Capítulo 1

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Richie recebe boas (ou não) notícias

Acordo assustado com o barulho do despertador em cima da mesa de cabeceira. Estico a mão em direção á pequena caixinha mecânica, os números digitais mudavam de acordo com os minutos que iam se passando, e se isso fosse alguma novidade, eu estava atrasado.

Meu apartamento não é muito grande, nem muito pequeno, é... Normal. Uma cozinha devorada com armários preto e branco - algo bem formal-, a sala tinha um sofá em formato de L de frente para a tela plana na televisão que mal era ligada e assistida. Á alguns metros do sofá em L, havia uma passagem para o corredor, que era um pouco estreito. Duas portas paralelas davam para o quarto de hóspedes e o banheiro, e ao fim do corredor uma porta dava para meu quarto que é onde eu me encontro ainda sonolento e atrasado.

Me levanto com esforço, a birita do dia anterior não estava batendo muito bem e a enxaqueca só aumentava. Deixo a água quente da ducha bater em meu rosto frio, de alguma forma esperava que com a água que esvaia pelo ralo, todos meus problemas fossem juntos. Fecho os olhos e admiro o silêncio, apenas o chocar da água no chão.

Silêncio.

Meu celular toca no outro comodo me fazendo despertar de minha estagnação. Com um sobressalto abro meus olhos ainda com a água escorrendo pelo meu rosto e corpo nu. Desligo o chuveiro e saio do banho enrolando meu corpo na toalha branca que até então estava pendurada no gancho perto da porta. Me aproximo da tela acessa no aparelho e reviro os olhos ao ver o nome da tela, Sr. Martinez, o editor chefe da Boston News.

- Alô.

- Senhor Tozier, mais uma vez atrasado? Novidade - ele diz com tom de indignação - Venha logo, e assim que chegar quero você na minha sala.

- Okay...

O homem não espera nem eu reponde e desliga o telefone em minha cara.

Carlos Martinez era um homem latino americano, tinha a pele clara e uma calvície que a cada dia ia aumentando, cabelos grisalhos - mesmo que poucos -, tinha o olhar profundo como o de quem não dormia á anos, como um vampiro de filmes clichês, a unica diferença era que o senhor Martinez era uma versão mais velha e anda apaixonante desses vampiros.

Eu trabalhava na The Boston News, um jornal de quinta da cidade, á quase cinco anos, tempo mais que o suficiente para conhecer Carlos e já ter me cansado de trabalhar naquele lugar. Como jornalista - uma carreira que se eu parar para pensar, não combina nada comigo- eu cobria a parte de eventos da cidade, o que era bom já que quase todos os dias havia alguma coisa acontecendo em Boston, seja desde a uma feira de adoção de pets á um protesto contra desmatamento. Desde que entrei na The Boston News tenho que aturar Carlos Martinez, até mesmo quando ele aparecia na portaria do prédio segurando uma garrafa de vodka pura, chorando e dizendo que brigou com a mulher então não poderia ir para casa naquela noite. Sim, Carlos Martinez era um alcoólatra de bebida barata. Mas isso não nos fazia sermos próximos, bem pelo contrario, me fazia me distanciar ainda mais dessa loucura.

Saio de casa pendurando a bolsa no ombro, ajeito o óculos no nariz e sigo, vestido de camisa e sapatos, em direção ao abatedouro.

O clima na cidade estava frio, não nevando, mas o vento frio que invadia a atmosfera de Boston fazia com que todos saíssem de casa bem agasalhados. Toucas, jaquetas, moletons eram vistos andando pela cidade de formas, cores e tamanhos diferentes. O vento balançava as árvores e fazia folhas se desprenderem de seus ramos e planar com leveza em direção ao solo. E tudo isso já indicava o início do outono.

O prédio de vinte e sete andares já estava logo a minha frente, o vidro reluzia com a luz solar que refletia mesmo que em apenas alguns segundos, mas logo o sol era escondido pela camada espessa de nuvens cinzas no céu. O prédio era todo comercial, The Boston News situava-se no vigésimo primeiro andar. Possuía uma vista incrível em direção ao parque  Boston Commom que ficava a poucos quilômetros dali.

O elevador estava mais quente que o usual, talvez fosse bom pela temperatura fria que estava do lado de fora, mas eu suava mesmo que com o frio. Puxo o colarinho da camisa tentando deixar algum ar frio entrar. Suspiro. Acho que estava um pouco nervoso com a reunião com Carlos. Eu já havia me atrasado outras vezes, estava em meu DNA, mas ele jamais tinha me pedido para ir a sua sala conversar.

- O senhor Martínez quer te ver, Tozier!

- Bom dia para você também Carol - respondo para a secretaria.

Carol era uma loira baixinha, padrão de secretaria? Sim. Mas bem, era disso que Carlos gostava. Nunca eu o vi a assediando ou coisa do tipo e ela nunca reclamou, mas nós sabemos como eles são... Os homens héteros.

A porta faz um ruído ao abrir. O diretor chefe estava sentado de costas para a porta em sua cadeira giratória, observando as construções que ainda se erguia pela cidade, os pelas árvores que cresciam pelo Boston Commom. Eu não sei, talvez ele só estivesse olhando para o nada mesmo é pensando em qual bebida ele encheria a cara e brigaria com a mulher.

- Senhor Martínez! - tento parecer animado - Como o senhor vai nessa fria manhã de segunda-feira?

- Você ainda me pergunta, senhor Tozier? Ainda mais nesse frio? - ele gira a cadeira em minha direção - Bem, sem tempo para perguntas de distração, Richard.

Me aproximo da mesa e me sento á frente. Tento focar no que o senhor Martínez falava mas tudo o que eu ouvia era um zumbido em meu ouvido, talvez fosse pela birita ou pelo simples fato de eu estar cansado demais mentalmente para aquilo. Carlos dizia algo que parecia importante mas por mais que eu tentasse, não conseguia lhe prestar a devida atenção, meus olhos acompanhavam uma mosquinha que passava pela sala. O zumbido vinha dela, óbvio. Mas vinha da enxaqueca também, eu tinha certeza.

Minha mente estava em outro lugar, no café da manhã que eu deixei de tomar por culpa do atraso, no almoço que eu teria daqui algumas horas... Ou em algo do tipo que pode se relacionar os fato de eu estar morrendo de fome naquele momento.

Bem, mas em algum momento eu teria que prestar atenção, certo? E esse momento havia chegado. Sinto um arrepio ela espinha ao ouvir o que Carlos havia falado, a palavra que como um relâmpago me fez acordar por si e perceber o assunto. Carlos por ambas as mãos sobre a mesa e se inclina.

- Então, você topa? - ele me pergunta.

Agora eu teria que decidir e rápido. Mas ainda eu podia o ecoar da palavra em minha mente: Derry.

Derry.

Derry.

Give Me One Second | Reddie (CONCLUÍDO)Onde histórias criam vida. Descubra agora