Capítulo 34

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Eu não recordava o que era estar tão nervosa como estava naquele momento indo encontrar meus oficiais. Passei a mão pelo que parecia a milésima vez na minha farda.

Era normal vir encontrá-los usando o uniforme e eu estava lá com o meu, bem como todas as medalhas, todo o peso da minha posição, fiz de propósito é claro.

Eu queria que fosse lembrado meu valor, que eu era uma das melhores agentes do governo, se não há melhor, pois nesse momento precisaria recordar a todos quem era, pois tinha uma grande chance de ser rebaixada.

- Agente Sullivan, entre, por favor, o oficial Cobra a aguarda!

Arthur Cobra, meu chefe direto, depois do líder do governo não havia ninguém mais poderoso que ele dentro da instituição. Dei um aceno a secretária dele e seguir até sua sala.

Antes de entrar arrumei minha boina, passando a mão pelo coque, checando minhas medalhas para saber se todas estavam na posição correta, então botei minha melhor face fria e entrei.

- Sullivan!

Ele disse com um sorriso sentando atrás da enorme mesa de madeira. Era algo antigo e cheio de poder. Sua posição exigia uma imagem não menos que intimidante e por muito anos, até aquele dia, nunca fui atingida por essa "intimidação".

- Oficial!

Prestei continência e ele deu um aceno.

-  Fora de forma, sente-se, temos muito o que falar daquela bagunça que a Cúpula anda aprontando!

Me sentei a sua frente tentando não dizer que "bagunça" era uma palavra muito branda para o que estava realmente acontecendo ali. Não era desorganização, na minha opinião relativamente importante, aquilo era um golpe/ataque.

- Creio que foi informado do roubo de informações.

- Sim, ontem, depois recebi sua mensagem e sabia que era sobre isso que devia querer falar.

- Basicamente...

"E também o fato de que estou em um relacionamento com um NE..."

- Relatório, por favor!

Respirei fundo procurando melhor tratativa inicial.

- O ataque do jornalista, que tem altos indícios de ser uma célula, pode ter sido só um pretexto para o roubo, o dispositivo usado era militar, não foi deixado rastro nenhum, temos apenas as evidências do apartamento dele e ainda sim é bem pouco! 

- A posição da Stacy quanto a tudo isso?

O rumo que virou a tratativa me deixou um pouco fora de eixo por alguns segundos.

- Limpa!

- Nenhum indício de improbidade?

- Não... - Ajeitei minha posição antes de continuar. - O que isso tem haver?

- O alto conselho do governo anda falando que depois de tantos erros talvez ela não esteja mais apta a coordenação... Seus relatórios tem sido bem esclarecedores!

Engoli em seco. 

Não! merda não... 

Fiz um mapa mental de tudo que escrevi e nada daquilo poderia ser tomado como uma espécie de revelação quanto ao controle da Claire, nunca coloquei em "cheque", se eles estavam fazendo isso era distorcendo minhas palavras.

- A Stacy está mais que apta, porém vejo forças externas que se movem para a atacar, na posição em que ela se colocou é normal.

- Pode ser Sullivan, mas medidas precisam ser tomadas, ainda mais em relação aquele roubo.

- Espero que sejam de apoio a Stacy... Ela sanou o problema e lhes enviou a situação, alinhou as frentes contra o problema...

Ele me olhou por um momento totalmente silencioso e impassível.

- Você me parece condescende... Deixá-la tanto tempo exposta naquele campo foi um má ideia?

Minha espinha gelou. Não gostei do que foi dito e muito menos do tom.

- Estou sendo justa.

- Também está sendo justa se envolvendo com um NE?

O chão pareceu se abrir embaixo dos meus pés. Encarei meu oficial sem palavras e com o choque visível em meu rosto. Olhei para minhas mãos em meu colo respirando fundo e buscando me reordenar.

Foco, foco...

Ele tinha me pegado de surpresa, esperei que tivesse algum tempo para preparar o terreno, explicar a situação com minhas palavras, porém agora não dava mais, eu só tinha que ir ao ataque.

- Ele se chama Aeron, mas devo imaginar que já sabe. - O encarei firme. - Quantos espiões tem lá dentro?

- O suficiente para ver que está comprometida!

As palavras dele foram como me enfiar um soco na cara e eu preferia mil vezes está apanhando de verdade do que verbalmente.

- Não estou, meu relacionamento com Aeron não afeta em nada minhas decisões, se eu visse algo errado com o comando da Stacy ou de qualquer outra coisa na Cúpula eu diria.

Meu oficial me encarava de volta como um iceberg.

- Você está sendo redirecionada a outra missão.

Eu acho que eu ia começar a sufocar. Todos os meus pensamentos foram para o Aeron, eu não podia ser redirecionada a outra missão, não agora, não mais.

Aquilo queria dizer que provavelmente Cobra iria me mandar para uma zona de conflito em guerra, como um castigo, até me ter na merda, só assim eu poderia voltar as minhas missões normais.

Eu já tinha visto ele fazer isso, muitas vezes eu até lhe sugerir o local para enfiar o agente comprometido, mas nunca pensei que pudesse passar por isso.

- Senhor, peço que reavalie.

- Você está fora do programa da Stacy... - Ele sacudiu a cabeça em negativa. - Porra, que merda há na sua cabeça, estragou tudo, confiei em você o que faz, fode com um animal?

Eu quis virar a merda daquela mesa em cima dele. Depois enchê-lo de socos. Respirei fundo controlando cada grama da minha raiva.

- Aeron não é um animal, senhor. Nós estamos juntos, não fodendo!

Disse sem um pingo de hesitação. Ele semicerrou os olhos frio, sem nada demonstra. Bem típico. Mas me intimidar não ia.

- Ah então sinto muito, tem um dia para recolher suas coisas do prédio da Stacy, bem como se despedir desse Aeron e seguir para sua nova missão, caso negue, pode ficar contente em ficar na geladeira ou quem saber perder sua patente!

Eu estava sendo encurralada. Ir para a geladeira significava ficar afastadas de todas e qualquer missão por muito, muito tempo, ainda ser mandada para um escritório decadente do governo onde judas perdeu as botas, por Deus sabe quanto tempo, então não iria ver mais Aeron, porém perder minha patente era muito pior, era como tirar uma parte minha. Cobra me queria fora e não parecia hesitar para isso.

- Se eu aceitar essa missão me dará a liberdade de tirar uma licença?

Cobra me olhou sem demostrar nada e então suspirou.

- Darei!

Dei um aceno. Eu sentia meu peito sendo comprimido e doía, doía muito, mas era aquilo, a única saída que eu via no momento. Escolher o caminho difícil era o único jeito de não perder o Aeron e uma parte inteira da minha vida, por mais que parecesse que era um erro.

- Tudo bem, passe-me as coordenadas da nova missão, eu aceito! 

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