Capítulo 3

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...
Me apagaram. Fizeram de propósito. Rosnei sentindo meu corpo voltar a responder, quando abrir os olhos, eu estava de novo dentro de uma caixa de vidro. Malditos. Todos eles. Me mantinham naquele lugar contando mentiras sobre liberdade, isso não existia para mim, mesmo que todos teimassem em dizer que sim.

Eu não era como eles. Eu era um monstro. Todos que tinham vindo até mim diziam que poderiam me ajudar, que eu teria liberdade, mas sabia, isso nunca ia acontecer, porque eu estava preso dentro da minha própria cabeça, tudo se repetindo sempre. Que tipo de vida um assassino poderia ter? Nenhuma.

A morte era a única coisa que podia tolerar, antes não era possível, mas naquele momento si. Havia chegado tão perto, iria me jogar daquele prédio, com a altura era quase impossível não destruir algum órgão vital. Pensei neste modo, pois uma arma eu não tolerava usar, e com algo cortante, ainda poderiam tentar me salvar.

Só que meu plano foi frustrado. Maldita fêmea. Como ela era um dos técnicos ruins? Será que os outros sabiam? Inferno. O problema era deles ou talvez estivessem mentindo. Sim. Mentir era o mais provável. Eu tinha acreditado que aqueles machos podiam falar a verdade, que eu apenas não queria para mim. Mas agora mudava tudo.

Aquela fêmea, pequena, loira, tinha me insultado. Falou da minha herança genética e disse ser uma técnica. Então algo estava errado. Muito errado. Rosnei lembrando das feições dela. Seu rosto era pequeno, olhos grandes e azuis, tinha lábios cheios, rosados.

Não dava para negar que era totalmente humana, e tinha cheiro de comida. Mas era má e tola, porque pediu para morrer em suas mãos quando o desmereceu. Não tinha qualquer orgulho em matar uma fêmea, mas faria, se aquela era do mal.

- Você acordou!

Aquele sujeito, Kall, estava ali novamente. Continuei parado na cama.

- Vamos, fale comigo, quero te pedir desculpas pelo sedativo, mas não por te salvar... Bom, na verdade, tenho que te explicar uma coisa, é sobre a fêmea.

Fiquei parado. Ele fez silêncio como se esperasse minha atenção. Sentei de mal humor e lancei um olhar duro na sua direção.

- Quer me contar mais mentiras?

Ele negou.

- Eu não minto. Mas sei que o que aconteceu hoje pode ser confuso. Só que não é o que parece. Aquela fêmea não é do mal, seu nome é Elle Sullivan, tem trabalhado aqui conosco, fez aquilo para atrair sua atenção e te tirar da beira do prédio, para que eu pudesse te apagar com o sedativo. Ninguém queria que você morresse.

Confusão foi o que ficou em mim. Eles diziam coisas e depois mais outras, era difícil acompanhar.

- Não acredito em vocês.

- Pois devia. Devia acreditar que pode ter uma vida, está livre. Não tem porque se matar.

- Se eu estou livre, porque não posso querer por um fim a mim mesmo? Tem ideia de que não suporto a mim mesmo?

Kall se mexeu com claro desconforto.

- Sinto muito. Mas é um de nós, não podemos deixar que morra. Por isso fizemos tudo aquilo hoje.

- Ela insultou minhas origens.

Ele suspirou.

- A farei pedir desculpas, mas foi necessário.

- Eu não queria ser salvo.

- Por favor, tente colaborar. Dê uma chance, olhe como pode ser a vida aqui fora, pelo menos um tempo... Eu... Eu juro que se nada te atrair para viver, levarei sua petição sobre por um fim a si mesmo, para ser discutida. No momento, nenhum de nós pode considerar ouvir isso. Mas tem minha palavra que se mesmo depois de ver o mundo, ainda quiser partir, iremos escutar seus argumentos.

Eu não devia confiar neles. Isso era a verdade. Virei o rosto o ignorando. Minha vida acabaria de alguma forma e não precisaria recorrer a nenhum trato com eles.

- Fora!

- 867 pense...

- Não me chame mais por esse número. Agora fora!

Rosnei mostrando minhas presas. Kall recuou, então saiu, me deixando sozinho, como eu sempre fui. Assim era melhor, agora tinha que pensar em um outro jeito de acabar comigo, apostava que agora eles iam mudar o procedimento de me servir comida, então pegar outra pessoa que viesse me servi, estava fora da linha.

×××

Kall me olhava tranquilamente apesar de muito sério.

- Deixe-me ver se entendi. Devo ir me desculpar por ter salvo a vida dele?

Ele suspirou cruzando os braços fortes em frente ao corpo. A sala que me foi atribuída ficou estranhamente menor com ele ali.

- Não, mas por ter insultado a herança genética dele. Por favor, vá até lá, ele acha que você é uma técnica do ECP, está novamente desconfiado de mentiras, essa fase, antes, tínhamos passado.

Coçei minha nuca dando um suspiro. Deus. Esses NE's eram poços de complicação.

- Ok. Certo Kall, farei isso. Pode ser mais tarde?

Ele soltou um rosnado muito baixo, mais como um grunhido.

- Se puder ser agora, eu agradeço.

Eu via que o homem se esforçava para ser educado. Muito ao contrário dos outros, na verdade, apenas Grey parecia ser o mais sem educação, ou na verdade, selvagem.

- Certo. Vamos logo lá. Sei que provavelmente seu irmão viria aqui fazendo uma cena.

- Grey está muito chateado. Erramos, e você nos adverteu na frente de todos, ele não lida bem com isso.

Levantei as sobrancelhas enquanto sair de trás da mesa de trabalho.

- Me diga algo que vocês lidam bem então?

Kall sorriu.

- Nossas companheiras.

Bufei. Era fácil falar com Kall. Apesar de que quando cheguei achei que ele ia me jogar da escada por eu sugerir que Sky abusou dele. Não que eu realmente acreditasse, ainda mais olhando seu tamanho, todavia, eu estava ali para questionar tudo, não para ser agradável. Porém ele parecia ter superado esse episódio, ainda mais pelo fato de que eu não insistir em ver seu filho, nunca nem tive vislumbre do garoto NE.

- Vocês tem ideia do que fazer com esse 867?

Perguntei quando entramos no elevador. Kall sacudiu a cabeça.

- Estamos tentando mostrar que ele tem opções na vida.

Descemos de repente, vi que o botão usado pelo Kall era especial, parecia ler a digital.

- E está dando certo?

Kall deu de ombros.

- O que acha?

A porta do elevador se abriu em uma área que eu ainda não tinha ido. Sair observando e dando de ombros.

- Acho que não está dando certo.

Ele nada mais disse. Eu sabia que era pelo fato de eu reportar tudo em relatórios, mas havia coisas, que nunca coloquei ali. Era estranho, mas eu simpatizava, do meu jeito, com aquela sociedade diferente de todos ali. Andamos até o final do corredor, ele digitou o número em um painel, então uma porta automática se abriu.

- Tente parecer dócil.

Ele disse e eu fiz uma careta.

- Como é que é?

- Você olha muito nos olhos, nunca se desvia, e não baixa sua postura. Peço apenas que não faça isso com ele, pode fazê-lo interpretar errado as coisas.

Sacudi a cabeça, não em concordância ou negativa, apenas fiz o gesto com certa incredulidade. Kall passou pela porta, eu o segui, então avistei uma grande parede de vidro, ou na verdade um material forte, e dentro tinha alguém, ou melhor, ele.

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