Ana Caetano
O resto do dia foi silencioso, não trocamos quase nenhuma palavra. Vitória dormiu no quarto de hóspedes, depois de dias dormindo comigo.
Acordei no mesmo horário de costume, escovei meus dentes e penteei meu cabelo. Ao passar pela porta do quarto vi que ainda estava trancada, ela ainda deve estar dormindo. Afastei esses pensamentos e continuei andando, até chegar na cozinha.Tirei a manteiga da geladeira e voltei para o quarto. Troquei de roupa e fui comprar pão francês. Ao chegar novamente em casa, Vitória estava sentada no sofá com uma xícara na mão. Tranquei a porta e coloquei os pães na mesa.
— Bom dia... — ela fala, buscando o meu olhar.
— Bom dia, V... Bom dia. — Vitória entorta os lábios.
— Tu foi comprar pão?
— Sim. — me viro para o armário, a procurar chocolate em pó para fazer chocolate batido.
— Ah... Depois a gente pode conversar?
— Claro. — respondo dando de ombros.
[...]
Horas depois eu ouço a campainha tocar. Estranho pois não me lembro de ter convidado ninguém. Ao abrir a porta, vejo Julia do outro lado.
— Ju?! Vem, entra. — dou espaço e ela passa por mim, me dando um abraço.
— Desculpa aparecer sem avisar, viu... — a mulher se senta no sofá.
— Não precisa se desculpar não, mulher. — me sento do seu lado.
— E Vitória, cadê? — ela pergunta, passando o olhar por todo o cômodo.
— Deve estar lá em cima. — respondo, ficando mais séria.
— Ih, que foi? Aconteceu alguma coisa?
— É que esses dias a Vi... — Julia me interrompe.
— Olha, Ana, eu entendo que você queria desabafar com alguém mas se é sobre a relação de vocês, eu acho que tu deveria falar diretamente com ela. Porra, olha o tanto de tempo que vocês ficaram separadas, e agora tão perdendo tanto tempo sendo que podiam conversar e tentar resolver isso.
— É, acho que tu tá certa, viu... Brigada.
Me aproximo para dar um beijo em sua bochecha, mas ela acaba virando o rosto na mesma hora e nossos lábios acidentalmente se tocam. Recuo meu rosto na hora.
— Meu Deus. — falamos juntas e rindo do que aconteceu.
Ao olhar para o lado, vejo Vitória na porta da sala, nos olhando, praticamente "congelada".
— Vi...
— Não queria atrapalhar vocês, desculpa. — ela só diz isso e sai.
— Meu Deus... Me desculpa por isso, Ana! De verdade! Vou até ir embora pra tu ir falar com ela logo, beijo. — Julia sai quase correndo de casa.
Cubro meu rosto com as mãos e bufo. Depois de um tempo assim, respiro fundo e me levanto do sofá. Vou até o quarto de hóspedes e abro a porta cuidadosamente. Encontro Vitória deitada de bruços na cama.
— Vitória...
— Como cê sabia que eu tava aqui?! — ela fala, ainda de costas.
— Bom, tu dorme aqui, então...
— Ah... — responde simples, fungando logo depois.
— A gente pode conversar? — me aproximo lentamente.
— Sobre o quê? — a mulher se vira de frente para mim, ficando sentada.
— Sobre tudo, sobre nós.
— Nós? — pela primeira vez no dia, nossos olhares se encontraram.
— Sim.
Ela se arruma na cama e eu me sento.
— Quem começa? — eu pergunto.
— Pode ser você.
— Ok... Eu sei que tu viu o meu beijo de despedida com a Julia e também viu o selinho que rolou acidentalmente nesse instante. — ela concorda, olhando para baixo.
"A gente passou três fucking anos sem se ver, Vitória. Toda vez que a gente se acerta tu vem com alguma outra coisa e fica brigada comigo. Eu te entendo, sério. Tu tem ciúmes da Julia, e tá tudo bem. Mesmo."
— Ciúmes?! E "tá tudo bem"?! — sua voz se altera levemente. — Eu sinto ciúmes sim, Ana. Eu sinto ciúmes de como vocês são próximas e do quão bem vocês se conhecem. A gente ficou separada por três anos, e todo santo dia eu esperava que você parecesse na minha casa para me tirar de lá, e você nunca apareceu!
Nesse ponto já escorriam lágrimas em ambos os rostos, meu e dela.
— Eu te escrevi por um ano, Vitória! Eu já te disse isso!
— É, eu sei! Mas essas cartas nunca chegaram até mim. Eu me casei e...
— Casou mas eu tenho certeza que sua mãe à forçou. Ele provavelmente é o genro dos sonhos dela. – eu a interrompo.
— Deixa eu terminar de falar, por favor... — me calo.
— O Scott tá vindo me buscar amanhã... e eu acho que tô...
Vitória não consegue terminar a frase, entra correndo no banheiro e se ajoelha em frente ao vaso. Vou rapidamente atrás dela e seguro seu cabelo. Ela vomita por alguns tempo, depois lava seu rosto e volta para a cama.
— É o que eu tô pensando? — a cacheada apenas concorda com a cabeça. — Você vai ir embora amanhã?
— Eu não sei. — ela volta a chorar e eu a abraço.
— Não importa o que você decida, eu tô aqui contigo.
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Amor de verão
Roman d'amourAna Clara Caetano, mora em Araguaína, é filha da dona de um pequeno hotel e um pai que trabalha na sua própria cafeteria. Vitória Falcão, mora em São Paulo, filha de uma estilista conhecida por todo o mundo e de um empresário. Vitória foi com os p...