XIV

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Narradora

Vitória bateu levemente na porta e logo foi atendida. Ela usava um vestido vinho, longo e solto a partir do quadril, o mesmo que usou no seu primeiro encontro com Ana Clara. Assim que a porta se abriu viu Ana do outro lado, com um sorriso bobo no rosto e os olhos brilhando assim que viu a cacheada.

— Oi, cacheada! — a morena a cumprimenta com um selinho. — Entra. – a mesma dá espaço para Vitória entrar, a acompanhando logo depois de trancar a porta.

— Oi, Mônica. — Vitória cumprimenta a (quase) sogra.

— Oi, Vi! Tudo bem?

— Tudo e contigo?

— Eu tô ótima. Meu ex marido veio jantar com a gente também, tem algum problema?

— Claro que não, imagina. — Vitória se senta no sofá, logo depois Ana se senta em seu lado.

Um pouco antes da janta, batidas na porta são ouvidas, e dessa vez Mônica é quem atende. Segundos depois, a mulher acompanhada de um homem entram. Ele se apresenta para Vitória.

O cheiro de frango assado chegou até a sala, manifestando que era a hora de comer.

Entre as garfadas de comida sempre tinha conversa. O pai de Ana sempre soltava uma piada, Mônica gargalhava, Vitória ria envergonhada e Ana dava risada, perdendo seu olhar em Vitória sem nem perceber.

Depois da janta, Mônica chamou a filha para a ajudar a pegar a sobremesa. A mãe voltou com uma xícara em cada mão e Ana também. A mais velha colocou uma das xícaras em sua frente e a outra entregou para o ex marido, Ana colocou uma das xícaras em cima da mesa e entregou a outra para Vitória. A cacheada foi a primeira a tirar a xícara do píres, revelando um papel em baixo do mesmo. Os olhares dos pais se concentram  nas duas, mas com cuidado para não as deixarem constrangidas.

Ela pega o papel e o abre cuidadosamente, lendo o que estava escrito nele:
"Vitória, tu foi a melhor coisa que aconteceu comigo em muito tempo. Nem sei como agradecer por te ter por perto e escutar sua risada, sua voz, sentir o seu toque e o seu gosto... Eu te amo tanto! Mas vem cá, tu aceita oficializar nossa relação?"

— Ana... — Vitória fala, quase sem ar e com os olhos marejados depois de ler o papel.

Os olhares das duas transmitiam tanta coisa — paixão, amor, carinho, cuidado e acima de tudo, respeito.

— Tu aceita ser oficialmente 'minha namorada'? — a cacheada se aproxima, e sorrindo a responde:

— Sim, sim, sim! Mil vezes sim! — Vitória se aproxima mais, acabando com a distância entre as duas e juntando seus lábios em um beijo totalmente apaixonado. - Agora cê é oficialmente minha namorada, Ninha - ela sussurra no ouvido da morena, que se arrepia.

Os pais de Ana batem palmas e as parabenizam, sem deixar de lado os elogios. Horas depois as duas vão para o quarto de Ana, e quando perceberam já estavam se despindo enquanto se beijavam.

***

Em um dia ensolarado, resolveram ir para a praia, que era a pouco quilômetros dali. As duas vestiram o biquíni, colocaram protetor solar, toalhas e cangas numa bolsa, pegaram seus óculos, uma câmera fotográfica e foram.

— Eu sou um pássaro! — a cacheada gritou enquanto corria na direção do mar, seguindo o grupo de pássaros que voavam na mesma direção.

— O quê? — Ana pergunta, rindo com a cena.

— Eu acho que fui um pássaro na vida passada. Você acha que eu sou um pássaro? — Vitória a responde, se aproximando da namorada.

— Eu não sei...

— Diga que eu sou um pássaro! Diga que eu sou um pássaro! — a cacheada fala rindo, indo para cima da mulher, que também ri.

— Okay, você é um pássaro.

— Você também é um pássaro? — a morena fica séria.

— Se você é um pássaro, eu também sou um pássaro.

***

O dia de Ana jantar no hotel junto com sua namorada e seus sogros chegou. Ela estava nervosa e ansiosa, sentia um frio na barriga e todo seu corpo tremer por dentro.

— Vamos? — Vitória pergunta para a morena, que assente. As duas entram no hotel e vão para a sala de jantar, que tinha uma mesa com cinco lugares postos.

A mãe da cacheada estava sentada em uma ponta da mesa de cinco lugares, e seu pai na outra. Elas se sentaram uma ao lado da outra, e Fernanda se sentou em frente da cacheada. O jantar era sopa de carne, acompanhado de vinho. A comida foi colocada na mesa por um dos funcionários do hotel, ordens de Isabel Falcão.

Todos pegaram seus talheres e começaram a comer. Em certo ponto, a mais velha parou de comer por um instante e disse:

— E então, garota, como se chama? — Ana percebe que a pergunta foi feita para ela, engole a massa que estava dentro de sua boca e responde.

— Ana, Ana Clara Caetano Costa.

— Não precisava do nome completo... — ela falou baixo. Seu marido apenas acompanhava a conversa com o olhar, sem falar nada. — Qual é a sua idade?

— Tenho 18 anos.

— Hm, parece ser mais jovem. — Ana sorri levemente. — Trabalha com o quê? — ela sempre fazia suas perguntas sorrindo, como se já fosse de sua rotina.

— Eu trabalho na cafeteria da minha mãe, sou operadora de caixa e as vezes garçonete. — a morena responde, um pouco receosa.

— Então você é operadora de caixa, hum?! — a mãe da cacheada olha para o marido, com a expressão neutra. — Seu salário deve ser muito baixo. — ela fala, agora olhando nos olhos de Ana, a intimidando.

— Olha, na verdade, pra mim tá ótimo. — a namorada de Vitória responde, dando de ombros, tentando esconder o quão incomodada estava.

— Vamos terminar de comer, se não a comida vai esfriar. — Vitória fala, tentando aliviar o clima.

O resto do jantar foi silencioso, apenas se ouvia o barulho dos talheres batendo no fundo dos pratos. Do começo ao fim, Fernanda e o pai de Vitória não falaram uma palavra se quer.

No fim da noite, quando Ana estava prestes a ir embora, o pai da cacheada a levou para o jardim, a fim de ter mais privacidade para conversarem.

— Ana Clara, vou ser sincero, gostei muito de você. E me desculpe se em algum momento minha esposa foi inconveniente ou te deixou desconfortável. — o homem falou de uma vez.

— Eu fico muito feliz em saber que tu gostou de mim, e não precisa se preocupar não. — a morena ri levemente —, essa não é a primeira vez que eu enfrento uma mãe assim.

Amor de verãoOnde histórias criam vida. Descubra agora