3 - Esse é meu destino

1.7K 208 51
                                    

Acordo com um barulho incômodo.

- Minha mãe vai me matar - A garota fala baixo mexendo numa mochila que eu nem sabia que ela tinha trazido.

Murmuro algo apenas porque a luz está me agoniando e ainda deve estar cedo, mas ela ouve e me encara culpada.

- Desculpa, não queria te acordar, mas eu tenho que ir. Estou tão atrasada, não acredito que dormi aqui - fala para si mesma.

- Desculpa - peço.

Ela para de arrumar as coisas.

- Você não tem que pedir desculpas - ela fala. - Eu dormi aqui porque quis, bom quase - ela resmunga e volta a arrumar as coisas.

- Mas eu podia ter te acordado quando acabou o horário de visitas - falo me sentindo culpado por não ter pensado em como ela se sentiria ao acordar aqui.

- Não era algo que você precisasse fazer - ela diz. - Você dormiu bem? Comeu direito?

- S-sim? - falo confuso.

- Que bom, eu não sei se consigo vir amanhã ou qualquer dia essa semana. Mas, se minha mãe não me matar antes disso, eu volto segunda. Tchau JungKook, bom final de semana, continue comendo bem e dormindo direito.

Ela se curva e sai correndo.

Ela...

- Continue comendo bem e dormindo direito? - repito e rio. - Por que está rindo, JungKook? Não se envolva com a garota.

- Bom dia - minha mãe fala abrindo a porta e me assustando. - Eu trouxe café pra você e pra sua... cadê ela?

- Ela já foi, estava atrasada para alguma coisa - digo sem dar muita importância mas acabo rindo ao relembrar dela se curvando e correndo  logo em seguida.

- E como vocês se conheceram? - pergunta.

- A Emy trouxe ela aqui uma vez - digo.

- E você gosta dela? - ela me pergunta colocando a comida na mesinha.

- Eu vi a garota duas vezes - digo.

- E nunca ouviu falar de amor à primeira vista? - pergunta me ajudando a sentar.

- Mesmo que existisse, quem ia olha para uma pessoa doente e se apaixonar? - debocho.

- Não diga isso - minha mãe pede. - Continua lindo.

- Claro, por que um cara com subpeso, preso numa cama de hospital é o sonho de todas as garotas.

- JungKook... - Eu sei que ela se magoou, mas é a realidade eu aceitei e ela tem que aceitar também.

- Não importa, eu não estou procurando uma namorada de qualquer jeito.

Ela suspira.

- Certo, vamos mudar de assunto. O.K.?

- O.K.

- E então, dormiu bem? - ela me pergunta.

"Dormiu bem?" A garota me perguntou a mesma coisa.

- Por que está me perguntando se eu dormi bem? - pergunto momentaneamente confuso.

- Não posso? - pergunta rindo.

- Não é isso... por quê? Por que quer saber se eu dormi bem? - insisto.

- Como assim, JungKook? - ela pergunta confusa me deixando frustrado.

Suspiro.

- Não sei, só queria saber o porquê de perguntar isso sempre.

- Porque eu quero saber se dormiu bem - fala simples. - Eu me preocupo com você, sei que dormir aqui é desconfortável e...

- Se preocupa comigo...? - balbucio.

Mas a garota não se preocupa comigo, ela me viu duas vezes. Não pode ser isso.

- Claro que eu me preocupo. Você está bem? - Ela coloca a mão na minha testa e trato de tirá-la.

- Sim, sim. Só estou um pouco confuso - falo.

- O médico mudou sua medicação? - ela vai até a beira da cama e começa a falar sozinha.

Ela deve ter falado só por educação. É com certeza.

É isso, foi por educação.

- O que é isso? - minha mãe pergunta com um papel amassado na mão.

- Não sei.

Ela desamassa o mesmo.

- Que desenhos bonitos - ela diz. - Você que fez?

Lembro que amassei o papel da garota e joguei longe ontem.

- Não - digo e ela me encara.

- Faz quanto tempo que você não pinta?

- Eu não quero pintar, mãe - falo pela milésima vez.

Eu fiz um quadro bom e agora ela acha que eu sou o Picasso.

- Então eu devia me desfazer de todo aquele material de pintura que tem lá em casa?

Quatro anos atrás eu fiz ela comprar várias tintas e quadros. Eu realmente queria começar a pintar, eu gostava muito.

Mas depois que eu adoeci não vejo mais porquê pintar, eu não quero me empenhar sendo que posso nem sair daqui.

- Bom, e se eu trouxer as coisas para cá? Assim eu abro espaço em casa e se você mudar de ideia vão estar aqui.

- Mãe... - falo manhoso fazendo birra para que mude de ideia.

- Pare com isso - ela reclama. - Se não quiser você não pinta, mas eu vou trazer. Pelo menos abre espaço nos armários lá de casa.

Suspiro.

- Amor, eu só quero o seu bem - ela vem até mim e segura minha mão.

- Eu sei - falo. - Mas não tenho mais motivação para pintar...

- Eu sei que vai encontrar - ela levanta minha franja e beija minha testa. - Vou pegar sua comida.

Forever - JJKOnde histórias criam vida. Descubra agora