XV

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Narradora

Dias depois do jantar com os pais da namorada, Ana decidiu convidar Vitória a ir em sua casa mais uma vez.

Como de costume, ficaram um tempo na sala e depois subiram para o quarto da morena. Nunca percebiam quando começavam a se beijar.

Elas se deitavam, cansadas, e dormiam. Vitória sempre colocava o alarme às 0:30, para ir de volta para o hotel antes do amanhecer. O alarme tocou e as duas acordaram novamente. Vestiram suas roupas, calçaram seus sapatos e saíram de lá. Ana sempre acompanhava a namorada até o hotel - e aproveitava para beijá-la um pouco mais antes de se despedir.

As duas pararam no jardim, quase na entrada do hotel, e começaram a se abraçar, sentindo o cheiro uma da outra, a temperatura e a textura. Ficaram assim, apenas se sentindo. Tudo ia bem até escutarem a voz de Isabel Falcão gritando da recepção: "Vitória, venha até a recepção". A cacheada se assusta, olhando para a namorada.

— Eu volto logo. — Vitória fala, dando um selinho em Ana antes de entrar. A mesma entra segundos depois, não aguentando ficar do lado de fora.

Ela viu a mãe e a filha do lado mais afastado da recepção, a sogra se esforçava ao máximo para não gritar. A morena se senta em um dos sofás e tampa os ouvidos, assim que o tom da conversa começa a aumentar.

Ana escutava de longe e baixinho a discussão.

— Eu amo ela!

— Ela não é o amor da sua vida, tolinha! É apenas um amor de verão, passageiro como uma tempestade que acontece nessa estação. O verão acaba daqui a uma semana e meia, você vai ir para Nova Iorque, como vocês vão se ver?

— Para! Eu nunca escolhi isso! Sempre foi você, você, você! É a primeira vez que eu faço uma escolha importante na minha vida! E ela é o amor da minha vida, eu sei disso!

— Não, ela não é! Ela é uma garçonetezinha que em um mês não ganha nem um terço do que eu ganho em uma semana!

— E o que isso tem a ver?! Eu a amo, isso é o que importa!

— Ela não é certa para você. Apenas o fato dela ser mulher a faz não ser o amor da sua vida.

A morena não aguenta mais escutar tudo aquilo. Tira as mãos dos ouvidos e fica paralisada, segundos antes de se levantar, sem olhar para trás. Duas frases ecoavam em sua mente: "É apenas um amor de verão. Passageiro [...]", "O fato dela ser mulher já a faz não ser o amor da sua vida". Aquilo era demais para ela.

Quando Ana bate a porta a caminho do jardim, a cacheada percebe que a mesma foi embora e sai correndo atrás dela. Quando saiu do hotel viu a namorada quase na metade do quarteirão.

— Ninha! Ninha, volta por favor! Vamos conversar!

Ela gritava, na esperança de que a morena parasse pelo ao menos para escutá-la, mas isso não acontece.

— Ana! Qual é, vamos conversar! — a morena continua andando rápido, com a cabeça abaixada. — Se você não parar de andar agora, considere nosso relacionamento acabado — Ana parou, se virou e andou até a cacheada, mas parou a alguns passos de distância.

— Fala o que tu tem pra falar. — a morena fala com a voz firme, tentando não marejar ao escutar a voz da cacheada.

— Ana, eu te amo mais do que tudo nessa vida, você sabe que o que minha mãe falou não é verdade...

— Não é verdade?! Não é verdade que você vai para Nova Iorque quando o verão acabar? Que eu sou apenas uma "garçonetezinha" que não ganho em um mês nem um terço do que sua mãe ganha em una semana? Hein, responde!

— Para! Você sabe que não é assim! Não é assim! — a cacheada desconta sua raiva dando leves socos na clavícula da morena, que dá passos para trás.

— Não é assim?!

— Não! — Vitória continua dando leves socos no mesmo local, e Ana continua dando passos para trás.

— Eu preciso de um tempo para pensar, processar tudo o que aconteceu. — a mais baixa diz, se virando e começando a andar na direção oposta.

— Ei, está dizendo que terminou comigo?! — a cacheada pergunta, ainda com raiva, recebendo um "Sim" como resposta. — Ok, então terminamos.

A morena continuou andando, como se não estivesse escutado sua resposta.

— Ana, espera! Nós não terminamos, é só mais uma das nossas brigas, não é? Ei! — seu grito ecoava por quase toda a rua. Vitória já não conseguia ver Ana.

Amor de verãoOnde histórias criam vida. Descubra agora