6. Registros mentais.
Talvez eu tinha onze anos quando Robert Forbes me disse; Tenha cuidado com o que você pensa, pois a sua vida é dirigida pelos seus pensamentos. Questionei como uma criança curiosa o porquê de sua fala e também por qual motivo papai me dissera, mas não obtive nenhuma resposta até os dezesseis anos de idade. Descobri apenas que Rob era um bom mentiroso, aquela filosofia, ou seja lá o que fosse, vinha da bíblia sagrada, para ser mais exata no livro de provérbios; número quatro, versículo vinte e três. No entanto servia para algo, ou não estaria em um dos livros mais vendidos do mundo desde que fora lançada e traduzida.
Meus pensamentos eram negativos, pessimistas, melancólicos e minha vida estavam se dirigindo para todos esses estados. Minha negatividade surgia a todo momento, como por exemplo; minha escrita não é boa, minhas práticas estão longe de serem perfeitas, ninguém lerá os meus jornais e pela lógica, sempre acontecia. Meu pessimismo – o qual era basicamente igual a minha negatividade – era bem razoável, nada muito agravante, pois no fim nunca algo dava certo e eu me acostumara com isso. Já minha melancolia era incontrolável, todas às noites aquele sentimento de tristeza me invadia e com ela vinha pensamentos ruins, tais como; minha mãe não gosta de mim, ninguém quer conviver comigo, eu sou a esquisita solitária, papai somente me suporta. Esses sentimentos eram a base do meu bloqueio criativo, do meu bloqueio social, familiar e afetivo, entretanto não havia como pará-los ou eu sou fraca demais para fazê-lo.
O ranger da porta me fez despertar de meus pensamentos, ainda bem, mas eu não esperava que Jared aparecesse no clube faltando trinta minutos para os horários das atividades extracurriculares chegarem ao fim.
Era segunda-feira, numa tarde de outono, o clima não estava muito quente ou frio demais, abafado era o certo, e, Jared vestia uma bermuda com estampa de côcos e um moletom de tecido fino, aquilo denunciava a sua falta na escola, para os homens era contra as regras não usar calças jeans no patrimônio escolar.
— Você está bem? — questionou, arrastando seus chinelos para caminhar à mesa. Concordei, entortando os lábios em um pequeno sorriso. — Não parece. — ele tirou os óculos, revelando suas bonitas íris marrons. — Quer me dizer o que é? Quem sabe posso ajudar você. — e sorriu sem precisar abrir os lábios.
Senti minhas bochechas pegarem fogo e as inflei, pensando se diria ou não o porquê de estar cabisbaixa, entretanto a atitude inesperada de Jared me fez pensar e repensar que a melhor escolha seria contar para ele.
— Não consigo escrever nada — disse em um murmúrio. — e tudo que escrevo fica péssimo. — empurrei o caderno para que Jared lesse, no entanto ele não o fez, deu apenas um sorriso sabichão no lugar.
— Não se esforce tanto, faça outra coisa no lugar, deixe as coisas fluírem naturalmente. — esperei que o garoto desse sugestões para como fazê-lo, não era fácil deixar as coisas acontecerem do nada. — O que gosta de fazer? — no momento em que iria respondê-lo, ele continuou. — Menos escrever. — Jared sorria, enquanto eu mordia a parte interna de minha bochecha. — Pense, Alex.
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RUDIMENTAR
Teen Fiction[HISTÓRIA VENCEDORA DO WATTYS 2020] Dona de um excêntrico nome, Alex Kira era só mais uma colegial de tantas outras excluídas e massacradas por rótulos medíocres. Sendo desprezada por outros seres humanos, recebeu durante toda a vida instruções de s...