XIX

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Ana Caetano

Julia acabou dormindo em meus braços. Coloco sua cabeça sobre o travesseiro cuidadosamente para não acordá-la e me levanto da cama. Passeio por todo canto da casa, até que decido ficar na varanda, observando o luar e as estrelas.

Ainda me lembro da última carta que mandei, e de como fiquei quando acabei de escrevê-la. As lágrimas molharam um canto do papel.

Me despertei de meus devaneios quando escutei a voz de Julia, falando do quarto:
— Ana?

Suspirei e fui de volta para o cômodo.

— Oi, Ju.

— O mesmo de sempre? — eu assinto. — São 2:30 da madrugada, vem dormir. — não falei nada, apenas me deitei ao seu lado e me cobri, adormecendo logo depois.

[...]

Desperto com o alarme que coloco todo dia às 8:00. Abro apenas um olho e o desativo, me deitando novamente depois. Após cinco minutos deitada, tomei coragem e me levantei, entrando no banheiro e lavando meu rosto para despertar um pouco mais. Escovo meus dentes e penteio meu cabelo. Volto para o quarto e visto uma calça moletom e uma camiseta branca.

Vou para a cozinha preparar algo para o café da manhã, acaba sendo o sempre: panquecas americanas e chocolate batido. Quando me direciono ao balcão, encontro uma folha com algo escrito. Era rotina toda noite Julia deixar uma carta ao sair, e na maioria das vezes estavam escritas a mesma coisa: "Tu tava bonita dormindo, não tive coragem de te acordar só pra me despedir". Coloco o papel em um pote com vários outros e volto para o balcão, preparando meu café da manhã.

Depois de comer, fui terminar de pintar o último cômodo da casa que está faltando, o meu quarto. Essa é a última etapa da reforma. Não sei o que vou fazer depois que terminar, provavelmente irei vender ou algo assim.

Antes mesmo de terminar a reforma, pessoas me perguntam o que eu vou fazer quando terminar, se vai estar a venda, eu apenas respondo que "por enquanto, não".

Depois de umas duas demãos de tinta em três paredes, parei e me sentei na cama. Meu olhar parou no teclado, que está esquecido no canto do quarto. Me levanto e vou até ele, me sento no banquinho em sua frente. Aproximo minhas mãos das teclas, e quando vi, os acordes de "Olha o que o amor me faz" já soavam por meus ouvidos. Cantei a música inteira, logo depois solto um suspiro e me levanto do banquinho.

Termino de pintar a outra parede e me sento na cama, exausta e com os braços doendo. Mas orgulhosa de que terminei esse projeto tão especial. Lágrimas escorrem em meu rosto. Eu queria tanto que eles estivessem aqui comigo, celebrando comigo.

***

— Qual é o nome dela? — Julia pergunta, deitada ao meu lado depois de horas de prazer.

— Vitória. — respondo rapidamente. Eu fico levemente tensa e ela percebe.

— Ah... Vou dormir, boa noite. — ela se vira de costas para mim.

— Boa noite.

Amor de verãoOnde histórias criam vida. Descubra agora