- Então, Richard, você aceita?
- Eu... É... Me de um segundo.
Me levanto e saio da sala de Carlos, eu suava. Sim, mesmo com o frio, eu suava. Por algum motivo ouvir o nome daquela cidade novamente fez meus pelos se eriçarem por razão nenhum, não era como se houvesse um louco vestido de palhaço assassinando pessoas naquele lugar. Óbvio que não, que imaginação. Mas eu já havia vivido tanto naquele lugar, visto tanto... A fúnebre ideia de voltar para um lugar onde um dia eu jurei sair era atormentadora.
Eddie.
Esfrego os olhos com os dois dedos indicadores, o nome passou por minha mente como um relâmpago em dia de tempestade. Embora viesse em minha mente as piores das lembranças havia um raquítico ponto de boas memórias.
Bev, Ben, Bill Gago, Mike... Eddie. Os nomes vieram em lista na minha cabeça, iguais a uma lista de compras que se faz nos mercados. Nomes de pessoas que foram tão importantes em minha vida mas na primeira oportunidade que tive sai de perto levando apenas memórias.
Simples memórias de um adolescente louco e apaixonado.
Sigo em direção ao banheiro mais próximo que, por sorte, estava vazio, ótimo para pensar um pouco sobre a ideia do senhor Martínez. Molho meu rosto com a água fria da pia. A água me fez despertar do súbito vislumbre que tive de Derry em minha mente, me deixando apenas com o pensamento de olhar para o espelho e ver meu próprio reflexo.
O cara mais gostoso do mundo, eu diria em outros tempos. Mas agora tudo o que eu via era um jornalista infeliz, trabalhando em um lugar infeliz, tendo que decidir sobre algo infeliz. Os olhos profundos denunciavam a falta de dormir ou o sono que se acumulava, percebo que eu começava a ficar grisalho. Pequenos fios de cabelo acinzentados cresciam pelas laterais de minha cabeça. Respiro fundo.
Prometa que irá voltar, Richie. Prometa para nós...
A voz de Bervely soou em minha mente, fraca como a enfermidade que corrói a alma, potente como um super-herói dos quadrinhos que eu lia quando pequeno. Eu tinha uma decisão para se fazer e tardar a resposta apenas faria com que eu adoecesse internamente.
~•~
- Vejo que tomou uma decisão.
Entro na sala ainda nervoso com a decisão, talvez eu estivesse errado, talvez certo, bem... Eu nunca descobriria.
- Você está certo, Martínez - respondo me sentando novamente á frente daquele homem pálido e calvo.
À luz solar que entrava pelas janelas irradiava a sala, o céu começava a se abrir mostrando uma pequena parte da luminosidade solar que ainda não nos aquecia contra o vento frio.
Olho para o homem na frente que apenas me encarava esperando pela resposta, porém eu ainda estava confuso e perturbado com a situação.
- Eu... - olho novamente para a janela onde uma pássaro voava - Eu aceito.
O quê? Não, Richie, você não aceita!
As palavras saíram da minha boca como se fossem rotina, como uma bom dia que se dá para as pessoas na rua em plena manhã. Porém não era exatamente essa resposta que que queria lhe dar, era totalmente a oposta.
Fecho os olhos com força imaginando se não daria para voltar a trás com minhas palavras, mas já era tarde demais. Quando eu me dei por si, Carlos Martínez estava em ligação falando que eu havia aceitado a proposta de cobrir um dos eventos de Derry, minha antiga cidade.
O resto do dia foi um desastre, obvio que devido aos meus pensamentos que, por mais que eu tentasse os distrair, sempre voltavam para Derry e a proposta de meu editor chefe. Eu apenas esperava por mais informações sobre a viagem, assim eu poderia sair dali o mais rápido possível, ir para o bar mais próximo e me alcoolizar com a bebida mais cara. E assim o fiz.
Não demorou muito para saber todos os detalhes da viagem e sobre o evento que eu cobriria naquela cidade mesmo sendo tão longe de Boston, a verdade é que o senhor Martínez apenas queria se livrar de minha presença da The Boston News. Óbvio. Peguei minhas coisas e sai rapidamente do jornal onde eu trabalhava, me esvai pela ruas de Boston deixando o prédio sem ao menos olhar para trás.
~•~
A bebida descia quente pela garganta, eu virava um copo atrás do outro apenas esperando que fizesse o efeito o mais rápido possível para eu não lembrar mais nada. Peço mais uma. Outra. E mais outra.
- Vai com calma ou vai acabar louco o suficiente para acordar na cama de algum estranho - ouço a voz que vinha de trás de mim.
- Talvez seja exatamente o que eu quero - brinco me virando em direção da voz
- Então, nesse caso, espero que a cama seja a minha.
O homem se senta ao me lado, tinha os cabelos castanhos claros e o nariz fino, olhos verdes e um sorriso largo embora os lábios fossem delicados. O homem que se apresentou como Bill Skargard ou alguma coisa do tipo que eu não sei pronunciar usava uma calça social, sapatos pretos e uma camisa branco com os três primeiros botões aberto. Aproximadamente trinta anos e pouco, mais novo que eu. Tinha um leve sotaque europeu, Suécia talvez, penso. Ficamos conversando e bebendo em nossa estadia naquele bar escuro de esquina.
- O que faz um cara tão jovem como você em um bar tão... Escroto quanto esse? - pergunto já um pouco alterado.
O bar tender me olha com uma careta.
- Sou novo na cidade - Bill diz - Acabei de ser mandado embora de meu emprego e bem... Eu to totalmente apaixonado por você.
Ele passa o dedo indicador pelos meus lábios, ele também já havia tomado o suficiente para já estar um pouco alterado. Continuamos a conversar, o dia dele tinha sido um porre, e olhe só que coincidência, o meu também tinha sido. Por fim ele me ofereceu carona para casa, por algum motivo eu aceitei mesmo que jamais houvesse aceitado caronas de caras que eu acabo de conhecer. Mas eu estava tão exausto e queria tanto que o dia acabasse o mais rápido possível que aceitei sem hesitar.
Ele dirigiu pelas ruas em direção a minha casa, em um pequeno prédio perto da avenida principal.
- Chegamos - ele diz estacionando o carro em frente á construção.
Balanço a cabeça afirmando, então o homem a minha frente me puxa para um beijo. Ele beijava bem, não vou negar, e nossas bocas entraram em conexão em instantes. O beijo era rápido porém na velocidade certa para sentir meus pelos corporais se eriçarem. De início tente nos fastar mas depois de alguns segundos acabei me rendendo ao mais novo.
- Não vai me deixar entrar? - ele pergunta ofegante.
Bem, pelo menos naquela noite, não seria eu que acordaria na cama de um estranho.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Give Me One Second | Reddie (CONCLUÍDO)
Romance"Quando o passado se torna presente, é porque algo ficou pendente" Richard Tozier é um jornalista do The Boston News, sua vida era monótona o suficiente para se sentir sufocado pela cidade em que vivia mesmo que sendo uma grande. Como se o destino s...