Na terça a fisioterapia foi tranquila, me sinto bem por estar criando confiança para voltar a andar. Apesar de tudo não estou tão ruim quanto eu pensei que estaria e não dói.
Mas mesmo assim tenho medo do que vai acontecer na sexta, quando o fisioterapeuta disse que eu vou poder andar sozinho. Ainda fico com um frio na barriga. Eu nunca passei tanto tempo sem andar como dessa vez e estou me sentindo inseguro.
Agora já é quarta e eu estou ansioso porque quero ver o desenho que ela fez de mim como presente de aniversário. Eu nunca vi nenhum desenho dela, então estou agoniado porque as horas não passam.
...
Assim que dá duas horas eu paro de jogar (não que eu estivesse fazendo-o bem, já que checava as horas de trinta em trinta segundos) e encaro a porta esperando que ela apareça.
Mas ela não o faz por demorados três minutos. E quando faz para para colocar uma mochila no sofá e descansar apoiada no móvel.
- Oi - fala sorrindo e visivelmente cansada depois de um esforço.
- Oi, você veio correndo? - pergunto.
- Eu vim com sete quilos nas costas - diz. - apontando para a mochila.
- Por quê?
- Porque eu tenho provas - diz.
- Ah - falo entendendo a situação. - Nesse caso não precisava ter vindo. Podia ter ficado estudando.
- Mas eu vou estudar, só que você vai me ajudar - diz sorrindo de modo sugestivo.
- Você esqueceu daquela conversa que nós tivemos? - pergunto. - Eu não vou a escola há três anos, não tem como eu te ajudar, eu não sei o assunto - reclamo.
- Por isso mesmo, é perfeito. Eu preciso que você peça para eu te ensinar.
- O quê? - pergunto besta. - Como isso te ajuda?
- Eu gosto de explicar o que eu entendo para as pessoas, mas todos estão muito ocupados estudando para perder tempo com isso. Então, normalmente faço com minha irmã, mas ela não presta atenção no que eu falo e isso é frustrante.
- E o que te faz pensar que eu quero estudar?
- Você podia ter um pouco de empatia - ela fala. - Eu fico aqui a tarde inteira sem estudar, quer que eu perca no suneung*?
- Está insinuando que eu atrapalho seus estudos? - pergunto.
- Claro que não. Eu estou afirmando. Quem mandou você ser tão legal? Eu passo todo o meu tempo livre aqui e não estudo o suficiente.
Encaro minhas mãos.
- Ei, eu não falei para magoar, o.k.? - ela diz. - Eu venho porque quero. Se estivesse me atrapalhando eu não viria.
Afirmo com a cabeça sem certeza se ela está falando a verdade.
- A propósito, comecei seu desenho ontem, eu achei que ia terminar ontem mesmo, mas aí deu uma da manhã e não tinha nem metade - ela faz um grunhido fofinho, como um gato. - Claro que isso também não é sua culpa, é minha que resolvi fazer, sendo que eu podia ter te comprado um chocolate e estaria tudo certo.
- Eu gostaria de um chocolate - falo já me sentindo com fome.
- Eu te compro depois - ela diz e sorrio. - Mas eu quero ajuda para estudar - ela faz um biquinho e pisca. - Por favor.
Por que tão fofa?
Suspiro e concordo com a cabeça.
- Obrigada - ela fala animada.
Encolho as pernas na cama mas ela senta no sofá.
- Se... se você quiser... Bom... pode sentar aqui, para ficar melhor, mas só se você quiser...
Ela sorri com vergonha e fico feliz de não ser o único, depois levanta e vem até mim se sentando na beira da cama com as pernas cruzadas.
- Certo, o que você sabe da dinastia Joseon?
...
Depois de duas horas dela me explicando sobre o assunto, e me forçando a fazer perguntas para que ela explicasse de novo eu até acabei aprendendo alguma coisa.
Eu até gostei de aprender um pouco sobre isso, porque é interessante, mas eu nunca diria isso para ela.
- Certo, agora a gente assiste um drama e crítica tudo que está errado - fala tirando o notebook da bolsa.
- Ah não - falo. - Porque você está me torturando desse jeito? - falo me jogando na cama. - A gente não pode continuar Stranger Things? Ou simplesmente matar alguns zumbis? - pergunto me referindo ao jogo do celular.
- Vamos, JungKook. Eu achei um que parece muito bom.
- Não, você pode assistir em casa. - cruzo os braços. - Vamos ver Stranger Things ou eu vou assistir sem você.
- Está me ameaçando, JungKook? - ela pergunta rindo.
- Talvez - falo erguendo uma sobrancelha.
- O.K. Eu... - seu celular toca, ela pega o aparelho e encara a tela confusa atendendo em seguida. - Oi, amor, aconteceu algo? - Pede um minuto com a mão saindo do quarto.
- Amor - repito baixo sentindo uma sensação estranha de desconforto.
Ela demora muito mais que um minuto para voltar. Mais de cinco.
- Oi - ela diz quando volta. - Em minha defesa, a fila daquele lugar era imensa.
Ela me mostra um pedaço de torta que teria me animado muito mais se eu não tivesse ouvido o começo daquela ligação.
- O que foi? - ela pergunta enquanto comemos. - Você está estranho.
- Não estou - falo seco.
- Tá bom - ela imita meu tom me irritando mais.
Eu não sei bem o porquê de estar irritado, mas eu estou. Muito.
- Que bom que você não está irritado... Então eu não preciso colocar homem de de ferro para te deixar de bom humor novamente.
Encaro-a.
- Homem de ferro? - pergunto tentando me manter sério.
- É... Eu estava pensando que nós podíamos ver, mas...
- Eu estou bem irritado - falo.
- Ah é? - ela se aproxima de mim me deixando com vergonha. - E por que está irritado? Em, JungKook?
- E-eu... - ela está muito próxima. Me encosto na cama para me afastar um pouco e desvio o olhar do seu com vergonha. - Eu não sei, apenas me irritei.
- Tá de TPM, é?
- O-o quê? - pergunto meio confuso porque, apesar de ter me afastado, ela continua próxima.
- Desejo de doce, irritação, manha... Eu acho que está.
- Eu... - Não termino a frase é ela ri se afastando.
- Então vamos ver o filme. Aí se você chorar saberemos que realmente está.
*suneung é tipo um ENEM da Coreia, mas é uma coisa bem mais organizada. Pelo que eu li são oito horas de prova e a cidade para para que não tenha barulhos externos para atrapalhar os alunos. (Enquanto no Brasil têm jogo e show no dia).
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Forever - JJK
Fiksi PenggemarJungKook já perdeu as esperanças. Um garoto mimado rabugento e, vamos admitir, um pouco dramático. É verdade que ele está internado há três anos, mas sua doença nem é tão grave assim. Tudo bem ele fazer um pouco de drama. Mas ele precisava mesmo ter...