XXXII

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Ana Caetano

Eu não consigo nem explicar o quanto eu esperei por esse momento. Ver ela assim, dormindo que nem um anjo nos meus braços, é a visão do paraíso.

Me desperto de meus pensamentos ao escutar a campainha tocar. Tiro meu corpo debaixo do seu com o maior cuidado possível para não acordá-la e vou rapidamente atender a porta, antes que a campainha seja tocada novamente e acabe acordando minha Cacheada. Vejo Julia do outro lado da porta.

— Oi. — ela fala.
— Oi! — eu a respondo, de bom humor.

— Você não me mandou mais mensagem, pensei em ficar um tempo com você...

— Não dá. — ver seus olhos me olhando tão confusos me partiu o coração.

— Mas... Por quê?!

— Eu não estou... sozinha. — depois de alguns segundos, sinto alguém se aproximar de mim. Vitória.

— Oi! — ela se aproxima ainda mais, ficando atrás de mim. A olho pelo canto de olho, e vejo que ela está vestida apenas com um robe curto vermelho — Prazer, Vitória. — a cacheada estende sua mão e Julia a pega, dando um breve aperto de mãos.

— Julia. — ela dá um leve sorriso, logo depois soltando suas mãos.

— Cê não quer entrar, tomar um cházinho? — Vitória pergunta.

— Não, não, obrigada. — Julia a responde.

— Então, eu vou subir pra... fazer um negócio aí. — nós duas rimos enquanto Vitória ia embora. Foram alguns minutos de silêncio, até Julia falar.

— É ela, não é?

— O quê?

— A Vitória. — ela sorri, e eu sorrio junto com ela.

— Como você sabe? — a mulher apenas dá uma leve risada.

— É impossível não saber. — seu sorriso permanece no rosto, me analisando. — Bom, eu volto mais tarde pra pegar minhas coisas que tão aqui. Até. — ela acena rapidamente e se vira, indo embora.

Suspiro e entro novamente, trancando a porta. Me direciono ao meu quarto, onde Vitória está. A encontro deitada na cama.

— Oi, Ninha. — ela fala quando percebe minha presença.

— Oi, Cacheada. — me deito ao seu lado.

— Quem era ela?

— A Julia? — ela assente. — Ela foi minha primeira namorada. — sua boca se abre em formato de 'o' ao escutar a frase.

— E seus pais, gostam dela? — meu maxilar trava. Não consigo falar nada, apenas uma palavra.

— Gostavam.

Vitória me olha confusa, pedindo silenciosamente para eu explicar direito, que ela não tinha entendido essa resposta.

— Me explica, Ana. Por favor. E falando nisso, onde Dona Mônica tá? E seu pai? Até agora não vi eles, eles são uns amores. A gente podia marcar alguma coisa, né? Tô morrendo de saudade deles. Nossa, a lasanha da Dona Môn...

— Para! — a interrompo. — Por favor, Vi. Por favor — não consigo segurar, sinto as lágrimas descendo pela minha bochecha. Vitória me abraça, beijando minha testa e fazendo carinho em minha cabeça.

Ficamos minutos assim, sem mudar nenhum detalhe. Respiro fundo, seco minhas lágrimas e me viro para Vitória, olhando em seus olhos. Respiro fundo mais uma vez.

— Há um ano e nove meses... — respiro fundo novamente.

— Se cê não quiser falar, não precisa, Ninha. Eu não vou te obrigar a falar. — sinto as costas de sua mão passando pelo meu rosto, me fazendo arrepiar.

Amor de verãoOnde histórias criam vida. Descubra agora