XXXI

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Vitória Falcão

Sempre que possível eu tento puxar assunto com Ana. O fato de que ela me escreveu por um ano — e que eu nunca a respondi, até porque não sabia — mexeu comigo. Porra.

— Bora escutar umas músicas dos anos 2000, Vi... tória? — Ana grita da sala, enquanto eu termino de me trocar no quarto.

— De novo?

— De novo!

— Tá esperando o quê pra colocar?! — logo depois escuto seus passos animados na sala, e a música ecoar pela casa.

Charlie Brown Jr, eu amo.

"Ela achou meu cabelo engraçado,
Proibida pra mim, no way
Disse que não podia ficar
Mas levou a sério o que eu falei

Eu vou fazer de tudo que eu puder
Eu vou roubar essa mulher pra mim
Eu posso te ligar a qualquer hora
Mas eu nem sei seu nome

Se não eu, quem vai fazer você feliz?
Se não eu, quem vai fazer você feliz? Guerra"

— Eu me flagrei pensando em você, em tudo que eu queria te dizer, numa noite especialmente boa não há nada mais que a gente possa fazer — Ana e eu cantamos juntas, assim que eu entro na sala.
— Eu vou fazer de tudo que eu puder, eu vou roubar essa mulher pra mim, eu posso te ligar a qualquer hora mas eu nem sei seu nome — Ana canta a próxima estrofe, dessa vez sozinha, e com certo tom de... verdade (?). — Ei, tu não quer subir lá no meu quarto? — a olho na hora. — Pra me ajudar a arrumar meu guarda-roupa.
— Não foi você que disse que eu era visita e que não devia ajudar... — ela revira os olhos. — Bora — eu a respondo rindo.

O cômodo tem "poucos" móveis. Uma cama — de casal —, um guarda-roupa relativamente grande, um  criado-mudo em cada lado da cama e alguns instrumentos no canto do quarto.

— Olha a bagunça — Ana fala, me despertando de meus pensamentos.
— Uau. Você ainda... toca?
— De vez em quando, mas tô meia enferrujada já — ela ri levemente.
— Ah, sim...

[...]

Três horas depois, finalmente terminamos de arrumar suas roupas. Caímos exaustas na cama.

— Eu tô morta — ela fala.

— Imagina eu...

No meio do silêncio, a morena canta a música que está tocando, Mulher de Fases. E novamente, com um tom de verdade.

— Me diz Deus, o que é que eu faço agora, se me olhando desse jeito ela me tem na mão? — ela canta, olhando no fundo dos meus olhos.

— Meu filho, aguenta. Quem mandou você gostar... dessa mulher de fases. — eu canto, retribuindo seu olhar.

— Complicada e perfeitinha, você me apareceu, era tudo que eu queria, estrela da sorte. — ela se aproxima, mais e mais, enquanto canta (pela última vez) o trecho da música. Suas mãos vão para o meu rosto, me tocando carinhosamente.

Ana está tão próxima, que consigo sentir sua respiração quente na minha pele. Seu olhar alterna entre meus olhos e minha boca — como na primeira vez que nos vimos. Ela preenche o espaço que tinha entre a gente, me beijando. Seu gosto continua o mesmo, mas seu beijo está... diferente. Pra melhor.

Quando a falta de ar se faz presente, abro meus olhos novamente, e a vejo de pertinho. Quando suspiro, sinto o meu anel de casamento pesar sobre meu dedo. Me desculpa, Scott. Arranco a jóia do meu dedo e a coloco em cima do criado-mudo, volto logo depois a beijar Ana.

O beijo ficava cada vez mais urgente. Não conseguíamos parar. E por sorte — ou destino —, eu estava com a lingerie que comprei há um tempo atrás por baixo do vestido que estou usando.

As mãos de Ana Clara passeavam por todo meu corpo. Ela estava se segurando para não arrancar minhas roupas, eu sei disso.

— Ninha... Tu pode. — ela me olha, e seus olhos brilham.

— Tem certeza... Cacheada? — sorrio levemente, concordando.

Sua mão "escorrega" para dentro do meu vestido, me arrepiando - pelo fato de sua mão estar gelada e minha pele estar quente, dã. Quando a morena sente o tecido da lingerie, olha por dentro do vestido e sorri.

— Então, você já estava planejando isso? — ela pergunta com um sorriso sacana no rosto.

— Talvez. — mordo meu lábio inferior, voltando a beijá-la.

Amor de verãoOnde histórias criam vida. Descubra agora