depois, com a ajuda da minha irmã, eu aceitei.

"Hoje acredito que o que tem que acontecer vai acontecer, e, se ele foi, é porque era essa era a hora dele, o que ele precisava no momento."

Pareceu ser um tipo de conversa sobre religiosidade, mas resolvi não perguntar sobre isso, porque não é da minha conta no que ela crê ou deixa de crer.

- Por que a pergunta? - ela vem até a maca e sento encolhendo as pernas para dar espaço para ela sentar também.

Eu não queria ter que responder, Mas me sinto mal em ignorá-la depois dela ter me contado sobre seu pai.

Suspiro encarando o teto.

- Não sei. Desde que eu fui internado meu contato com meu pai foi diminuindo gradativamente e hoje é quase zero. Ele trabalha muito para pagar o tratamento, já que é uma coisa meio que experimental, iniciação privada, com parceria com o governo... Então ele normalmente não tem tempo de vir para cá. E quando você fala do seu pai eu me sinto meio mal por isso.

Ela suspira.

- Olha, eu não sei bem o que te dizer - fala abraçando os joelhos. - Se eu tivesse no seu lugar eu tentaria me reaproximar. Quando meu pai morreu foi a pior época da minha vida e se eu tivesse a oportunidade de ter algum momento a mais com ele, o mínimo que fosse, eu realmente iria atrás dela.

Ficamos em silêncio por um tempo até ela dizer:

- Vou colocar aquele junto com os outros.

- Quê? - pergunto confuso.

Forever - JJKOnde histórias criam vida. Descubra agora