Uma tarde na piscina

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Lucas era muito difícil de se livrar, como Harley logo descobriu. Ele não apareceu mais em sua escola, mas conseguiu o telefone do garoto e toda hora mandava alguma mensagem. No início, ele decidiu que iria ignorá-lo para ver se ele se ligava, mas aparentemente seu meio irmão tinha um jeito de pensar muito diferente e as mensagens continuaram chegando mesmo assim. Dois dias depois, quando já não aguentava mais e Nicolas estava morrendo de pena do garoto ignorado, ele finalmente decidiu responder. E isso levou a uma enxurrada de textões, fotos e tudo o mais. Para alguém que tinha um jeito tímido e que não sabia falar verbalmente por conta de sua surdez, Lucas falava pelos cotovelos por mensagem no celular.

Nicolas, assim como o esperado, era o que mais conversava com ele. Os dois trocavam mensagens o tempo todo, estando o ceifador muito curioso para saber sobre como ele via fantasmas e outras entidades do tipo e muito intrigado com suas histórias. Foi por esses dias que Harley, cansado de perder o celular para as mãos do ceifador, comprou a ele seu próprio aparelho. Em todos esses meses, Nicolas nunca havia sentido a necessidade de ter um celular, afinal de contas ele sempre estava com Harley pessoalmente e roubava o celular dele quando queria falar com Dylan. Mas agora ele estava com um aparelho todo para ele em suas mãos e as infinitas possibilidades que ali existiam o deixavam muito surpreso.

- Os celulares não eram nada parecidos com isso na minha época – comentou enquanto abria cada um dos aplicativos para ver do que se tratava – obrigado.

Ele beijou o garoto na bochecha e o apertou com força em seus braços, antes de voltar a mexer em tudo que via no aparelho. Duas horas mais tarde, Harley estava começando a se arrepender de ter feito aquilo, já que o ceifador estava conversando com Dylan e Lucas ao mesmo tempo e parecia que aquelas conversas nunca teriam um fim.

- Você é realmente como todos os adolescentes dessa época, né – resmungou – Já trocou o seu namorado por um celular.

- Desculpe – Nicolas fez bico – Eu vou te dar toda a atenção do mundo meu namorado lindo e maravilhoso, melhor pessoa que já pisou nesse planeta.

Ele jogou o celular na cama e foi sentar em seu colo, para bajulá-lo um pouco, mas o garoto estava firme em sua carranca. As coisas ficaram ainda mais complicadas quando Nicolas sugeriu que Lucas fosse passar o sábado ali na casa dele, alegando que ele era muito sozinho.

- Ele não é sozinho – Harley resmungou – Ele tem o pai que eu nunca tive...

- Mas, você tem amigos da sua idade, e você tem a mim... – o ceifador fez bico de novo.

O garoto olhou para ele perplexo.

- Por que você faz isso comigo?

- Porque o Lucas fala de você o tempo inteiro – respondeu – Ele gosta muito de você mesmo te conhecendo muito pouco, e porque você ainda não se deu conta do mais importante.

- O quê? – o garoto revirou os olhos.

- Ele é a primeira pessoa da sua família que realmente gosta de você.

Harley olhou de volta para ele e não soube o que responder, como se as palavras tivessem ficado presas em sua garganta. Aquilo não era mentira... Lucas era mesmo a única pessoa que já tinha demonstrado algum interesse nele naquela família. O que Harley não gostava era da forma como Deus ou o universo ou sei lá o que havia orquestrado tudo aquilo, por que a pessoa a gostar dele tinha logo que ser aquele garoto? Logo o filho que seu pai teve em uma relação nojenta como aquela? Por que tinha que ser o filho de uma traição?

Mas então também... Qual era a culpa dele em tudo aquilo?

Aqueles questionamentos vinham torturando Harley desde o dia em que o garoto apareceu de forma súbita em sua vida. Ele vinha considerando seu eu antigo, aquele que odiava todo mundo, que tinha fechado o seu coração e que nunca achou que seria capaz de amar. Seu eu antigo nunca aceitaria Lucas, nunca ficaria perto de alguém como ele e o desejaria todo o mal do mundo. Seu eu antigo provavelmente acharia que ele tinha que sofrer o mesmo que ele sofreu, que merecia passar por toda a dor que um dia ele também sentiu – e que às vezes ainda sentia. Mas, seu novo eu...

Meu Querido CeifadorOnde histórias criam vida. Descubra agora