Ana Caetano
Desfaço o abraço. Ela está sentada no sofá, com uma almofada no colo e uma taça de vinho na mão. Seu cabelo está maior, mais volumoso e definido; seu corpo está mais desenvolvido; ela está com um delineado e um pouco de lápis preto na linha d'água, também uma um batom vermelho; mas seus olhos continuam os mesmos.
— Oi, Ana. — Vitória fala. Eu não consigo falar nada, nem pensar. Simplesmente paralisei. — Tudo bem? — o silêncio continua.
— Uhum. — eu respondo rápido e o silêncio se faz presente novamente. Ela dá um quase sorriso e toma um gole da taça de vinho.
— Quer entrar? — Clarissa pergunta, depois de alguns segundos.
Não falo nada, apenas entro no apartamento. Clarissa se sentou no outro canto do sofá, não me deixando outra opção a não ser ficar no meio (e do lado de Vitória).
Eu estava tensa. Muito tensa. Quando Clarissa tentava criar um diálogo, eu só conseguia responder "sim", "não" e "não sei". Depois de muitas tentativas, minha amiga decidiu colocar um filme — Diário de uma paixão —, e foi para a cozinha fazer pipoca, me deixando a sós com Vitória. Ela me encarava, olhava no fundo dos meus olhos, quase que me desafiando, mas mesmo assim com um certo "receio".
— Eu te vi na capa de um jornal. — ela fala, tomando um gole de vinho. Não a respondo. — Pelo o que eu me lembro, o valor de venda da casa ainda não está definido, né?
— Sim.
Ela continua me encarando, olhando no fundo dos meus olhos. Eu obviamente não conseguia fazer o mesmo, concentrava o meu olhar em algum objeto ou detalhe da sala. Ouço as pipocas estourarem. Minutos depois Clarissa volta com um pote gigante de pipoca, e deixa no meu colo. Ela dá play no filme.
Ao longo do tempo fui ficando menos tensa. Em certo ponto, a mão de Vitória tocou a minha enquanto pegávamos pipoca na mesma hora. Eu me arrepiei e tirei minha mão de lá rapidamente.
[...]
O filme acabou. Olho no relógio e são 19:20. Ainda estou sentada entre as duas, que de vez em quando tentavam formar um diálogo entre nós. Me levanto.
— Ué, Ana, vai pra onde? — Clarissa pergunta.
— Vou embora, Cla.
— O quê? Mas já?
— É, tá cedo... — Vitória fala.
— Eu só vim te ver, até porque seu aniversário tá perto.
— Qual é, Ana! Fica mais um pouco. — a loira diz, tentando mudar minha decisão. — Se tu quiser pode até dormir aqui, as minhas roupas devem servir em ti.
Vitória observava tudo, enchendo mais uma vez sua taça com vinho.
— Não, Clarissa. Obrigada. Eu volto no seu aniversário. — me viro para a cacheada. — Tchau.
— Tchau. — ela responde, simples, ainda tentando manter o contato visual comigo.
— Eu te levo até a porta. — Clarissa fala, me acompanhando.
Nos despedimos e eu digo mais uma vez que volto no dia do seu aniversário. No caminho de volta, lembro que deixei meu celular em cima da mesa. Dou meia volta e caminho em direção do prédio novamente. Assim que dou alguns passos, mudo de ideia e volto a ir para o aeroporto de novo. Eu estava com o meu cartão e documentos aqui, não teria problema nenhum em ficar sem celular por alguns dias. Até porque eu volto já já.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Amor de verão
RomanceAna Clara Caetano, mora em Araguaína, é filha da dona de um pequeno hotel e um pai que trabalha na sua própria cafeteria. Vitória Falcão, mora em São Paulo, filha de uma estilista conhecida por todo o mundo e de um empresário. Vitória foi com os p...