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Vitória Falcão

Passo o pincel suavemente pela tela. Olho novamente a paisagem e arrumo alguns tons com a tinta. Termino a minha pintura enquanto espero a Fernanda arrumar minha mala.

Irei viajar com meus pais para Araguaína, Tocantins. Quase não ouço falar sobre essa cidade, não vejo o por que dessa viagem, mas irei ir — não quero decepcionar meus pais. Segundo minha mãe, lá tem uma modelo "perfeita para a sua nova coleção de roupas".

— Falcão, suas malas estão prontas. — Fernanda, a empregada da casa fala. Não a considero como uma empregada, mas sim como uma amiga. Ela sempre me ajuda quando preciso e me segura quando estou prestes a sair da linha.

— Já estou indo!

Limpo o pincel e me levanto. Olho o resultado da minha arte fico muito, mas muito orgulhosa de mim mesma. Me viro e caminho até a saída. Desço as escadas e encontro minha mãe em pé na sala, provavelmente a minha espera.

— Vamos. — ela diz, logo começando a andar em direção a porta. Hesitei por um instante, mas a segui. Coloco minhas malas no porta-malas e entro no carro, que logo da partida.

Horas de viagem. Já li, dormi, até tirei fotos da paisagem e do céu... Mas nada parecia fazer o tempo passar mais rápido. Vou dormir de novo.

Acordo com mamãe balançando meu corpo levemente. Isso significa que — finalmente — chegamos ao nosso destino. Me levanto e saio do carro. Olho em volta. Apesar da cidade ser pequena, tenho que admitir, tem uma beleza única e inexplicável.

Iremos nos instalar em um hotel. Ele é simples, mas sofisticado. As paredes são brancas com alguns detalhes amarelo pastel, três andares, porta de madeira e algumas janelas medianas. Pego minhas malas e adentro o hotel, dou de cara com uma recepção simples — apenas um balcão de madeira, um mini notebook em cima do mesmo e um caderninho —, vou até a mulher que está sentada atrás do balcão.

— Olá. Com licença — ela desvia a atenção antes voltada para o caderno para mim —, eu e meus pais iremos nos hospedar aqui por algumas semanas...

— Olá, bom dia. Qual é o nome do responsável pelo alugamento?

— Isabel Falcão. — eu respondo. Vejo mamãe entrando com duas bolsas na mão e papai vindo atrás dela, no fundo vejo também Fernanda com as malas.

— Ah! Vocês são os hóspedes tão esperados por todos. Esperem alguns segundos, por favor. — a mulher digitou algumas coisas no teclado e se levantou. — Meu nome é Carla e eu vou fazer a tour do hotel com vocês. Iremos começar com a parte externa.

Saímos do hotel e Carla começou a mostrar e contar a história do hotel, chamado Caetano's Hotel. Um belo nome. Não prestei muita atenção, apenas os acompanhavam e observava tudo, me perguntando a cada cinco minutos se ainda faltava muito para aquela tour acabar. Passamos por cada canto do hotel. Agradeci mentalmente quando Carla anunciou: "E aqui acaba a nossa tour". Puxei Fernanda de canto e disse que queria ir para o meu quarto. Quando nos viramos mamãe perguntou para onde eu estava indo, respondi que estava cansada e queria descansar um pouco. Ela apenas concordou e falou que às 12:00 nós tinhamos compromisso — com 'nós' ela quis dizer apenas ela e papai, porque eu não faço nenhuma diferença nessas ocasiões.

— Não se preocupe, senhora. Irei deixá-la pronta antes da hora.

Nos viramos novamente e fomos até o elevador. Chegamos ao nosso andar e peguei a chave, destrancando a porta. Entro no cômodo e assim que vejo a cama me deito.

— Nossa, você deve estar muito cansada. — Fernanda fala, deixando as malas no canto do quarto.

— Você não faz idéia do quanto.

Ela abriu minas malas e arrumou minas coisas no guarda-roupa embutido. A convidei para se deitar ao meu lado e ela não hesitou. Deitei minha cabeça em seu colo e comecei a receber um cafuné da mesma. Não percebi quando apaguei. De novo.

[...]

Sinto uma voz me chamar calmamente e acabo despertando. Estava sonhando que estava sentada na grama, olhando o horizonte com uma garota de cabelos negros ao meu lado. O mais estranho é que eu não me lembro de mais nada, e eu nunca vi ela. Abro meus olhos e encontro Fernanda ao lado da cama lendo um livro, sentada na poltrona.

— São 10:00, te acordei agora porque achei que você quisesse dar uma volta para conhecer um pouco da cidade. Suas roupas estão na parte direita do guarda-roupa. — ela volta a ler o livro assim que termina a frase.

— Obrigada.

Me levanto e vou para o banheiro. Retiro toda a minha roupa e entro debaixo do chuveiro. Tomo um banho de cinco minutos e lavo meu cabelo. Desligo a água e me enrolo com a toalha. Escolho uma calça e um cropped preto para vestir com um tênis simples. Me visto e enxaguo meu cabelo, o penteio e deixo ele solto para secar naturalmente.

Aviso para Fernanda que vou sair e peço para que se meus pais perguntassem sobre mim, eu estaria numa biblioteca. Pego minha câmera fotográfica e saio do hotel, começando a caminhar, mesmo não fazendo ideia de onde aquele caminho ia me levar.

Eu caminhava, observava o movimento, as pessoas — crianças brincando na rua, namorados trocando carinhos, famílias passeando —, os objetos, a rua, os comércios. E tirava foto se alguma coisa me chamava atenção e achasse que eu teria vontade de ver aquilo de novo depois. Andei mais. E mais. Observo um homem se aproximar de mim e esperei ele falar o que queria comigo.

— Nunca te vi por aqui, você é nova por essas bandas, não é?

— Sou sim. Estou apenas de passagem.

— Se quiser eu posso te apresentar a cidade.

— Eu mal sei qual é seu nome.

— Ah. Bruno. — ele estende a mão e eu a pego, damos um breve aperto de mãos.

— Vitória.

— Vamos? — eu concordo e o mesmo começa a andar, eu o acompanho.

[...]

— Como você não teve medo? — ele pergunta quando nos sentamos no banquinho da praça.

— Hum?

— Medo, de quando eu cheguei em você.

— Ah, não tinha um motivo para eu ter medo. Você não parecia querer me fazer nenhum mal, e aqui é uma cidade pequena, iriam descobrir fácil se tu fizesse alguma coisa. — Bruno apenas concorda.

Rodamos pela cidade. Tirei várias fotografias e respirei muito ar puro. Hora de voltar para casa. Olho meu relógio e são... 11:40!?  Meus pais — e Fernanda — vão me matar!

— Bru, eu tenho que correr para chegar de volta no hotel. — falo apressada já me levantando.

— Nossa , mas já? - ele se levanta também.

— É, tenho compromisso. Tchau, viu, qualquer hora a gente se encontra por aí. — dou um beijo em sua bochecha e vou embora. Na verdade, apenas me viro e paro, porque não faço a mínima ideia do caminho de volta para lá.

— À direita, segue reto. — Bruno fala com um meio sorriso no rosto.

— Obrigada.

Amor de verãoOnde histórias criam vida. Descubra agora