XXII

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Ana Caetano

Desfaço o abraço. Ela está sentada no sofá, com uma almofada no colo e uma taça de vinho na mão. Seu cabelo está maior, mais volumoso e definido; seu corpo está mais desenvolvido; ela está com um delineado e um pouco de lápis preto na linha d'água, também uma um batom vermelho; mas seus olhos continuam os mesmos.

— Oi, Ana. — Vitória fala. Eu não consigo falar nada, nem pensar. Simplesmente paralisei. — Tudo bem? — o silêncio continua.

— Uhum. — eu respondo rápido e o silêncio se faz presente novamente. Ela dá um quase sorriso e toma um gole da taça de vinho.

— Quer entrar? — Clarissa pergunta, depois de alguns segundos.

Não falo nada, apenas entro no apartamento. Clarissa se sentou no outro canto do sofá, não me deixando outra opção a não ser ficar no meio (e do lado de Vitória).

Eu estava tensa. Muito tensa. Quando Clarissa tentava criar um diálogo, eu só conseguia responder "sim", "não" e "não sei". Depois de muitas tentativas, minha amiga decidiu colocar um filme — Diário de uma paixão —, e foi para a cozinha fazer pipoca, me deixando a sós com Vitória. Ela me encarava, olhava no fundo dos meus olhos, quase que me desafiando, mas mesmo assim com um certo "receio".

— Eu te vi na capa de um jornal. — ela fala, tomando um gole de vinho. Não a respondo. — Pelo o que eu me lembro, o valor de venda da casa ainda não está definido, né?

— Sim.

Ela continua me encarando, olhando no fundo dos meus olhos. Eu obviamente não conseguia fazer o mesmo, concentrava o meu olhar em algum objeto ou detalhe da sala. Ouço as pipocas estourarem. Minutos depois Clarissa volta com um pote gigante de pipoca, e deixa no meu colo. Ela dá play no filme.

Ao longo do tempo fui ficando menos tensa. Em certo ponto, a mão de Vitória tocou a minha enquanto pegávamos pipoca na mesma hora. Eu me arrepiei e tirei minha mão de lá rapidamente.

[...]

O filme acabou. Olho no relógio e são 19:20. Ainda estou sentada entre as duas, que de vez em quando tentavam formar um diálogo entre nós. Me levanto.

— Ué, Ana, vai pra onde? — Clarissa pergunta.

— Vou embora, Cla.

— O quê? Mas já?

— É, tá cedo... — Vitória fala.

— Eu só vim te ver, até porque seu aniversário tá perto.

— Qual é, Ana! Fica mais um pouco. — a loira diz, tentando mudar minha decisão. — Se tu quiser pode até dormir aqui, as minhas roupas devem servir em ti.

Vitória observava tudo, enchendo mais uma vez sua taça com vinho.

— Não, Clarissa. Obrigada. Eu volto no seu aniversário. — me viro para a cacheada. — Tchau.

— Tchau. — ela responde, simples, ainda tentando manter o contato visual comigo.

— Eu te levo até a porta. — Clarissa fala, me acompanhando.

Nos despedimos e eu digo mais uma vez que volto no dia do seu aniversário. No caminho de volta, lembro que deixei meu celular em cima da mesa. Dou meia volta e caminho em direção do prédio novamente. Assim que dou alguns passos, mudo de ideia e volto a ir para o aeroporto de novo. Eu estava com o meu cartão e documentos aqui, não teria problema nenhum em ficar sem celular por alguns dias. Até porque eu volto já já.

Amor de verãoOnde histórias criam vida. Descubra agora