A marca que há em você

2K 294 285
                                    

O barulho da chuva ecoava pela casa, San se senta na varanda, observando as gotas se chocarem contra o vidro da janela, ele tenta se recordar da última vez em que brincou na chuva, tentando trazer boas memórias entre a solidão que sentia.
O menino avista a caminhonete de seu pai vindo ao fundo, ele se levanta, correndo para a porta da frente, em prestígio do longo tempo sem vê-lo.

Se sente completamente feliz em poder o ver novamente, pois passava maior parte do dia sozinho, tendo que cuidar de si mesmo. Tinha apenas sete anos, sua mãe não se encontrava mais entre nós, havia passado por uma dura luta contra um câncer, portanto, era criado apenas pela imagem paterna que tinha, e o mesmo trabalhava o dia inteiro.

San viu o homem entrar rapidamente na casa, correndo para o abraçar, ele fez o mesmo, retribuindo o carinho, contudo, o senhor parecia preocupado e seu olhar assustado.

– Filho, preste atenção, nós precisamos ir, pegue suas coisas. – o homem disse segurando o rosto do menino com as duas mãos.

– Nós vamos brincar na chuva, papai?

O senhor Choi ficou sem reação com a pergunta, seu peito doía por ter que mentir para San, mas tinha que fazer isso.

– Sim, querido, vamos brincar na chuva, vamos depressa antes que ela passe. – ele já arrastava a criança pelo tempo cinzento, molhando os cabelos negros de ambos até entrar na caminhonete.

O garoto passou o caminho pensando o quanto seria incrível brincar na chuva com seu pai, e que o mesmo estaria o levando para um lugar perfeito para isso, estava cheio de espectativas, mas não sabia que estava completamente enganado.

Os dois chegaram em uma clareira que parecia ser uma área de extração de madeira, estacionando o carro com pressa, logo puxando San pelo braço. O senhor Choi aproximou-se de um homem que tinha mais ou menos sua idade, atrás do mesmo havia outra criança, que parecia tão confusa quanto San.

– Eles estão vindo, eles nos acharam, me desculpe, é tudo culpa minha. – as lágrimas do desconhecido fundiam-se à chuva.

– Não é sua culpa, Jung, eu confio em você, você é e sempre será o meu melhor amigo. – o Choi Mais velho tentava acalmar o outro. – obrigado por ter aguentado todos esses anos cruéis comigo. – continuou.

– Queria poder ter aproveitado mais com você.

– Eu sei. – o Choi abraçou seu amigo.

Tiros já podiam serem ouvidos de longe, a criança atrás das pernas de Jung se escondia, assustado. Sem mesmo o conhecer, San segurou sua mão por impulso, esse era seu instinto. Instinto protetor.

– Filho, proteja ele, okay? – disse seu pai, dando um beijo na sua cabeça. San podia sentir o corpo do Choi mais velho tremer. – Eu te amo muito, sempre amarei, seja esse garoto que sempre se importou com os outros. Não tenha medo. Está tudo bem...

Antes que o Choi pudesse completar sua frase e antes que o Jung conseguisse se despedir de seu filho também, uma bala passou de raspão entre as cabeças do pai e filho.

– Está na hora. – o homem disse com certeza e firme.

Os garotos não sabiam o que estava acontecendo, muito menos quem eram, só sentiram quando a lâmina da faca do Choi entrou em contato com o braço direito de ambos, deixando uma cicatriz idêntica em ambos.

Homens com armas pesadas invadiam o local indo para tirar a vida de quem estivesse na frente.

– Eles irão se encontrar, eu tenho certeza, eles continuarão nossa história! – o Jung falou, antes de levar um tiro no peito, caindo de joelhos no barro.

– NÃO! – o pai de San gritava. – Eu te amo muito... – foram suas últimas palavras para o filho após empurrar os dois garotos da colina.

Enquanto caía, San viu seu pai ser morto com um tiro na cabeça. Ele queria brincadeiras na chuva, mas acabou brincando com a morte.

°°°

San acorda ofegante, seu peito dói por causa do pesadelo que tivera. Era mais do que um pesadelo, era uma das recordações que o assombrava. Pela primeira vez em anos, sentiu medo.

Levanta rapidamente ao notar que já estava atrasado, apenas soca seu kimono dentro da mochila e sai de casa, nem havia prestado atenção no que havia vestido, apenas colocou a primeira camiseta que viu no seu guarda-roupa, já que hoje fazia calor, deixando sua cicatriz no braço direito à mostra.

Se sentia cansado e seu corpo doía, não teve uma boa noite de sono. Chegou ao metrô segundos antes das portas do trem fecharem, portanto, teve que correr.

– Achei que você não viria.

Ainda ofegante, o ruivo olhou em direção de onde veio a voz, e para a sua surpresa, era Wooyoung.
Ambos se desmancham em um sorriso, contagiando o vagão.

– Desculpe por não ter te agradecido ontem, eu fui um completo babaca. – disse o loiro passando as mãos no próprio rosto.

– Não fale assim de si mesmo! Eu nem ao menos pensei nisso, e entendo que você tenha passado por um momento difícil, não espero nada em troca. Todo mundo merece um pouco de gentileza. – o ruivo disse sentando de frente para o outro.

– De qualquer forma, lhe comprei isto para me redimir. – disse entregando-o um chocolate. – eu não sei se você gosta, mas fui conforme meus gostos, porque se você não quiser, eu quero. – continuou, fazendo ambos rirem.

– Chocolate meio amargo... É o meu favorito! – Wooyoung até conseguia ver os olhos do ruivo brilharem, portanto, foram seus olhos que brilharam quando o menino partiu o chocolate no meio, dando metade para ele.

– Ei, não precisa, sério. – falou baixinho.

– Eu insisto, por favor. – o ruivo fez uma cara de cãozinho abandonado, então Wooyoung teve que aceitar perante aquela chantagem, queria apertar suas bochechas, mas se conteve.

O loiro ficou com calor, acabou decidindo tirar seu casaco, ficando apenas de camiseta.
San ficou em choque ao notar a cicatriz no braço do outro, era idêntica a sua. O Choi sentiu sua visão ficar curva, e a última coisa que viu foi o rosto preocupado de Wooyoung.

O garoto do trem - Woosan Onde histórias criam vida. Descubra agora