XXI

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Ana Caetano

Mais uma pessoa vai embora, depois de eu ter negado o dinheiro proposto para pagar pela casa recém reformada. Nenhuma oferta até agora foi o suficiente para me fazer vendê-la.

Entro em casa novamente, e observo cada parte de lá. Em certo ponto, acabo entrando no antigo escritório da minha mãe. Não mudei nada de lugar, apenas pintei as paredes com as mesmas cores originais. Passo a mão pelos livros, e meus momentos com minha mãe invadem minha memória.

Enquanto as lágrimas correm pelo meu rosto, meu celular começa a tocar. Vejo na tela o nome de Clarissa e atendo.

— Oi, Cla.— eu falo, com voz de choro.

— Oi, Ana. Tu tá chorando?

— Tô. — respondi, rindo levemente enquanto outra lágrima desce.

Quer conversar?

Não precisa não, Cla. Tu tá bem?

— Eu tô, e você, apesar de estar chorando?

Tô bem. Alguma novidade? — ela demora um pouco para responder.

Encontrei Vitória no Instagram, marcamos dela vir aqui na minha casa esses dias. senti uma pontada no meu coração quando escutei esse nome. — Ana?

— Oi, oi...

Eu sei que isso não é muito importante, mas achei que deveria te falar. — continuo em silêncio. — Vê se passa aqui qualquer dia desses, tô com saudade d'ocê.

Tu sabe que eu tava toda ocupada com a reforma, amiga. Aliás, outra pessoa acabou de oferecer dinheiro pela casa.

Quanto dinheiro?

350 mil.

E você aceitou né?!

Não sei porque, mas não.

***

Visto uma blusa preta com um short jeans e calço um tênis preto. Dou algumas borrifadas de perfume em meu pescoço, pego meu celular e a chave de casa e saio. Caminho até o aeroporto, faço o check in e espero o meu voo.

Hoje resolvi fazer uma surpresa para Clarissa, como o aniversário dela está quase chegando, vou dar uma visitinha pra ela. Não a vejo faz um ano e meio. A viagem daqui até Sampa é bem longa, mas vai valer a pena.

[...]

Depois de 15 horas de viagem, chego ao meu destino: São Paulo - SP. Não trouxe mala nem nada, é só pra ver ela mesmo.

Uns meses atrás Clarissa me mandou seu endereço por mensagem, sem motivo nenhum, só pra eu guardar caso precise um dia. Bom, vou precisar hoje. Rodo a cidade meia perdida. Não pedi informação a ninguém, parava em algumas lojas que via e perguntava sobre. Uma hora depois consigo achar seu prédio.

Vou para a portaria e falo que quero ir no apartamento 76. Quando o porteiro pegou o interfone o impedi, dizendo que quero fazer uma surpresa para a moradora de lá. Hesitando por um instante, ele me deixa subir. Entro no elevador e aperto o sétimo andar, chego no mesmo e saio. Caminho até o apartamento 76 e aperto a campainha. Escuto passos em direção à porta e a chave sendo girada - ela deve ter olhado no olho mágico antes de abrir.

— Ana. — Clarissa fala, surpresa e, se não for impressão minha, nervosa.

— Surpresa! — dou um passo a frente a abraço.

Quando olho para dentro de sua casa, meu sorriso se desmancha e meu coração para por um segundo.

Amor de verãoOnde histórias criam vida. Descubra agora