Espera.

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Capítulo 30.

O amor calcula as horas por meses, e os dias por anos; e cada pequena ausência é uma eternidade.
- John Dryden.

Cinco dias.

Havia se passado cinco dias desde que parte do grupo tinha saído, em uma longa e sem destino certo, viagem em busca de mais recursos para todos. Estávamos relativamente bem de alimentos, afinal tínhamos a horta ainda e os animais, porém a nuvem de preocupação, de que poderíamos ficar sem alimentos em algum momento, nunca ia embora completamente. E agora, tínhamos a preocupação da nossa única fonte de água pura e potável poderia secar, pois não chovia fazia um bom tempo.

Soltei um suspiro pesado e esfreguei o meu rosto com ambas as mãos, sentindo-me cansada e bastante frustrada. Era impossível não ficar preocupada, pois se a água secasse completamente, parte da nossa grande conquista nos últimos meses iria embora rapidamente. Então, como faríamos?

Furar outro poço era uma alternativa, porém vinha o grande empecilho para realizar tal coisa. Como? Não havia maquinário ou ferramentas úteis para isso em pleno mundo apocalíptico.

Esses pensamentos e interrogações sem respostas aparentes, já estavam me deixando com uma leve dor de cabeça. Soltei mais um suspiro resignado e encarei o caminho de terra, que dava até a fazenda e sumia no horizonte, contudo não havia nenhum sinal do retorno do grupo.

De novo.

Meu peito estava borbulhando de saudades de todos, principalmente de Carl e Rick. O ragazzo havia convencido e partido com o pai, mas io vi como o xerife tinha ficado confuso e incerto se era a melhor decisão em deixar o filho mais velho ir junto. No entanto, seria bom e importante para eles terem esses momentos de pai e filho, mesmo em um mundo ferrado e cheio de mortos vivos.

Ouvi a porta da frente ser aberta e fechada com suavidade, enquanto passos leves e ritmados contra o piso de madeira denunciava a sua aproximação. Ela respirou fundo, e sentou-se ao meu lado na pequena escada, que dava acesso a varanda e a casa.

- Judy dormiu rápido hoje – Betina comentou monótona.

- Obrigada, Be – Agradeci sem tirar os olhos do horizonte.

- De nada, Ally – Continuou com o mesmo tom anterior, atraindo minha atenção para si.

A loira estava com os longos cabelos soltos, as pernas encolhidas contra o peito e o queixo apoiado sobre os joelhos. Pendi a cabeça para o lado e a encarei com certa preocupação, afinal a minha amiga estava com um olhar perdido e mais pálida que o normal.

Já fazia alguns dias em que ela estava agindo de modo estranho.

- O que está acontecendo com você, Betina? – Exigi séria, enquanto franzia o meu cenho e não despregava os olhos do seu rosto cansado – Você anda tão estranha nesses últimos dias, e se precisar pode falar comigo quando se sentir confortável – Abri um sorriso reconfortante

- Posso estar gravida – Ela murmurou sem rodeios, virando a cabeça e me encarando com os olhos chorosos – Pelas minhas contas, estou atrasada tem umas três semanas e nunca ficou tanto tempo sem descer... – Derramou mais lágrimas – No máximo um ou dois dias, e ainda tenho alguns sintomas comuns, Alice.

Engoli em seco, e fiquei sem saber o que falar.

- Se você estiver mesmo, vamos dar um jeito – Prometi em um sussurro baixo, puxando-a para os meus braços e abraçando-a apertado – Só precisamos ter certeza, Be – Beijei seus cabelos, carinhosamente.

- Mas, como? – Afastou-se e passou os dedos sob os olhos vermelhos, fungando mais uma vez - Nós dois fazemos o coito interrompido... – Corou um pouco nas bochechas – Para evitarmos uma gravidez indesejável...Oh, meu Deus...E se eu realmente tiver? Como Daryl vai reagir? – Sussurrou sufocada, voltando a chorar.

Epitáfio de Alice - Rick Grimes.Onde histórias criam vida. Descubra agora