As coisas se tornaram um tanto mais complicadas quando a suspensão de Harley e sua gangue acabou e os três retornaram para a escola. Adam James não estava mais lá, seus pais haviam o transferido para outra escola depois do ocorrido, mas não era como se não tivessem outros colegas para o trio importunar. E o tempo que ficaram longe da escola pareceu ter recarregado suas baterias, pois eles voltaram piores do que nunca – e sem nenhuma vergonha do que tinham feito.
Nicolas ficou apavorado quando viu o garoto despejar a lata de lixo em cima de um colega, colocar chiclete no cabelo de uma das garotas e amedrontar um garotinho no banheiro. Ele também respondia para o professor, colocava os pés em cima da classe e dormia a aula inteira, não dando a menor importância para o que tinha vindo fazer ali – estudar. E seus amigos eram da mesma forma, tinha certeza que todos eles iriam repetir de ano se continuassem daquele jeito.
O ceifador tentou impedi-lo de fazer aquelas coisas, aliás. Cada vez que via o garoto indo aprontar algo, gritava e tentava contê-lo, mas Harley fingia que não o escutava e fazia mesmo assim. Ele até mesmo havia erguido sua foice na direção dele para assustá-lo, mas o garoto já sabia que ele não a usaria contra ele, então não ligava. Chegou a um ponto em que o ceifador não aguentou mais, que vê-lo fazer aquelas coisas o machucava e o deixava ainda mais longe de sua salvação, então ele simplesmente se rendeu e o deixou para trás. Quando Harley acordou de uma das milhares de sonecas do dia, Nicolas não estava mais ao seu lado.
Já tinha anoitecido quando o garoto voltou para casa, depois de passar o dia na casa abandonada fazendo uma porção de inutilidades com seus dois amigos. Por algumas horas, até tinha esquecido de como era ter um ceifador que ninguém mais via sempre ao seu redor, sobre como precisava se esforçar para fingir que ele não existia e lutar contra a vontade de bater nele quando o importunava. No entanto, assim que chegou em casa, o encontrou sentado do lado da porta da frente, o rosto apoiado nos joelhos em sua posição típica.
- Achei que tinha voltado para a sua casa – o garoto brincou enquanto abria a porta com o código.
- Eu não posso voltar, já te falei – o ceifador resmungou – Estou preso com você por seis meses.
Harley abriu a porta e o deixou entrar, enquanto ligava as luzes da casa e subia para o quarto. Seus pais ainda não tinham chegado, como sempre, mas ele preferia mil vezes assim. A ausência deles significava que ele não seria recriminado.
Mas Nicolas não estava de bom humor, não depois de tudo o que tinha visto naquela manhã, então a presença dele ali era ainda pior que a de seus pais, foi o que o garoto logo descobriu. O ceifador havia respondido todas as perguntas dele com resmungos e de forma grosseira, o que o fez explodir depois de meia hora daquilo.
- O que eu te fiz, hein? – perguntou – Parece que você está com o demônio no corpo.
- A mim? – o ceifador revidou – E o que você fez com todas aquelas pessoas essa manhã?
- Eu não fiz nada de mais, ok? – ele deu de ombros – Não é tão profundo assim.
- Não é profundo? – o ceifador estava incrédulo – Pode não ser para você, mas definitivamente é para aquelas pessoas.
- Mas eu não ligo – Harley resmungou – Ninguém liga para mim, por que eu devia ligar para os outros? Se eles se sentem ofendidos com o que eu faço, não é meu problema. Eu só estou brincando.
Nicolas abriu a boca para revidar, mas nenhum som saiu dela, já que ele estava completamente chocado. Aquilo era a coisa mais absurda que já tinha ouvido em toda a sua existência e tinha vontade mesmo de pegar sua foice, acabar com a vida dele e jogá-lo direto no inferno, se assim fosse possível. O que seu chefe tinha em mente quando lhe propôs algo tão absurdo? Será que desde o início eles sabiam que ele jamais conseguiria transformar aquele garoto e então poderiam jogá-lo no inferno sem sentir culpa?
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Meu Querido Ceifador
ФэнтезиHarley Deen é considerado um dos piores alunos da escola, pratica bullying com os colegas, tira notas baixas e não respeita os professores. Seus maus atos não parecem ter fim, até que uma de suas vítimas resolve se vingar, tirando sua vida. Ou pelo...