Unbroken

Capítulo 36

Eu tinha vontade dizer que nunca queria ter conhecido a Elle, mas não conseguira, porque querer e fazer eram coisas diferentes.

- Aeron?

Escutei a batida na porta. Era Kall. Rosnei.

- Vá embora!

Ele continuou na porta. Eu podia sentir o seu cheiro.

- Aeron eu soube da Elle, ela se desligou da supervisão do programa e avisou a Claire que vocês dois brigaram.

Mais um rosnado escapou por mim. Eu não briguei porque queria. Ela me fez fazer aquilo, pois eu sabia que nunca seria a primeira escolha dela, que nós não tínhamos futuro juntos sendo que a qualquer momento poderia ter algo mais importante que fizesse esquecer de nós.

Eu queria uma família, com ela, filhos, mesmo que não fossem nossos de sangue, já que eu parecia não ter a capacidade de ser pai, entretanto ficaria muito feliz com filhos de coração, se ela quisesse também, nas não era esse o caso. Para Elle sempre ia ser mais importante sua próxima missão.

- Me deixe em paz!

- Aeron Não me faça quebrar essa porta. Por favor, fale comigo, não irei sair daqui nem por um inferno nos meus calcanhares.

Soltei um grunhido. Kall era um desgraçado teimoso. Me levantei do sofá indo até a porta e abrindo com raiva. Mostrei minhas presas tentando intimidar mesmo.

- Quero ficar sozinho.

Ele cruzou os braços em frente ao peito firmando sua postura como que dissesse que não iria sair dali.

- Não!

Rosnei. Queria bater em algo. Kall sabia disso e parecia provocar. Mas eu não queria irritar a Sky quebrando o marido dela. Ela era uma fêmea boa e não devia ser irritada.

- Que inferno Kall, me deixe sozinho para lamber minhas feridas.

Sua expressão ficou menos dura.

- Ela o deixou?

Era muito doloroso ficar admitindo em voz alta. Eu odiava. Virei as costas para ele voltando ao sofá. Elle me deixou e esses eram os fatos.

- Sim, disse que era temporário, mas mandei que ela fosse embora para sempre. Espero que tenha entendido meu adeus.

Me joguei no sofá querendo enterrar o rosto onde havia o cheiro dela. Eu já sentia sua falta. Kall entrou. Ele caminhou até o sofá se sentando ao meu lado e seus olhos muito atentos a mim.

- Por que a mandou embora?

Pisquei irritado. Ele era surdo?

- Ela veio me deixar. Queria que eu fizesse o que?

Kall encolheu os ombros.

- A Elle não é como a gente Aeron. Os humanos não são... Eles pensam muito no que lhes dão segurança e no que estão acostumados, confiam pouco nos sentimentos.

Eu não estava entendendo para onde o rumo daquela conversa ia. Meu coração estava despedaçado, eu estava, e não tinha paciência para aquilo.

- Pare com essa falação...

Ele deu um aceno negativo.

- Eu quero que entenda as coisas Aeron. A Elle tem um apego pelo trabalho dela porque foi a única coisa que sempre teve e lhe deu segurança...

Não gostava de ver ele falando dela com tamanho entendimento.

- Como sabe disso? Falou com ela, tocou nela?

Rosnei pronta para partir para cima dele e sem me importar em irritar sua esposa. Kall rosnou e negou.

- Claro que não. Sky e eu conversamos antes de eu vir aqui... Queria saber como te aconselhar. Imaginei que tivesse rompido com a Elle quando vi lágrimas nos olhos dela.

Eu odiava saber que ela estava chorando. Eu me odiava por isso. Mas tinha que ser feito.

- Ela escolheu o trabalho. A missão, sempre vai ser isso.

- Não se você mostrar para ela que pode ter algo mais...

Neguei. Aquilo estava errado. Eu já tinha tentado mostrar para ela que podia ser um bom macho.

- Já tentei conquistá-la, não deu certo.

- Claro que deu. Ela veio aqui e queria manter o relacionamento, mas obviamente também quis manter a vida que tinha, ela não escolheu só a missão, escolheu você também, tudo bem que iria ficar longe, mas ainda sim ela seria sua... Vocês podiam tentar se ajustar mais na frente, porque no fundo Aeron não podemos exigir da nossa companheira humana o mesmo sentimento que temos, nós somos diferentes, nos amamos de maneira intensa desde o começo, mas eles não, leva tempo e confiança, em alguns casos... Sua fêmea parece ser um caso desse. Ela ficou sozinha muito tempo para reconhecer o que é o amor quando está diante de um...

As palavras dele entravam pela minha cabeça. Parte fazia muito sentido ou praticamente tudo. Porém algo estava fora a ordem ali.

- Ela disse que me amava, pediu para eu confiar...

Kall suspirou e colocou a mão no meu ombro.

- E por que não confia? O que perde esperando ela voltar?

Engoli em seco. O que eu perderia?

- E se ela não voltar? Se for embora e descobrir que não me quer.

Kall encolheu os ombros.

- É um risco, mas pelo jeito como ela saiu daqui, acho muito difícil Aeron. Ela voltaria.

Engoli em seco. Será que eu tinha colocado tudo a perder mandando ela embora?

××

Sempre achei uma puta historinha essa de que o órgão mais potente do corpo humano pudesse ficar despedaçado, mas fato era, que podia até não ter vestígios físicos dessa destruição, porém eu sentia tudo aquilo.

- Merda!

Encarei o teto do meu apartamento como fiz durante toda aquela noite. Eu não tinha conseguido dormir. Minha cabeça só girava, todos os meus pensamentos indo e vindo, todos na direção do Aeron. As lembranças me acertando com a força de um tsunami e destruindo tudo no caminho.

Achava que as palavras dele iriam me assombrar para o resto da vida até a hora da minha morte. Eu tinha poucas certezas agora, mas uma das que me sobrou, era que Aeron seria o meu sonho e meu pesadelo eterno.

Como todos diziam que eu faria, partir seu coração, e o partir de uma forma irreparável, a qual pude ver. Ele nem me queria mais por perto e isso doía muito. Aeron terminou o que tínhamos.

Estava claro que nunca mais queria me ver e eu devia estar grata, porque minha vida iria voltar ao que era, mas em meu coração eu sabia que não era isso que eu queria.

Meu desejo era ter Aeron ocupando minha vida inteira e poder dividir as coisas com ele, mas o sonho se foi. Tudo se foi. Uma batida alta na porta me fez pular na cama. O que diabos era isso?