Ana Caetano
Quinto dia em que Vi dorme aqui. Caímos na cama ofegantes pela terceira vez no dia.
— Caramba... — Vitória fala.
— Não aguento ficar parada perto de ti, cacheada. — ela sorri com a frase. — Vi...
— Hum? — a cacheada se vira, olhando pra mim.
— Eu não sei se é impressão minha ou... tu tá meia estranha comigo?
Vitória concentra seu olhar no teto.
— Vi...
— Eu vi vocês duas. Você e a Julia. Se beijando. — esperei ela continuar falando mas nada veio.
— É por isso que você tá assim? — pergunto, mas não obtenho nenhuma resposta. Rio levemente. — Cacheada, aquilo não significou nada pra mim. Sério.
Alguns segundos se passam, em completo silêncio.
— Você sabe que as nossas horas de prazer também não significam nada, né? — Vitória fala, do nada.
— O quê?!
— É, ué. — ela se vira para mim novamente. — Eu só tô aqui de passagem, sou casada — Vitória passa seus dedos sobre o anel de casamento. — Isso aqui é só por diversão. Você é praticamente minha... amante. Nada mais.
— Ah, é? — ela concorda. — E por que eu sou sua "amante", hein? — Vitória fica em silêncio. — Porque só eu consigo te fazer enlouquecer com um só olhar? Que só eu consigo te fazer gritar? — me aproximo mais. — Ou será que é porque eu sou o amor da sua vida?
Mais silêncio.
— Se fosse assim, não teria beijado ela.
— Eu já te falei que aquele beijo não significou nada pra mim, tanto quanto os outros. Se quiser acreditar, acredita, se não quiser, eu não posso fazer nada — me levanto da cama e me sento no banquinho em frente ao teclado.
Começo a tocar uma nova composição minha — pela primeira vez —, e segundos depois minha voz ecoa pelos quatro cantos do quarto.
"Não se arrisque em tentar
Me escrever nas suas melhores linhas
Eu não preciso de altar, só vem
Repousa tua paz na minhaEu já te disse alguma vez?
Tu tem pra mim o nome mais bonito
A boca canta ao te chamar
Teu canto chama o meu sorrisoE tá tão fácil de encaixar
Os teus cenários na minha rotina,
No calendário
Passear um fim de tarde
Em qualquer esquina
Tão natural que me parece sina, vem cáTe sinto seu ao se entregar
Me tenho inteira pra você
Te guardo solto pra se aventurar
É tão bonito te espiar viver
Se encontra, se perde, se vê
Mas volta pra se dividir
Amor, é que você fica tão bem aqui
É que você fica tão bem aqui, comigo."Consigo sentir o olhar de Vitória queimando sobre mim. Tudo o que consigo escutar são o barulho de nossas respirações no quarto. Longos minutos se passam em completo silêncio, continuo sentada em frente ao teclado.
— Ana... — Vitória fala — foi você que compôs?
— Sim.
— Uau... ficou linda...
— Obrigada. — respondo simples e saio do quarto, a deixando sozinha.
Reviro os olhos entrando no cômodo novamente, indo em direção ao banheiro. Esqueci que esse quarto é meu. Tiro minhas roupas e entro debaixo do chuveiro, tomando um longo banho. Desligo o chuveiro e enrolo uma toalha em volta do meu corpo, saindo do banheiro. Vou até meu guarda-roupa - e ainda consigo sentir Vitória olhando cada movimento meu. Pego minha roupa íntima e um pijama, finalmente saio daquele quarto.
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Amor de verão
RomanceAna Clara Caetano, mora em Araguaína, é filha da dona de um pequeno hotel e um pai que trabalha na sua própria cafeteria. Vitória Falcão, mora em São Paulo, filha de uma estilista conhecida por todo o mundo e de um empresário. Vitória foi com os p...