IX

343 24 3
                                    

Vitória Falcão

Entrei no hotel por volta das 4:00. Tirei meu Scarpin para não ter o trabalho de ficar na ponta dos pés. Todas as luzes estão apagadas, a luz do luar entra pelas janelas. Entro no meu quarto e coloco os sapatos no canto. Me jogo na cama logo depois.

Fico olhando para o teto, pensando na noite maravilhosa de hoje. Eu ainda consigo sentir seu gosto na minha boca. E suas mãos na minha nuca e na minha cintura, como se já tivessem ido lá um milhão de vezes.

Me levanto, pegando algodão e removedor de maquiagem e vou pra frente do espelho. Umedeço o algodão com o removedor e passo sobre minha pele. Quando termino, guardo as coisas e jogo os algodões que usei no lixo. Troco meu vestido pelo meu pijama e deito, me cobrindo.

[...]

Sinto a luz do sol invadir meu quarto. Abro meus olhos lentamente, me acostumando com a claridade. Fernanda acaba de abrir as cortinas.

— Bom dia, Vitória.

— Bom dia, Fê! — me espreguiço na cama. — Aconteceu alguma coisa? Parece que você tá estranha.

— Depois a gente conversa. — ela diz, simples, e sai do quarto. Me levanto e vou para o banheiro.

Escovo meus dentes e lavo meu rosto, depois prendo meu cabelo em um coque e volto para a cama. Ouço uma notificação e pego meu celular.

[9:00] Garota da caf.: Bom dia, Vi ☀️

[9:00] Você: Bom dia, NaClara :)

[9:01] Garota da caf.: Dormiu bem?

[9:01] Você: Acho que não dormia tão bem assim faz tempo.
[9:01] E vc?

[9:02] Garota da caf.: Dormi muitíssimo bem

[9:03] Você: Fico feliz em ler isso!

Envio a mensagem e mudo seu contato de "Garota da cafeteria" para "Ninha".
Bloqueio o celular e vejo meu reflexo, com um sorriso bobo no rosto. Ouço leves batidas na porta e meu sorriso se desmancha.

— Querida, posso entrar? — escuto a voz da minha mãe do outro lado da porta. Grito um "Sim!" e a mesma entra. Enquanto Isabel caminha em minha direção eu me arrumo na cama.

— Bom dia, mamãe.

— Bom dia, filha. Dormiu bem? — eu assinto. — Que bom. Não tenho te visto faz um tempo...

— A gente tá aqui há dois dias, mãe.

— Eu sei, mas eu sinto que você está mais ausente. Não me dá mais bom dia... — a interrompo.

— Acabei de te dar um 'bom dia' agora, e ontem também te dei, mas a senhora não respondeu, parece que tava muito ocupada no telefone. — ela não responde nada, apenas ignora a última frase dita por mim.

— Enfim, eu só queria passar mais tempo com você e seu pai, que nem nos velhos tempos, em família.

— Eu tenho compromisso hoje, mamãe — ela me olha confusa. — Aula de piano, a senhora mesma que me inscreveu. E inclusive, eu estou atrasada.

— Ah, sim. Bom, então, boa sorte. – Dona Isabel se retira do quarto. Suspiro.

Visto um vestido rodado verde claro e um sapato da mesma cor. Umedeço meu cabelo e passo creme no mesmo, o penteando e fazendo um coque novamente. Me olho no espelho e me sinto magnífica.

Saio do hotel e o motorista está me esperando com o carro do lado de fora. Entro no veículo e ele dá partida; chegamos na "escola" pouco tempo depois. O agradeço e saio.

Respiro fundo antes de entrar no local, que cheira a rosas e morangos. Pego meu celular e confiro onde é a minha sala, demoro um pouco mas a acho. Assim que entrei na sala, todos os olhares se direcionaram a mim, literalmente, todos. Dou um pequeno sorriso e me sento num banco vazio de frente para um piano no canto da sala.

Todos se apresentam e logo após a professora começa a nos ensinar primeiramente a ler partituras. Quando iriamos para a parte prática, alguém entra na sala ofegante.

— Oi, professora, desculpa a demora... — pera aí, eu conheço essa voz. Me viro e vejo Ana Clara praticamente do meu lado.

— Olá, Ana. Não se preocupe. Olha, todos os pianos estão ocupados, Vitória, você se importa de dividir o piano com Ana? — ela me pergunta.

— Claro que não, será um prazer!

— Ok, e por favor, pode explicar a ela também como se lê partituras? — eu assinto. — Ótimo, vamos prosseguir.

Ana se senta do meu lado, com o celular na mão e um sorriso de lado.

— Oi, Vi. — ela fala, ainda com o sorriso no rosto, me abraçando e me dando um beijo no canto da boca.

— Oi, Ana. — retribuo o abraço.

— Não sabia que tu fazia aula de piano.

— Pois é, minha mãe me inscreveu aqui...

— Silêncio, por favor! — a professora fala, continuando sua explicação logo depois.

[...]

Saímos da aula juntas, e eu acompanhei Ana até a cafeteria. Aproveito e entro para fazer um lanche. Me sento na mesma mesa de sempre.

— Chocolate e misto? — ela pergunta, amarrando seu avental.

— Isso mesmo. — eu a respondo sorrindo, enquanto ela vai até a cozinha. Respondo algumas mensagens até o pedido chegar. Vejo Ana se aproximar com a bandeja e desvio toda a minha atenção para ela. — Muito obrigada, Ninha.

— Ai, eu tenho um apelido novo, é? — ela fala, sorrindo de orelha-a-orelha. Seus olhos também sorriem.

— Mas é claro! Uma mulher dessas não merece ser chamada simplesmente pelo nome. Não por mim.

— Ai ai, Vi, só tu mesmo, viu... — Ana vai para o caixa, ainda sorrindo.

Como o meu lanche tranquilamente, sentindo novamente o olhar da morena em mim. Ás vezes - só as vezes - eu retribuía. Termino e vou ao caixa pagar a conta.

— R$7,50? — pergunto, já sabendo o preço pela vez passada que vim aqui.

— Isso. — ela sorri. — Cartão?

— Acertou. — tiro o cartão da capinha do celular enquanto Ana me passa a maquininha. Insiro o cartão, digito a senha e o pagamento é aprovado.

— A gente pode sair hoje, depois que o meu expediente acabar?

— Ô, Ana, eu queria muito, mas agora ficou mais difícil de sair, minha mãe falou que eu ando "passando muito tempo fora de casa", que tô "distante dela". Mas quem sabe, se tu for lá dar um 'Oi' pra sua mãe, eu, por acaso, esteja por perto. – dou um sorriso.

— Pois pode deixar! — ela sorri também. Me viro e caminho em direção à saída, escutando um "Volte sempre!", me viro de novo e dou uma piscadela.

Amor de verãoOnde histórias criam vida. Descubra agora