Capítulo 11 🎲

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Isso não era nada bom. Segunda vez em tão pouco tempo sendo chamada a presença de meu pai e isso fazia meu coração bater mais rápido. Não sabia o que iria acontecer, mas tinha certeza que não era positivo.
Ao sentar novamente naquela cadeira de couro e olhar para frente, senti meu estômago revirar. Seu rosto frio e calculista representava a definição de desgosto para mim.

– Você deve saber porque estamos aqui, Yezi. – Meu nome era dito com tanto nojo que chegava a me trazer sentimentos ruins. Não poderia ser tão grave, poderia?

– Por...? – Prolonguei o final da palavra. Não sabia onde aquilo iria chegar, eu só não estava gostando.

– Você tinha feito um movimento admirável, que até mesmo desconfiei de ter sido ideia sua sozinha, já que foi esperto. Diferente de você. – Ele falava enquanto gesticulava com as mãos em cima da mesa. Não tinha capacidade de encarar seu rosto e mantive os olhos baixos, em suas mãos, notando que ele tinha um anel prateado com um desenho de escorpião no dedo mindinho. E a aliança na mão esquerda. Era irônico que eu nunca tive tempo o suficiente com ele para perceber coisas tão simples.

– Eu fiquei impressionado, achei que você realmente poderia conseguir. Mas não foi isso que aconteceu. – Ele deu uma pausa dramática. – Parece que isso tudo foi só mais uma desculpa esfarrapada para você, não é?

O seu tom se elevava junto com a sua raiva e eu não tinha coragem de responder. Ele explodiu.

– Como pensa que está fazendo progresso se o seu queridinho anda por outros domínios atrás de mulheres?

Ao contrário do que possa ser comum, sua raiva não era feita a partir de gritos. Ele estava acostumado com adrenalina e fazia seu tom soar bem mais pesado que isso. De alguma forma, ele falar sem se descontrolar e baixo era mais assustador do que se estivesse batendo na mesa e com raiva.

– Eu fiz isso tudo por você, Yezi. Eu pensei que você fosse mais capaz do que isso. Pensei que iria conseguir. Parece que estava errado. O filho do Senhor Min que o diga. – Ele deu uma risada amarga.

E então tudo se conectou e fez sentido em minha cabeça. Eu não poderia nem lhe responder, dizer que eu era a mulher que Yoongi estava junto naquele dia. Se descobrissem que eu estava no domínio dos inimigos do meu pai, aí sim eu estaria sem morta em instantes. Seria pior. Continuei em silêncio, apertando as unhas contra a palma das mãos.

– Sinceramente, não espero mais nada vindo de você. Não deveria ter confiado em sua fajuta mudança ou plano de me enganar. Isso acaba por aqui, Yezi. Chega da sua mãe reclamando, chega de esperar. Agora quem vai decidir isso sou eu. Você está proibida de sair dessa casa e vou marcar mais três encontros para você. O homem que me fizer a melhor proposta e demonstrar melhores negócios vai se casar com você. E ele continuará com o meu legado, ao contrário de você, inútil, que só serve como parasita escorado e se esquiva das suas responsabilidades.

– Mas... – Não tive tempo de formular uma frase.

– Chega. – Ele me interrompeu, sua feição pior do que antes, levantando-se da mesa. – Basta das suas desculpas esfarrapadas. Já deixei você viver muito tempo dessa forma descuidada. E agora é sério.

Isso era o fim. Ele caminhou para fora da sala, sem se despedir. A minha vida era resumida assim, sem tempo de nem mesmo protestar. O meu destino estava traçado com um homem velho e gordo qualquer e um mar de infelicidade a minha frente. Em pleno século XXI eu estava sendo ofertada como um pedaço de carne. Como alguém poderia ser tão mesquinho ao ponto de não perceber o quanto estava me prejudicando?
Ao sentir meus olhos arderem contra vontade, eu saí do escritório, sem ligar para os meus passos bruscos, peguei minha bolsa e saí sem me importar com o que estava em minha volta ou qualquer restrição que tenha ganhado.
Peguei o isqueiro na bolsa e tentei acender um cigarro. Só nesse momento de desespero pude perceber o quanto minhas mãos estavam tremendo, talvez tenham tremido desde o início da conversa com o meu nervosismo, quase sem conseguir segurar nada. Tentei me controlar e colocar entre os lábios, para diminuir os meus problemas. O dia mal tinha começado e já estava sendo uma merda.

...........

Quando cheguei no apartamento de Chanyeol, fui recebida com tosses falsas e exageradas.

– O que é esse cheiro alarmante de morte, virou uma chaminé humana? – Ele continuava com seus sons irritantes de ânsia e eu me controlava para não me render a raiva crescente em mim.

– Não tenho paciência para essa merda agora. – Tirei os sapatos e segurei o cigarro em uma mão, já tinha acabado com o maço até chegar ali. Abri o armário das bebidas e peguei uma garrafa de vodka.

– Vamos com calma aqui. – Os quase dois metros de desastre ambulante ficaram alarmados, ele parecia receoso, mas não sabia como agir. – É... Sem cigarros na minha casa. E cuidado com essa garrafa, ela é importada.

– Tanto faz – Apaguei a bituca na bancada de pedra e tomei um gole da garrafa.

– Meus armários! – Ele reclamou gritando e correndo para a cozinha, tirando as cinzas de cima da pedra. – E minha bebida também! – Ele tentou pegar, mas eu me afastei.

– Vamos lá, Yezi, o que tá acontecendo?

– Nada que importe muito. Uma coisa que é extremamente desnecessária. Posso só ficar quieta em paz e longe da realidade com você me fazendo companhia? – Tomei outro gole, limpando o resto na manga do casaco preto.

– Bem, mas é importado... – Ele lamentou, sem querer me contrariar.

– Eu te pago outro, isso é o de menos. – Espremi os olhos e fiz pouco caso. – Nós vamos nos divertir hoje. Pegue algo para você também.

– Você já tá com a vodka mesmo... – Ele falou ressentido, mas derrotado, pegando uma garrafa de soju do mesmo armário. – Qual enterro estamos comemorando?

– A minha vida, Chanyeol. A minha maldita existência. – O gosto na minha boca amargou de repente, mas não me importei. Voltei a beber mais, quase me agradando com a sensação de queimar minha garganta.

– Tudo bem então. Um brinde a sua maldita vida, ou qualquer coisa que seja. – Ele bateu a garrafa de leve na minha e gritou saúde, como o idiota que ele era. Sorri por poucos segundos, por me divertir com aquele menino. Minha expressão fechou ao lembrar do motivo da comemoração.

– Anote o que eu digo, hoje vai ser o dia mais foda da nossa existência. – Proclamei, tossindo com o álcool dançando em minha língua enquanto a luz do sol incomodava meus olhos pelas janelas.

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