14.

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O dia foi ótimo, o dia tinha sido,

Incrível.

Ele e Clark comeram waffles, o que era incomum, pois Jack não tomava café da manhã, muito menos na sua casa. Ele ouviu música e sentiu o sol da janela da casa do amigo em seu rosto, jogou xadrez, um jogo que não jogava a tempos, encontrou o adulto no qual encontrou empatia, tomou milk-shake sem se preocupar com o depois.

Porém Jack tinha que voltar a realidade.

Deixar Kline sozinho com seus pensamentos era a receita perfeita para tudo desandar, e para melhorar, ou melhor, piorar, ele jogava drogas em seu prato, essa era sua ruína.

E ele amava saber que estava desaparecendo.

As vezes Jack se pegava pensando como seria ótimo se ele evaporasse.

Era legal sentir seu corpo a todo vapor, pular e sentir seus pés mexendo por eles mesmos com a música alta em seus ouvidos. Seu coração batia rápido, e sua vida parecia ser perfeita por alguns minutos, ele adorava sentir essa mentira.

Cocaína.

E quando os efeitos de falsa felicidade e euforia passavam, ele sentia o vazio o engolir por inteiro, e o colocar no escuro, sozinho e triste. E nessas horas ele sentia que era melhor pular a parte da depressão, então ele dormia, por muito, muito tempo.

Anti depressivos.

O garoto se sentia tonto, sentia seus olhos fecharem aos poucos, seus sentidos desligarem e tudo parar.

Era satisfatório saber que estava morrendo.

Era triste, era ruim, era moralmente errado, mas ele não ligava.

Às vezes Nick chegava em casa e encontrava ele naquela situação, caído, sonolento, confuso, e batia nele mesmo assim. Jack obviamente acordava, mas ele não conseguia falar, estava alto demais pra isso, muito menos reagir contra, porém muitas vezes ele ria, gargalhava até por estar sentindo dor.

Nick não entendia, mas sabia que não gostava. Essa era uma da causa dos seus infinitos machucados.

Bem, Nick largou Jack jogado no chão.

No chão sujo e gelado.

Enquanto isso, Jack que agora estava meio acordado, estava na sua trip de divagações. Ele estava suando, olhando para o teto.

Olhou para o lado e viu os cacos de vidro da noite passada. Ele via como se os vidros flutuassem, pingando sangue e sumindo no ar, como poeira.

Ele levanta, e fica de pernas cruzadas, e se olha no espelho. Seu rosto estava mudando, seus olhos azuis, eram completamente pretos, e sua pele derretia e se desfazia no ar se transformando em pontos de luz coloridas.

E no final, ele deitou de novo no seu chão caindo no sono.

Pobre Jack.

O dia chegou, a tarde também, eram 14:44 quando o loirinho despertou.

Achou estranho estar mais dolorido apesar de ter dormido no chão, o que era normal até, então lembrou de flashs do seu pai o agarrando e o batendo.

De novo foi até seu espelho, pela primeira vez desde que brigou com Nick, parou para ver seus machucados, seus olhos encheram de lágrimas, e ele deixou elas cairem, ele deu um soco na parede gritando para seu próprio reflexo.

Viu os cacos de vidro no canto da porta, ele pega um caco e começa a se mutilar. Nas coxas, nos tornozelos, e ele repetia uma mantra com si.

- É tudo culpa sua, tudo culpa sua, tudo, você é um inútil! - Até que um dos cortes foi feito fundo demais em seu pulso. Ele viu o sangue descer e começou a entrar em desespero.

Por um segundo pensou em ligar para Clark, mas ele não queria que o amigo visse dessa forma. Ligar para Nick? Não era nem opção.

Pegou um pano qualquer e enrolou no braço.

E mais uma vez ele teve que correr, correr demais. O hospital não era longe, mas também não era perto de sua casa. Jack sabia que não era uma boa ideia, hospitais normalmente não recebiam suicidas bem.

Jack chegou eufórico no hospital, ele parecia desorientado, sua respiração estava descompensada, seu rosto ainda estava molhado de lágrimas, parecia uma criança assustada.

Uma infermeira viu que ele estava segurando o braço com um pano e já tinha entendido o que tinha acontecido.

- Oi, qual seu nome?

- Bel-belphegor..

- Tudo bem, quantos anos você tem?

- 16.

- Vem comigo. - A infermeira conduziu ele até uma sala fechada. Jack senta na cadeira branca reclinada, com a cabeça claramente uma bagunça ele nem processa o que estava acontecendo.

- Meu nome é Miranda. Não sei se é do seu interesse, mas temos um psicólogo aqui, você deveria passar lá e ver ele. - Miranda falava com calma enquanto fazia uma sutura no pulso de Jack. Ela não percebeu que Jack a encarava. - Tudo bem? - Até agora.

- Tá... Tudo bem. - Miranda infelizmente lembrava Kelly, em seu sorriso, em como ela falava, seus olhos, não era culpa dela, porém aquilo fazia Jack sentir a ausência da mãe. - Deveria ficar com essa pessoa.

- O que?

- Mas ele te magoou, eu sinto muito por isso. - E mais uma vez, quase que involuntariamente Jack começa a fazer uma dedução.

- Como... Como você sabe disso?

- Seu rimel tá borrado e seco, então faz mais de um dia, você cheira a um perfume forte mas nem tanto, seu cabelo tem um penteado se desfazendo, você teve um encontro. Você fica olhando para o seu dedo, e tem uma marca de anel, vocês se separaram, e quando eu disse que deveria ter ficado com ele, você contorceu o rosto em tristeza. É assim que eu sei... - Miranda olhava impressionada com o que Jack dizia, ele era um observador em tanto.

- Tudo bem criança, corações partidos se curam.

- Obrigado. - Jack olhava para o braço limpo e com pontos, e agradeceu a Miranda.

- Se cuide loirinho. A vida é preciosa. - Miranda pegou na mão de Jack torcendo silenciosamente para que ele não aparecesse mais naquelas circunstâncias naquele hospital.

Apenas 16 anos, que poderia ter acabado em poucos minutos se ele resolvesse não ir no hospital.

Jack saiu andando de lá, com vergonha, como ele ia explicar os machucados para Clark? Para Jim? Para o seu pai... Aquele tinha sido o mais grave de seus ferimentos.

Jack estava quebrado.

E era assim que se acostumou a ser.

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