Meu inimigo é meu amigo

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Olá, este capítulo entrará no assunto da ansiedade. Caso você se sinta sensível à este assunto, peço para que não leia.

Be okay. (◠‿・)—☆

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{Parte narrada por Yunho}

Haviam se passado horas, ou até mesmo dias, a noção de tempo era inimaginável naquele lugar. Aquele chamado Ten – presumi que seja o nome do homem encapuzado – me alimentou apenas com feijão enlatado, uma única lata, por sinal.

Eu estava quase pegando no sono – ou melhor, quase desmaiando perante as condições em que eu me encontrava –, quando ouvi uma grande agitação vindo do lado de fora da sala. Um som de uma voz abafada tentava se comunicar desesperadamente, provavelmente por sua boca estar tapada sob um pano.

— Você me disse que havia o sedado.

— Sim, eu o fiz, havia uma dose para derrubar um elefante. Eu não sei o que deu de errado.

— Droga, Lucas.

Ouvi uma porta de ferro ser batida bruscamente, me dando um leve susto.

— Eu irei contatar o Taeyong, fique aqui.

— Eu não posso ir junto?

— Você já cometeu muitos erros por hoje.

Escutei passos pesados se alastrando pelo corredor, ficando mais distantes. Por um segundo, achei estar sozinho novamente, mas sussurros logo puderam ser ouvidos em frente a minha porta.

E-eu falhei, eu f-falhei com o Ten. E-eu falhei com o meu irmão mais velho. O que o Taeyong vai pensar de mim? E-eu não sou capaz de realizar essa missão. — ouvi seu corpo ser escorado na porta da sala onde eu me encontrava. — eu não consigo respirar.

Durante todos esses anos que convivi com o Wooyoung, eu aprendi muitas coisas, e uma delas – na qual foi extremamente necessária –, foi como localizar traços da ansiedade em alguém. E o homem que, com certeza ajudou no meu sequestro, estava tendo um ataque nesse momento.

Eu simplesmente queria ignorar e deixá-lo sofrer, mas eu não sou assim, eu não consigo fazer isso. Talvez eu seja fraco e totalmente manipulável, talvez se eu tivesse punho forte, o Mingi ainda estivesse comigo. De certa forma, ele lembrou-me meu melhor amigo, me fazendo sentir uma certa compaixão. Eu me odeio por isso.

— Lucas... Esse é o seu nome, certo? Eu quero que você preste atenção na minha voz, okay?! — eu disse, mas apenas recebi o silêncio como resposta. — eu quero que você conte até dez, calmamente, e logo depois, imagine um grande balão, o mais bonito que você conseguir imaginar. Agora eu quero que você o encha, e quero que você imagine ele ficando cheio aos poucos. — continuei, e quando eu achei que iria receber outro silêncio devastador, eu pude ouvir sua expiração, enchendo o grande balão imaginário.

— Você está indo muito bem, Lucas. — pronunciei, e pude ouvi-lo levantar do chão. Ele colocou a mão na trave da porta da minha sala, entretanto, hesitou e acabou por ir embora em passos largos.

"Novamente estou sozinho." Eu pensei, mas uma voz me questionou.

— Por que ajudou ele?

— Ótimo, agora estou ouvindo vozes. Deve ser sinal de que vou morrer logo. — eu disse.

— Eu estou na sala ao lado, idiota.

— Você também foi sequestrado?

— Sequestrado uma ova, eu sou bom demais para ser sequestrado tão facilmente.

— Acredito. — disse sarcasticamente, dando uma pausa. — enfim, qual o seu nome? — perguntei.

— Não vou dizer meu nome, eu não lhe conheço.

— Tá bom. — não irei questionar, com louco não se discute.

— Você não respondeu minha pergunta. Por que ajudou ele?

— Ele apenas estava precisando.

— Ele nos sequestrou!

— Eu sei.

— Saquei! Você está tentando o manipular para conseguir sair daqui!

— Talvez. — como eu disse, com louco não se discute. Embora nem eu saiba o porquê de ter o ajudado. Ele apenas... Me fez lembrar o quanto eu era feliz e não sabia.

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{Parte narrada por San}

Eu havia deixado Wooyoung em casa, insisti em perguntar se ele não queria dormir na minha casa, mas ele preferiu ficar um tempo sozinho, e eu respeitei a decisão dele, embora estivesse extremamente preocupado.

Estava chegando em casa, já segurando as chaves para abrir a porta da frente, quando ouvi passos atrás de mim. Por instinto – e já acostumado com tudo que vem acontecendo –, me virei, já em posição de luta.

Era um homem, mas de primeira não consegui ver seu rosto, não pensei duas vezes em recebê-lo com um golpe. Mas quem quer que fosse, era ágil, e segurou meu pulso com a maior facilidade, prensando meu corpo contra a porta da minha casa.

— Eu não vim aqui para te machucar, eu vim pedir sua ajuda. — Eu finalmente pude ver seu rosto. Era Seonghwa.

Seus olhos estavam fundos, parecia que não havia dormido nos últimos três dias, sua feição não era mais a mesma. Aquele ego inflado se esvaíra, eu estava vendo um Seonghwa de guarda baixa, e totalmente mergulhado em melancolia.

— Por que você não vai pedir ajuda para seus amiguinhos assassinos? — eu disse, empurrando seu corpo para longe.

— Porque você é a única pessoa que pode me ajudar nesse momento. — vi seus olhos ficarem marejados repentinamente. — Por favor... Meu marido foi sequestrado, eu estou desesperado. — ele curvou sua cabeça, escondendo as lágrimas que já caíam. Era a primeira vez que eu estava vendo alguém como ele se rebaixar e se humilhar na frente de um inimigo. Eu senti seu sufoco.

Algo veio em minha cabeça. Yunho e Yeosang desapareceram, de fato, era uma tremenda coincidência. Algo está totalmente errado, mas ao mesmo tempo, tudo interligado.

O Wooyoung precisa saber disso.


O garoto do trem - Woosan Onde histórias criam vida. Descubra agora