4 - Uma linda flor

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Sexta feira de manhã, antes das nove, minha mãe fez o maior alvoroço para colocar quadros e tintas entulhando meu quarto.

Eu até perguntei ao médico se deixar toda aquela tralha no meio do caminho não ia atrapalhar, mas, infelizmente, ele me respondeu:

- Na verdade, JungKook, você praticar algo que gosta não é uma coisa ruim, na verdade, é uma coisa.

- Mas eu não gosto disso.

Minha mãe encara o médico com um olhar de: Tá vendo o que eu disse.

E ele suspira.

- Olha, JungKook, ninguém está te forçando a nada, aqui você faz o que quiser.

Eu queria poder fazer o que eu quisesse, mas essa é uma mentira descabida.

- Então eu quero que tire isso daqui - peço.

- Infelizmente - minha mãe fala. - Isso aqui é uma hierarquia, na qual eu estou acima de você. Então minha vontade de que fique é superior a sua de que não fique.

Encaro o médico para ver se há alguma chance de ganhar essa discussão.

- Eu não posso fazer nada, garoto. Ela ainda é sua mãe.

Suspiro cruzando os braços irritado.

Ótimo. Agora tenho que ficar olhando para toda essa tralha o dia todo.

Minha mãe tenta conversar comigo mas eu estou irritado. Então depois de um tempo ela resmunga algo que não presto atenção e vai embora.

Sinceramente, eu odeio sexta feiras. Não é só pelo fato de eu ter fisioterapia, coisa que eu odeio. Mas apenas acordar e pensar "hoje é sexta" me deixa pior. Nem nas terças eu me sinto tão mal. E eu não sei o porquê disso.

Na verdade, não sei o porquê de várias coisas desde que fui internado. No começo era algo que me irritava profundamente, mas depois de tanto tempo internado e de tantas perguntas sem resposta eu não ligo mais para isso.

Na concepção deles eu não sou alguém que precise saber sobre a minha vida ou o meu estado.

...

Ouço batidas na porta e uma Emy cabisbaixa entra.

- Olá Emy - falo encarando a garotinha confuso.

Ela normalmente não vem aqui aos domingos.

- Oi Kookie, posso ficar aqui com você? - ela pede olhando para baixo.

- Claro que pode, mas seu pai não vem te ver dia de hoje? - pergunto. - Por que veio pra cá?

- Ele... - ela respira fundo e acho que tenta não chorar. - Ele não vem hoje - ela diz tristinha.

- Tenho certeza que ele tem um bom motivo para isso - digo e ela faz um bico.

Mas logo sua atenção é desviada para a tralha no canto do quarto.

- O que são essas coisas? - ela pergunta.

Só a ideia de uma criança usando todo esse material profissional me assusta. Mas eu disse que não vou mais usar, não foi? Quem sou eu para negá-la.

- Algumas tintas e quadros - digo. - Nada importante.

Ela solta uma exclamação animada.

- Será que eu posso...

- Pode - digo antes mesmo que ela pergunte para que não possa mudar de ideia depois.

- Eba.

Ela pega uma tinta, daquelas de pote, que não são profissionais, o que me deixa mais tranquilo, e um papel e diz:

Forever - JJKOnde histórias criam vida. Descubra agora