Quando Nicolas chegou em casa, o céu já tinha escurecido e Harley estava sentado diante do computador, trabalhando em algo para a escola. Assim que viu o ceifador entrar, ele o encarou surpreso.
- Por onde você andou? – perguntou – Estranhei chegar em casa e não te ver aqui.
- Dylan me convidou para passar a tarde com ele – explicou – Nós ficamos jogando um novo jogo que ele comprou, e eu fui tão bem que acho que não preciso mais ser "café com leite".
- Ah, é? – o garoto ergueu as sobrancelhas e deu uma risadinha.
- E o seu almoço com o Jamal, foi tudo bem?
Harley olhou sério para ele e então suspirou.
- Eu preferia ter almoçado com você.
- Então por que você não fez isso?
- Porque você me disse pra ir com outra pessoa ao baile.
Nicolas sentou na cama dele e o olhou com um tanto de cansaço.
- Por que você não entende que eu fiz isso porque eu gosto tanto de você que eu estou disposto a abrir mão do meu bem-estar? – explicou.
- Mas eu não quero que você abra a mão do seu bem-estar – o outro revidou – Eu quero que você seja egoísta, eu quero que diga que eu sou só seu.
- Só que eu não sou assim – o ceifador revidou também – Eu não sou egoísta. Por que você quer que eu seja uma pessoa diferente?
- Porque isso me deixa irritado!
- Ótimo, o jeito que você tem agido me deixa irritado também.
Os dois olharam um para o outro e então Harley pegou o casaco em cima da cadeira e disse que ia dar uma volta porque precisava ficar sozinho. Nicolas se atirou para trás e afundou no colchão, se sentindo tão irritado que queria chorar. Naquele momento, ele não queria mais seguir o plano de Dylan, não queria fazer uma surpresa legal ou nada assim. Ao invés disso, queria devolver o frasco com o elixir para seu chefe, só que sabia que iria se arrepender.
Mas então ele pensou... Essa foi a primeira vez que brigou com alguém. Quando estava vivo, ele nunca havia retrucado quando alguém falou algo que ele não gostou e ele também nunca impôs sua vontade daquela forma, ele sempre foi aquele que se sujeitava ao que os outros queriam.
"Tudo está diferente agora", foi o que ele pensou enquanto sorria. A forma como Harley não apenas havia o aceitado em sua vida como também dado a ele tantas experiências bonitas fez com que ele se abrisse mais, com que confiasse mais, com que se tornasse uma pessoa corajosa que fica firme em suas vontades. Por causa dele se sentia diferente e a única coisa na qual pensava era no quão grato ele estava.
Harley havia contornado o parque e sentou em um balanço debaixo de um poste de luz. O parque estava completamente vazio agora, o que era bom, já que ele podia pensar em silêncio. Nos últimos dias, não vinha gostando das coisas que sentia, das coisas que falava e das reações que tinha. Mas ao mesmo tempo não conseguia evitar se sentir magoado com toda a situação.
No fundo, sabia que a culpa era sua por esperar comportamentos determinados das outras pessoas. Queria muito que Nicolas tivesse crises de ciúme, que fosse possessivo, que não o deixasse sair com ninguém. Não gostava da bondade e da compreensão dele, queria ser amado e desejado ao extremo e sabia que isso não era o certo, mas o deixava feliz. Porque nunca ninguém antes havia gostado dele dessa forma, então ele queria que tudo fosse muito intenso.
Mas o ceifador não era assim, como ele mesmo disse. Por que queria muda-lo? Por que queria que ele agisse diferente? No fim das contas, ele não gostava dele do jeito que ele era?
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Meu Querido Ceifador
ФэнтезиHarley Deen é considerado um dos piores alunos da escola, pratica bullying com os colegas, tira notas baixas e não respeita os professores. Seus maus atos não parecem ter fim, até que uma de suas vítimas resolve se vingar, tirando sua vida. Ou pelo...