XXIV

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Ana Caetano

Assim que chego em casa tiro meus sapatos e sento no sofá. Toco no meu bolso e não sinto meu celular. Por um momento fico apavorada mas segundos depois bufo ao lembrar que ele ficou na casa de Clarissa.

Fecho meus olhos e relaxo - por um instante -, até escutar batidas na porta. Ugh, quem será? Me levanto e vou até a entrada, vejo pelo olho mágico Julia do outro lado, reviro os olhos e abro a porta.

— Não sabia que você vinha... — falo.

— Também, você não atende o telefone! — ela entra, empurrando meu ombro levemente quando passa.

— Tô sem meu celular.

— Hmm... — a mulher se senta no sofá.

— E então, por que a visita?

— Te fazer companhia!?

— Não preciso disso hoje, obrigada. — continuo com a porta aberta, na esperança de que ela vá embora logo, mas Julia continua no mesmo lugar.

Ela fala de como foi o seu dia, ignorando o fato de eu ainda estar em pé ao lado da porta aberta. Me seguro para não revirar os olhos em sua frente e me sento ao seu lado, fingindo prestar atenção no que ela falava. Depois de minutos sem falar nada — por falta de oportunidade —, abro a boca pela primeira vez.

— Quer ir pro quarto? — ela apenas se levanta e anda em minha frente em direção ao cômodo.

[...]

Me desperto ao sentir Julia saindo da cama, mas finjo que ainda estou dormindo. A escuto abrindo a porta e... não, não pode ser. Será?

— É que ela esqueceu o celular quando foi pra São Paulo e eu vim devolver.

— E você é...? — Julia pergunta.

— Vitória. Uma... amiga bem próxima dela. — ela dá ênfase no "bem", rio levemente e volto a prestar atenção na conversa.

— Ah tá... E então? Cadê?

— Cadê o quê?

— O celular?!

— Bom, se você me deixar entrar e falar diretamente com a Ni... Ana, eu devolvo para ela. — Vitória dá ênfase novamente na última frase.

— Ela tá no quarto. — escuto seus saltos se aproximando do cômodo em que estou. Não seria um problema eu estar nua, se Julia não estivesse vestindo apenas um moletom meu.

Me levanto rapidamente e visto o primeiro vestido que encontro. Assim que me sento na cama, a vejo chegar na porta. Me viro em sua direção.

— Oi Ni... Ana. — ela sorri de canto, entrando no quarto.

— Oi, Vi. Não sabia que você ia vir aqui. — o apelido sai sem querer, enquanto Vitória se senta ao meu lado.

— Também né, sem o celular, como eu ia te avisar?! — ela tira o aparelho de dentro da sua bolsa preta.

Ela está vestindo uma calça jeans com um cropped branco, e de maquiagem, apenas batom vinho nos lábios. Vitória me entrega o aparelho e eu a agradeço.

— E então... quem é... aquela? — ela pergunta, meio sem jeito.

— É só uma amiga.

— Que dorme na sua casa, ambas acordam nuas e que usa suas roupas? — engulo a seco, e desvio o meu olhar.

— E o que você tem a ver com isso? — olho no fundo dos seus olhos, e vejo que mesmo tentando não demonstrar, ela se chateou.

— Verdade. O que eu tenho a ver com isso, não é mesmo? — fico em silêncio ao perceber que sua voz se alterou. — Você simplesmente me deu as costas e foi embora. Sem me dizer nada!

— Bem, não foi fácil pra mim escutar tudo aquilo vindo da sua mãe. Primeiro, eu ganho pouco; segundo, eu não posso ser o amor da sua vida pelo simples fato de seu uma mulher. Você queria que eu permanecesse do seu lado como se nada tivesse acontecido?!

— Uau. — Julia entra no cômodo. — Que amiga vocês são... Desculpa se eu atrapalhei alguma coisa.

— Não. Não atrapalhou nada. Eu já estava de saída, só vim devolver o celular dela mesmo. — Vitória se vira e vai embora, em olhar para trás e nem se despedir. Meu coração aperta ao me lembrar da última vez que isso aconteceu.

Permaneço em silêncio, ainda absorvendo o que aconteceu nos últimos minutos. Julia me abraça por trás, e eu desabo em lágrimas.

— Shhh... Vai ficar tudo bem.

Amor de verãoOnde histórias criam vida. Descubra agora